MÚSICA

26.mar.2022 - Miley Cyrus fecha o segundo dia de Lollapalooza 2022 com um show roqueiro

Camila Cara/Lollapalooza

Lollapalooza 2022

Miley Cyrus no Lollapalooza: O que o festival ganha investindo no pop?

A artista foi headliner do segundo dia de festival e fez uma apresentação memorável ao mesclar os hits pop com a nova era de estrela do rock

Nicolle Cabral
Nicolle Cabral

Miley Cyrus veio ao Brasil para fazer um show histórico. Neste sábado, 26, a cantora subiu no palco Budweiser como headliner do festival Lollapalooza 2022 — um cenário pop e feminino jamais visto ao longo das dez edições do festival. Em 2016, Florence + The Machine chegou a encerrar a programação do evento, porém, a artista cai melhor no filtro do indie pop. Nesta edição, foi a primeira vez que uma queridinha da Disney e estrela pop ao nível global promoveu um coro em mais de 100 mil pessoas, que compareceram ao Autódromo do Interlagos. Para completar o combo inédito, a artista chamou ao palco o maior nome da música brasileira atual: Anitta. Juntas, performaram Boys Don’t Cry.

Em qualquer aspecto, isso é inovador. Especialmente para o Lollapalooza, festival com fama de escalar atrações indie —que todo mundo só conhece depois. Mas os tempos são outros e o que bomba nas paradas conta na hora de vender ingressos para o público. Então, o que o festival tem a ganhar ao investir no gênero e escalar uma artista como a Miley Cyrus como headliner? A Tangerina te conta!

Mudança gradual no line-up

Desde as primeiras edições do festival, o pop era um gênero dispensável. Em 2012, grande estreia do evento no Brasil, Foo Fighters e Arctic Monkeys foram as atrações principais. No eletrônico, DJ Calvin Harris fez a boa, mas sem o peso de um artista pop. No ano seguinte, a graça seguiu focada no rock e no indie: Pearl Jam, The Killers, The Black Keys e Queens of the Stone Age estavam sob os holofotes.

Em 2014, o festival passou a abrir um sorriso para um line-up com artistas pop. Naquela edição, a Time for Fun já havia ocupado o oposto de organizadora oficial e fez com que Ellie Goulding e Imagine Dragons ocupassem os horários da tarde na grade do evento. Nas atrações principais, não houve mudança. Muse e Arcade Fire foram os ovacionados da noite. Em 2015, o megahit de Pharrell Williams, Happy, ecoou no Autódromo. Na época, teve quem não gostou do rumo lento ao pop que o festival estava tomando. Mas nada grave, afinal, sempre tinha algum nome indie como atração principal para o público ovacionar.

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A grande mudança no headliner aconteceu em 2015, quando a organização chamou o primeiro rappper para encerrar as atividades do festival: Eminem. Para os indies fervorosos, a escolha abriu uma ruptura no direcionamento do festival. Por sorte, enquanto o público mais devoto das batidas alternativas decidia se ia ou não, o Lollapalooza tinha novos ingressos comprados por outra fatia do bolo da indústria musical. Eles perceberam que, de um jeito ou de outro, não iam perder dinheiro.

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Em 2017, pareceu mais divertido mesclar as atrações. De um lado, os fãs do Metallica e os do Strokes, do outro, o público chegado nas batidas mais brandas do The XX e no pop de Tove Lo e The Weeknd. No ano seguinte, talvez o maior espanto tenha sido um artista brasileiro ocupar a primeira linha do festival: os Tribalistas foram anunciados com banca de headliner.

Nos demais dias, Arctic Monkeys retornou ao festival e Sam Smith fez sua estreia. Na edição pré-pandemia, o evento se antecipou e entrou no terreno do hip-hop, antes mesmo do gênero ter um pico de audiência no Estados Unidos em 2020, e Drake ser eleito o artista mais ouvido da década. Embora o rapper canadense não tenha sido escalado —ele foi para o Rock in Rio 2019—, Kendrick Lamar fez as honras da edição, após ter ganhado um Pulitzer com DAMN.

Fusão do pop com guitarras

Não há como negar que o protagonismo do Lollapalooza Brasil pós-pandemia é da guitarra. JXDN, Turnstile, Machine Gun Kelly, The Strokes, A Day To Remember, Alexisonfire, Fresno e IDLES provam isso. O primeiro dia do festival foi basicamente tomado pelo instrumento e pelas baterias agitadas. Até Doja Cat, artista super pop, fez novos arranjos musicais para as canções surfarem na onda do pop punk e do metal. Escalar a nova roqueira Miley para encerrar a segunda noite de festival, portanto, não poderia ter sido mais certeira.

