Reprodução/Multishow
Ideia de fazer balada com dupla de DJs no palco Mundo não se provou acertada, já que os espectadores não engajaram como o esperado
Pela primeira vez em sua história, o Rock in Rio levou dois DJs para o palco Mundo. O brasileiro Alok e o norte-americano Marshmello foram os encarregados do marco histórico neste sábado (3). O resultado, porém, nos faz desejar que esta seja a primeira e última.
Não vamos entrar aqui nas qualidades enquanto DJs/produtores da dupla. O foco é no desafio de entreter dezenas de milhares de pessoas que não são exatamente familiarizadas com a música eletrônica.
Alok até sabe disso, e optou por atuar em campo seguro. Em termos musicais, o show pouco se diferiu daquele apresentado no mesmo palco Mundo em 2019. Alguns hits como Hear Me Now, Deep Down e Fuego entrelaçados com remixes de Pink Floyd (Another Brick in the Wall), David Ghetta (Titanium) e System of a Down (B.Y.O.B.) agitaram o público.
Show do Alok no Rock in Rio
Reprodução/Multishow
Entre shows de lasers e artifícios pirotécnicos, Alok ainda tocou músicas de atrações vindouras no Rock in Rio, casos de Maneskin (Beggin’), Bastille (Pompeii) e Guns N´ Roses (Sweet Child O’ Mine). Porém, os tons soturnos, que por vezes viravam psicodélicos, e a falta de outras atrações no palco tornaram o show morno.
Por exemplo: MC Hariel, que cantou com Papatinho no palco Sunset, poderia entrar para cantar ao vivo Ilusão (Cracolândia), mas a música foi só no “play” mesmo.
No entanto, o pior ficou por conta de Marshmello. Apesar de todo o apelo estético do capacete branco, visto em alguns pontos da Cidade do Rock neste sábado, a performance apresentada não justificou uma vaga no palco principal do maior festival do país. Muito menos como a atração anterior ao headliner. Para coroar o climão, o som baixo e abafado não ajudou —e chegou a falhar totalmente durante alguns segundos.
Marshmello não tem os hits de Calvin Harris e David Ghetta, para citar dois super DJs que já passaram por festivais pop brasileiros. E mesmo as boas músicas que tem, como Wolves, com Selena Gomez, o produtor norte-americano aproveitou mal, desfigurando os vocais da popstar no remix.
Marshmello se apresenta no Rock in Rio
Reprodução/Multishow
As interações com o público foram igualmente constrangedoras. Quando diminuía o volume para ouvir o coro, Marshmello se deparava com um silêncio que raramente foi visto no palco Mundo. O esforço foi comovente, mas não pegou. Era evidente a cara de desânimo na maioria dos presentes que testemunhamos. Nem o rápido flerte com o funk carioca salvou.
Talvez o rapaz não tenha sido devidamente avisado de que não estava num festival de música eletrônica ou que o público ali não era composto por fãs, mas por pessoas querendo se divertir num sábado à noite.
Num dia em que Papatinho, Criolo, Racionais e MC Poze do Rodo fizeram grandes espetáculos em palcos menores, a aventura da dupla de DJs no Mundo soou ainda mais complicada.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
Ver mais conteúdos de Luccas OliveiraTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?