MÚSICA

Marissol Mwaba segura jaqueta com roupa em foto de estúdio

Divulgação/José de Holanda

Ndeke

Marissol Mwaba: Novo nome da Lab Fantasma soma música com astrofísica

Cantora lançou o EP Ndeke (2022) e comemora novos passos com a produtora criada por Emicida e Evandro Fióti

Lucas Almeida
Lucas Almeida

Aposta da música brasileira, Marissol Mwaba tem dado passos importantes na carreira. A cantora de 30 anos, que já integrava o elenco da editora e gravadora Lab Fantasma (criada por Emicida e o irmão, Evandro Fióti), comemora mais um contrato. Agora, ela passa a ser representada comercialmente pela empresa para shows e publicidades.

“Essa é a parte mais difícil para a gente, que é artista independente: conseguir trabalhos, fechar shows, desenvolver parcerias. Foi uma grande conquista para mim”, explica ela em entrevista à Tangerina. A parceria com a Lab tinha começado em 2019, quando Fióti foi assistir a um show de Marissol na Aparelha Luzia, quilombo urbano fundado em 2016, em São Paulo.

Na época, ela não conhecia o produtor e sabia pouco sobre a Lab, que tem contrato com nomes como Rael e Drik Barbosa. “A gente se conheceu e trocou muita ideia. Além de todos os trabalhos, o Fióti virou um amigo muito querido, por quem tenho muito respeito, consideração e afeto”, declara.

Da astrofísica para a música

Marissol Mwaba é filha de professores universitários naturais da República Democrática do Congo. A família se mudou para o Brasil quando o pai conseguiu uma vaga no doutorado da Universidade de São Paulo (USP). Caçula entre quatro irmãos, ela nasceu em Brasília e também seguiu a vida acadêmica.

A cantora entrou na faculdade de Física com habilitação em Astronomia na Universidade Federal de Sergipe. Ela ainda fez um estágio de Astrofísica durante um ano na Sorbonne, em Paris, através do programa Ciências Sem Fronteiras. No intercâmbio, lançou o seu primeiro álbum de maneira independente, Luz-A-zul (2016). De volta ao Brasil, deu continuidade à graduação, mas precisou fazer uma pausa, devido a crises de pânico.

O tratamento foi feito em Florianópolis (Santa Catarina), cidade em que a família mora até hoje. “A música foi entrando e se tornando protagonista ao longo da minha recuperação, e eu precisei focar no meu trabalho”, relembra, sobre a escolha de trancar a faculdade enquanto criava novas faixas.

Mesmo com os passos na carreira, ela pretende finalizar a graduação em algum momento. Enquanto isso, continua lendo sobre astrofísica nas horas vagas. Os temas viram metáforas para as composições. “Todo o funcionamento da natureza é poético, ele se explica nas ações. O céu, a física e a matemática me trazem provocações. Algumas músicas até surgiram em aula”, relembra Marissol Mwaba.

Ela cita a inspiração da canção Lua Ferida, lançada em 2018. “As crateras da lua são frutos de impactos. Quantos impactos a gente não sofre ao longo da vida? E como seria a lua sem nenhum desses impactos? Cada cicatriz dela faz sentido”, explica ela.

Assista à performance de Lua Ferida

Música de Marissol Mwaba foi apresentada em um evento TEDx, em São Paulo

Composição em família

Marissol fez a primeira composição com apenas seis anos –uma canção dedicada ao cão da família, um fila brasileiro chamado Trator. “Para mim, não era nada. Fiquei sabendo que era alguma coisa pela reação que minha família teve. Quando vinha uma visita, pediam para eu cantar a música. Eu só estava me expressando”, conta.

Ela cresceu ouvindo música congolesa, especialmente as lançadas entre 1960 e 1970. Os pais ainda integraram uma banda quando já moravam no Brasil. “Sempre tinha teclado, violão e outros instrumentos em casa. A música sempre estava no ambiente, mas eu não sabia que você podia inventar uma canção do nada. A partir daí, não parei mais”, relembra ela.

O processo de composição e a aprendizagem de instrumentos aconteceu de forma autodidata, juntamente com o irmão François Muleka, seis anos mais velho e seu parceiro musical até hoje. “Não sei se eu estaria aqui se o François não existisse”, afirma Marissol Mwaba.

“Se entrarmos em um atrito, não vamos chegar em uma conclusão. Então, a gente só discorda e parte para outra. A gente se entende nessa complementaridade de existências, se enxergando”, descreve.

Marissol Mwaba estreia novo show

Além da astrofísica, Marissol Mwaba manifesta o desejo constante de estudar. Atualmente, ela tem pesquisado sobre o cubo mágico e as ciências da voz, e ainda faz aulas de pole dance e danças árabe. Os aprendizados são passados para a frente. Ela dá aula de canto desde 2018. O projeto ganhou ainda mais força no formato virtual, durante a pandemia.

Já as danças árabes serviram de inspiração para o novo show da cantora, que teve estreia em São Paulo, no final de julho. O momento coreografado conta com pandeiros gravados pela própria professora de dança dela. A performance deverá ganhar novas datas a partir de agora. Ela já tem agenda confirmada em 27 de setembro, no Blue Note, em São Paulo, e estará na programação do Prata da Casa, programa do Sesc.

Enquanto isso, a cantora também divulga a estreia do seu novo EP, Ndeke (2022), que significa “pássaro”, em suaíli. O projeto tem três faixas, incluindo Chupando Versos, uma parceria com Drik Barbosa, Linn da Quebrada, François Muleka e Lucs Romero. Com palavras sussurradas, a cantora se joga em uma sonoridade mais pop, na música que fala sobre esperança, em versos como “toma tua vacina/ Te espero lá em casa/ Chega e se joga por cima”.

Agora, Marissol Mwaba deseja criar um disco completo. “Lancei um EP, não por falta de música. Tem canções que já estão gravadas, mas ainda precisa de finalização, mixagem e outras coisas que pedem dinheiro”, explica. “O sonho é ter estrutura pra a poder manifestar tudo o que eu tenho de criação para compartilhar.”

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Lucas Almeida

Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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