Miley Cyrus mal chegou aos 30 anos, mas já tem uma carreira de “milhões”, há, pelo menos, uma década e meia. A artista foi o primeiro furacão revelado pela Disney, quando conseguiu o papel principal em Hannah Montana (2006-2011). A produção infantil, sucesso dos anos 2000, acompanhava Miley Stewart (Cyrus), uma adolescente que experimenta uma vida dupla. Sendo Hannah Montana o alter-ego para a identidade da artista, que quer viver uma vida normal, fora da fama.

Por muitos anos, depois de o seriado da Disney chegar ao fim, a própria Miley foi “castigada” pelo papel que protagonizou. Um ícone da cultura pop desde os 12 anos, Miley teve a adolescência assistida por milhares de fãs e o olhar cerrado da crítica, especialmente quando ela decidiu se despir da figura doce de Hannah Montana para poder a própria vida longe do mundo encantado da Disney. Com isso, cada transformação pessoal da cantora passava a ser etiquetada como uma nova fase, inclusive musicalmente. Teve a era country, a era do pop provocativo, a era psicodélica e agora mais rockeira.

Em Plastic Hearts, lançamento mais recente de Miley, a cantora parece ter feito as pazes com o que sempre lhe caiu bem: o rock e a música country. Ao longo da carreira, as aparições da artista em ambos os gêneros sempre foram muito bem elogiadas pelos fãs e pela crítica especializada. Com o domínio da artista de fluir muito bem em ambos os gêneros, fica difícil colocar ela em uma caixa —e talvez, isso realmente não seja necessário. Mas é inegável o posto da artista como uma figura pop, no sentido mais genuíno da palavra: ela tem apelo popular.

A fim de descobrir o que o público achou do posto de protagonista da artista no festival, nada melhor do que ouvir os fãs.Clara Canali Rocha, de 26 anos, é de Ribeirão Preto e veio ao Lollapalooza para prestigiá-la. “Sou fã da Hannah Montana desde pequena. Fez parte da minha infância. Então, achei muito legal o festival ter escalado ela. Porque, querendo ou não, antes ele era bem indie. A gente não conhecia metade do que tocava”. Clara vê a inserção da Miley como uma ótima possibilidade do festival expandir ainda mais público e não ficar “tachado”.

Para Ana Luisa Cardoso, de 29 anos, ter a artista escalada no festival “trouxe muito mais gente”. Ela acredita que “não compensa mais para os festivais, ficar em ‘uma coisa só’. “Ser eclético é uma tendência que está tomando todos os festivais. Seria meio bobo da parte do Lollapalooza se manter nos headliners só de indie. Então, é importante eles mesclarem, justamente para chamar público. A disposição do festival mudou muito de lá pra cá. Assim como o Rock in Rio mudou a relação deles com os artistas e o público. Agora eles prezam por mesclar as atrações para se adaptarem ao grande público. O Lolla tem que fazer o mesmo. Precisa ser mais diverso”. A fã quase não veio ao festival, porque “não queria dar mais dinheiro para artista”. Mas quando sentiu o quão histórico poderia ser o espetáculo da cantora, comprou um ingresso 48 horas antes do show.

Ana Luisa Cardoso, de 29 anos, espera o show da Miley Cyrus no Lollapalooza 2022

"As fases da cantora acabaram sendo as minhas também" — Ana Luisa Cardoso

Tangerina/Nicolle Cabral

Para Ana Carolina Gripp do Carmo, de 20 anos, o Lollapalooza estava fora de cogitação —até anunciarem a Miley. “Eu nem seguia o Lollapalooza no Instagram mais. Achei que ela [Miley] iria para o Rock in Rio. Quando vi que não, comprei o ingresso no automático. Nunca imaginei que o Lolla chamaria ela, mas só deles terem feito isso, eu me apaixonei pelo festival e estou pronta viver mais experiências”.

Ana Carolina Gripp do Carmo, de 20 anos, à espera do show da Miley Cyrus no Lollapalooza

Ana mora em Minas Gerais, em Contagem, e saiu de lá só para ver o show da artista favorita

Tangerina/Nicolle Cabral

No fim, todo mundo sai ganhando. O evento agrega diferentes gêneros, o público se sente representado e, de quebra, o Lollapalooza ganha mais um show memorável na conta. Afinal, depois de sábado, Miley Cyrus entrou de vez para a história do festival.

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Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.

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