MÚSICA

Karol Conká em Urucum, novo disco de estúdio

Divulgação

Entrevista

Karol Conká: ‘Transformei dor em arte. Urucum é um disco terapêutico’

Rapper de Curitiba lança novo disco nesta quinta-feira (31), o primeiro pós-BBB. Ela diz que deu espaço para suas diferentes personas: 'Deixei a Jaque Patombá cantar, a Karoline, a Karol Conká, a Mamacita...'

Nicolle Cabral
Nicolle Cabral

Serenidade, introspecção e aceitação são alguns dos adjetivos que podem resumir o processo de Karol Conká ao preparar um novo disco. Nesta quinta-feira (31), às 21h, ela lança Urucum, terceiro álbum da carreira, que sucede o impactante Batuk Freak (2013) e o íntimo Ambulante (2018).

Ao lado do DJ e produtor musical baiano RDD, o Rafa Dias do grupo baiano Àttøøxxá, Karol Conká processou a onda turbulenta que se iniciou após protagonizar uma das edições mais marcantes do Big Brother Brasil, em 2021. A rapper paranaense, que entrou favorita e amada pelo público, foi eliminada do reality show da Globo com rejeição recorde (99,17%).

Mas tudo isso passou. Após viver o intensamente o BBB21, Conká encontrou refúgio na música, onde pôde se desprender de julgamentos alheios e do tribunal da internet. Assim, nasceram as onze faixas do disco que chega às plataformas digitais.

Karol Conká e WC no Beat

Assista ao clipe de Louca e Sagaz

A música é uma parceria com o produtor WC no Beat

Em entrevista à Tangerina, Karol Conká abre o jogo sobre os processos de composição, elogia a sintonia criativa com RDD e explica o que está por trás da capa de Urucum. Leia a seguir:

Pós-BBB

Como foi o processo de assimilar a Karol que você sentia ser no BBB com a que você viu após sair do programa e aquela que as pessoas estavam dizendo que você era?

Foi um pouco confuso para mim. Porque era muita gente falando. Chegou uma hora que as pessoas falavam coisas que já não encaixavam com o que eu vivia e sentia. Foi a terapia que me ajudar a entender e não me perder no meio daquela turbulência toda.

Em Calma, inclusive, parece que você tinha acabado de sair de uma sessão de terapia. Daquelas que a gente precisa para se olhar com carinho, tranquilizar a cabeça de várias inquietações. Como você conciliou esse processo de conceber um novo disco enquanto lidava com questões profundas sobre sua personalidade? 

O processo de produzir o álbum foi terapêutico e somou com a terapia em si, com as sessões que eu fazia. Então, produzir este álbum não foi difícil, para mim. Foi muito fácil, porque não me senti pressionada e nem cobrada para entregar um álbum. Eu o fiz porque era minha válvula de escape, era o meu refúgio naquele momento. A música é para onde eu sempre corri quando me sentia vulnerável. 

Parceria com RDD, cabeça dos hits de Àttøøxxá

A união com o Rafael Dias parece ter sido fundamental para você entender como o disco deveria soar, até pelo mix de gêneros e elementos. Como que vocês chegaram no conceito de Urucum?

O conceito de Urucum foi orgânico, intuitivo e natural. Justamente pelo RDD ser um produtor baiano, que trabalha com referências brasileiras e afro-brasileiras. Eu também, há muito tempo, trabalho fazendo referência à cultura africana, brasileira e afro-brasileira. Então, foi natural a nossa junção. A gente não encontrou dificuldade nenhuma no processo criativo, porque foi tudo muito natural da nossa parte, algo que já está na nossa veia artística. Foi muito satisfatório trabalhar com uma pessoa que pensa como eu.

Quais são as pesquisas musicais que constroem Urucum? Quais foram os artistas, discos ou ritmos que te martelaram na hora de fazer o álbum?

Interessante, mas nenhum… Neste disco, nós não tivemos, assim, uma pesquisa ou uma referência direta a algum artista, alguma obra. Todas as canções foram feitas no improviso, na intuição mesmo. E a nossa inspiração veio através das minhas experiências, do que eu já tinha vivido, e dos trabalhos anteriores.

Karol Conká posa para foto de divulgação de Urucum

'As canções de Urucum foram feitas no improviso, na intuição', conta Karol Conká

Divulgação

Acho que, desde criança, por ter bastante referência musical em casa, na família… A gente não sabia bem ao certo o que ou qual seria o ritmo que íamos trabalhar. Foi como se eles já estivessem ali, sem a gente precisar falar nada. Foi muito legal, interessante e curioso também. Na hora que eu disse “ficou pronto”, a gente parou e pensou: “nossa, tem de tudo um pouco neste álbum”, e é assim que eu me sinto. Tem de tudo um pouco na minha personalidade, na história da minha vida. 

Muitas músicas foram escritas na hora, conforme o RDD te mostrava os beats, certo? Você achou mais fácil produzir assim? Como era o clima das gravações? 

O clima da gravação era muito legal, era terapêutico. Eu falo muito disto, porque eu estava vivendo uma turbulência real dentro da minha cabeça e fora. Então, a sensibilidade do RDD foi essencial para extrair o meu melhor, enquanto eu vivia o meu pior. Então, o clima era de descontração, muito respeito, acolhimento e verdade. Com isso, foi possível me sentir confortável e à vontade para mergulhar em outros estilos e explorar o meu vocal.

Mergulho nos processos criativos

As composições surgem como um rebote bastante confessional diante de todas as inseguranças e questões que você precisou lidar após sair do BBB. Como que você se sente colocando para fora um disco como este?

Me sinto aliviada. Principalmente pelo fato de ter conseguido transformar minha dor em arte. Foi um processo que, ao mesmo tempo que me deixava forte, me dava mais clareza. 

O que difere Urucum dos outros projetos? 

O álbum tem mais intensidade. Tem mais cor, tem verdade. É um álbum que convida os ouvintes a se enxergarem e a mergulharem na profundidade das sensações, das suas verdades.

Teve alguma canção que você achou mais desafiadora de fazer? Por quê? 

A faixa Você Não Pode. É uma música mais imponente, ela destoa de Calma. E o curioso é que no processo criativo deste álbum eu deixei as personas que compõem a minha personalidade falarem, cantarem, escreverem. Deixei a Jaque Patombá cantar. Deixei a Karoline, deixei a Karol Conká, a Mamacita… Isto trouxe potência para o álbum. Eu deixar as várias personas fazerem as pazes com elas mesmas e deixá-las livres para desabafar o que elas pensam. 

A capa do disco também é super imponente e bonita. Como você chegou nela? 

Escolhi a Almanegrot para fazer, porque ela tem uma sensibilidade artística incrível e ela fez a minha capa de Ambulante. Fomos até premiados com aquela capa. Chamei uma mulher negra novamente, por a gente já se conhecer, ter uma amizade e pela sensibilidade dela também. Eu sabia que a Alma ia trazer o conceito que eu não conseguia verbalizar. 

Capa do disco Urucum, terceiro da carreirra

Segundo a artista, a capa faz uma alusão a Medusa, vilã da mitologia grega

Divulgação

Estávamos fazendo as fotos e, na hora, já entendi todo o conceito. Falei: “Cara, isto aqui é uma Medusa”. Aquele adereço no rosto simboliza as camadas da personalidade e o semblante afetado pelo processo de cancelamento vivido em 2021. A Medusa é uma das maiores vilãs, e eu, por ter sido considerada uma vilã, ter parado o país em um paredão histórico do reality… Então, fica essa reflexão da capa, da paralisação. Do olhar para refletir sobre as camadas que nós temos.

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Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.

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