MÚSICA

O produtor Luiz Oscar Niemeyer cumprimenta o cantor Elton John

Arquivo pessoal/Luiz Oscar Niemeyer

Lista

8 grandes histórias de Memórias do Rock, livro de Luiz Oscar Niemeyer

Produtor fundamental do showbizz brasileiro tira da memória lembranças marcantes ao lado de nomes como Kurt Cobain, Paul McCartney, Rolling Stones e até princesa Diana

Maurício Gaia
Maurício Gaia

Rock in Rio, Hollywood Rock, Rolling Stones em Copacabana, U2, Stevie Wonder, Elton John (foto acima)… a lista é enorme e todos eles têm um nome em comum: Luiz Oscar Niemeyer, o produtor que esteve ligado a shows e festivais realizados no Brasil a partir da década de 1980.

Niemeyer (sim, ele é sobrinho do famoso arquiteto) aproveitou este tempo de pandemia e resolveu contar suas histórias no showbiz no livro Memórias do Rock (editora Francisco Alves), que teve seu lançamento feito na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro, semana passada.

Se você não sabe, nem sequer pressente, até o ano da realização do primeiro Rock in Rio, em 1985, shows internacionais no Brasil eram raridade: Alice Cooper, ainda nos anos 1970, Queen (1981), Van Halen (1983 —este que vos escreve estava lá), Police (1981) e Kiss (1983), e só, basicamente.

Os motivos eram vários: calotes, infraestrutura (palco, som e luzes) ruins, a distância, etc e tal. A partir do evento criado por Roberto Medina, a coisa começou a mudar. E Luiz Oscar Niemeyer teve um papel fundamental neste processo, ao longo dos anos.

Selecionamos algumas histórias contadas por ele ao longo das 226 páginas do livro:

Rock in Rio

Luiz Oscar Niemeyer trabalhava como diretor de promoções na Artplan, de Roberto Medina. Em 1984, Roberto apresentou a ideia de fazer o festival. Ele conseguiu patrocínio, local de realização (um terreno na Barra da Tijuca onde, anos depois, foi construída a Vila Olímpica para os jogos de 2016) e um acordo com a TV Globo para a transmissão. Faltava, então, convencer os artistas estrangeiros a virem para o Brasil. 

Na época, não existiam celular, internet, email, nem sequer fax (você nem sabe o que é fax, né?). O jeito para fechar esses negócios era pegar um avião e fazer reuniões presenciais. Então, foi em Nova York que aconteceu a primeira reunião com o empresário do Queen, que tinha boas recordações de sua passagem pelo Brasil, dois anos antes. 

O negócio foi fechado, mas com duas condições: que o produtor do festival fosse o mesmo da banda, assim como a iluminação central do palco. Este acordo abriu as portas para que bandas como Iron Maiden, Scorpions, AC/DC, Yes, entre outros, topassem participar da primeira edição do Rock in Rio.

As toalhas de Rod Stewart

O showbiz é cheio de histórias de exigências extravagantes de artistas. Uma dessas, que entrou para o folclore do Rock in Rio, foi o pedido de 200 toalhas que Rod Stewart fez para sua apresentação em 1985. Amin Khader (sim, ele), coordenador dos camarins, teve que percorrer diversos hotéis na cidade buscando as tais toalhas.

Kurt Cobain pulando varanda

Já fora da Artplan, Luiz Oscar Niemeyer foi convidado para participar do projeto Hollywood Rock, festival que, durante muito tempo, ocupou o espaço deixado pelo Rock in Rio (que só teve sua segunda edição em 1991 e a terceira em 2001). Entre 1988 e 1996, foram sete edições, com diversas atrações nacionais e internacionais, mas a participação do Nirvana em 1993 acabou sendo histórica. 

A banda estava no auge mas Kurt Cobain não era psicologicamente preparado para a vida de excessos que a fama lhe proporcionou. Para complicar, as brigas com Courtney Love eram frequentes. No Rio, ela arremessou todas as roupas de Cobain pela janela do hotel. Apavorado, ele atravessou de uma varanda para outra, indo para o quarto do lado. No 20º andar.

No palco, aconteceu de tudo: os músicos resolveram fazer uma jam session, estourando o tempo previsto para o show, Kurt se masturbou na frente de uma câmera de TV, esculhambou o patrocinador do evento e houve quebra-quebra. O público delirou, mas a produção do festival ficou de cabelos em pé. 

Paul in Rio

Paul McCartney posa para foto no Brasil ao lado de Alice Sant'Anna e Luiz Oscar Niemeyer

Luiz Oscar Niemeyer quase criou uma confusão com Paul McCartney por conta de um pôster de show

Arquivo pessoal/Luiz Oscar Niemeyer

Era para ser “The Beatle in Rio”. O pôster já estava pronto e Luiz Oscar estava em Boston para, entre outras coisas, apresentá-lo a Paul McCartney. Mas o diretor da turnê disse “nem mostra, ele não vai aprovar isso de jeito nenhum”. Bom, o evento virou “Paul in Rio”, reuniu 184 mil pessoas no Maracanã e entrou no Guinness Book of Records —como o maior público pagante em show, até então.

Anos depois, em Londres, Luiz Oscar entrou na sala deste diretor da turnê e encontrou o poster recusado na parede. “Paul não podia ver, mas o pôster é bom demais”, foi a resposta que ele ouviu.

Uma pequena pausa

Entre tantas histórias envolvendo produção de grandes shows e eventos, Luiz Oscar Niemeyer encontra espaço, no livro, para contar um pequeno causo sobre a realeza britânica.

Certa vez, ele foi convidado para assistir a um concerto de Luciano Pavarotti no Hyde Park, em Londres. Pouco antes da apresentação, uma chuva forte e os espectadores puderam testemunhar o príncipe Charles, também presente ao local, a abrir um guarda-chuva para proteger-se, enquanto a princesa Diana, ao seu lado, teve que se virar com um saco plástico. Um gentleman.

Ganhos e perdas na indústria fonográfica

A carreira de Luiz Oscar Niemeyer não foi somente de grandes shows (e alguns fracassos, é claro). Durante doze anos, ele foi presidente da subsidiária brasileira da BMG Ariola (hoje, incorporada pela Sony). 

Logo de cara, teve que enxugar o elenco de artistas. Nessas, um contrato foi rescindido: um artista, cujo “comportamento errático” e baixas vendas justificaram a decisão. O resultado é que, já em outra gravadora, Zeca Pagodinho virou o sucesso que conhecemos hoje. Por outro lado, ele contratou um grupo de pagode vindo de Uberlândia: o Só Pra Contrariar, que estourou e consagrou o vocalista Alexandre Pires.

Stones em Copacabana, U2 em São Paulo

O ano era 2006 e os Rolling Stones estavam vindo pela terceira vez ao Brasil, desta vez para o histórico show na praia de Copacabana. Quem lembra daquela noite, consegue imaginar os desafios vencidos pela organização para que aquilo acontecesse. Se acrescentarmos mais dois shows do U2, na semana seguinte, na outra ponta da Via Dutra, já se chega à conclusão: loucura. 

Plateia em show dos Rolling Stones em Copacabana

Relembre trechos do show histórico dos Stones

Banda reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas na praia de Copacabana

Pois foi isso que aconteceu: já com o show dos Stones programado, Luiz Oscar foi procurado pela gigante Live Nation, interessada em trazer o U2 para fazer uma única noite com a banda de Mick Jagger. A proposta foi descartada, mas a Live Nation insistiu: era o único final de semana disponível na agenda dos irlandeses e, caso ele não aceitasse, eles iriam fazer o show no Maracanã, virando uma concorrência forte. A solução foi aceitar produzir o show do U2, mas em outra cidade, São Paulo.

Para o show do U2, foi acertado o patrocínio com uma rede de supermercados. O problema é que este patrocinador reservou todos os lugares do anel intermediário do Morumbi para vender um kit que incluía, além do ingresso, uma camiseta, CD e transporte para o estádio, pelo triplo do preço do ingresso normal. Ou seja, o patrocinador seria cambista. Tudo isso ia contra as cláusulas contratuais com a banda e, sob ameaça de cancelamento dos shows, o patrocinador teve que recolher os kits.

Olha para o céu

O sucesso de um show ao ar livre depende, entre outras coisas, das condições meteorológicas. Muita gente, aqui no Brasil, recorre aos serviços da Fundação Cacique Cobra Coral, que vende “serviços espirituais” para garantir que não chova em certos eventos. 

O Rock in Rio e a prefeitura do Rio de Janeiro já eram clientes da Fundação e, em 2005, mesmo sendo cético quanto à eficiência dos resultados, Luiz Oscar Niemeyer resolveu contratar seus serviços, para garantir tempo bom no show do Moby, no Rio. O representante da Fundação não garantiu os resultados, “tá muito em cima da hora”. O resultado é que choveu. Mesmo assim, a fatura foi apresentada: R$ 10 mil.

No ano seguinte, o pajé ofereceu seus serviços para o show dos Stones em Copacabana. Desta vez, Luiz Oscar não o contratou, mas a fatura também veio, no valor de R$ 25 mil. A partir de então, em todas as suas produções, ele recebe telefonemas e mensagens ameaçando tempo ruim.

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QUEM FEZ
Maurício Gaia

Maurício Gaia

Maurício Gaia é jornalista, roteirista e produtor cultural. Há mais de 10 anos, produz e co-apresenta o programa de webradio Combate Rock e integra a equipe de curadoria e produção do In-Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical.

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