Divulgação/Leco Moura
Em contraponto à pandemia global de Covid-19 que assolou o Brasil, novos sons floresceram. Ritmos para lá de brasileiros, como afoxé, samba, brega e funk, ganharam embalagens pop, com pitadas de futuro, em novas bandas. Aqui, destacamos quatro delas: Bala Desejo, Gilsons, O Grilo e Jandaia.
Por outro lado, nenhum destes grupos deixou de olhar para trás: em pleno 2022, as referências aos anos 1970 estão mais vivas do que nunca. E tudo bem, visto que a nostalgia foi uma resposta automática ao isolamento social vivido nos dois últimos anos.
Nomes da velha guarda da Música Popular Brasileira deixaram de ser apenas referências sonoras diluídas e se tornaram influências diretas nestes novos projetos musicais. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Novos Baianos, Jorge Ben e Olodum aparecem em boa parte deles. Alguns, inclusive, são fruto dessa cena fundamental da música nacional na era da Tropicália, como o trio Gilsons.
Além da sonoridade investida em instrumentos e estéticas brasileiras, outro fator comum aos novos grupos foi a necessidade de se adaptar ao digital —também uma consequência do período de solidão. “O que dava para fazer era música’, resume Francisco Gil, em entrevista à Tangerina.
A fim de esmiuçar quem é a nova cara da música brasileira, conversamos com estes quatro projetos musicais palpitantes que plantaram sementes antes da pandemia, germinaram durante o período de isolamento criando raízes na internet e, logo depois, agora, florescem nos palcos em casas de shows lotadas. A seguir, conheça Bala Desejo, Gilsons, Jandaia, O Grilo e seus adjacentes.
Formado por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra, o Bala Desejo é um quarteto de amigos embalado por memórias da infância. Eles se conhecem desde os 11 anos. “Crescemos ouvindo música, juntos, cada um influenciando o que o outro ouvia. Então, de certa forma, temos uma afeição uníssona por certos tipos de som, mesmo que cada um tenha suas peculiaridades”, conta Zé Ibarra em entrevista à Tangerina.
Diante da pandemia, a trupe foi morar no apartamento de Julia, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A motivação foi a vontade de ficar junto e criar um ambiente confortável durante um longo período de isolamento. Musicais desde que se conhecem por gente —todos os integrantes têm carreiras solo—, acabaram participando de lives de Teresa Cristina.
'Viramos uma grande família empolgada com seus novos filhotes que ali surgiam', afirma Ibarra
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Embora a sintonia criativa fosse óbvia, para eles, “não havia nem essa intenção, tampouco consciência [de criar uma banda]”. O convite veio do Coala Festival e de Marcus Preto, jornalista e produtor musical que encabeçou projetos de Gal Costa, Erasmo Carlos, Paulo Miklos e mais.
A ideia era participar do festival paulistano que acontece há oito edições no Memorial da América Latina. Mas, devido à pandemia, o encontro com os palcos não aconteceu de forma presencial. “O convite se transformou na ideia de fazer um disco”, explica Ibarra. “Assim, nasceu a fagulha para mergulharmos nessa loucura”.
O disco foi gerado durante uma imersão em uma casa de campo em Barbacena, em Minas Gerais. Inicialmente, eles só tinham material para uma canção. Em sete meses, o disco Sim, Sim, Sim, surgiu. Neste final de semana, no sábado (14), sobem ao palco do Nômade Festival, também em São Paulo, e depois partem para Barcelona (Espanha), onde participam da programação do Primavera Sound.
Como tem sido a experiência de transpor o disco e as personas artísticas de vocês para o palco?
Zé Ibarra: Sempre foi uma extensão para nós, o álbum Sim Sim Sim foi pensado para o palco. Todas as músicas falam sobre a sensação ou sobre a aura dum pós-pandemia de intensificação das liberdades, dos desejos e da fruição da vida, e isso só pode ser experimentado e comprovado ao vivo, no tête-à-tête com as pessoas. Levar para o palco esse disco é acabar de fazê-lo, é enfim começar a costurar suas últimas linhas e fechar o tecido.
Existe um mapa sonoro da banda? Instrumentos, tipos de vocais, gêneros, que vocês incorporam ou têm como norte para o grupo?
Zé Ibarra: Ah, tem, mas é muito difuso, vem de muito longe e vai mais longe ainda. Quanto aos gêneros, não temos barreiras. A gente tenta abraçar o que a canção pedir. Por exemplo, Baile de Máscaras é um quase frevo com batida de disco music dos anos 80, Passarinha é uma salsa-maracatu cantada em espanhol e português, Lua Comanche é uma balada à la Jorge Ben dos anos 70… Cada canção pede uma coisa. No que a gente se prendeu mais mesmo foi à linguagem. Utilizamos a linguagem da MPB setentista, com os timbres, a onda, o processo e a aura daquele momento da música em canções novas, com temas novos e debates atualizados.
Dora Morelenbaum: É uma grande sopa dos nossos mestres e da galera que está fazendo acontecer hoje em dia. Vai de Tom Jobim a Ana Frango Elétrico, Rita Lee a Tim Bernardes.
Como é incorporar esses elementos, ainda mantendo o frescor?
Zé Ibarra: Acho que o frescor do Bala se dá no tema, nas letras. O debate todo é fresco, é um disco pandêmico, feito como resposta direta à pandemia. É um disco que só poderia ter sido feito em 2021, e justamente nele, nem em 2020, nem em 2022. Eu tento entender, como disse ali em cima, a estética como canal, como linguagem, e a matéria-prima como conteúdo, o Bala olha para trás para achar seu veículo, mas fala das coisas do mundo de agora com um jeitinho e um clima de agora.
À primeira vista, o nome Gilsons poderia entregar a origem do trio formado por José Gil, Francisco Gil e João Gil. Porém, muitos dos fãs só se tocaram dessa origem musical tempos depois. José é filho do mestre Gilberto Gil, enquanto Fran e João são netos do cantor. O nome do trio foi uma sugestão, inclusive, de Preta Gil, mãe de Fran.
“No começo, estávamos com o pé atrás. A gente entendia o trocadilho, as conotações, mas também não sabíamos se realmente íamos virar uma banda. Mas acabamos curtindo por ser um nome bem-humorado, já traz logo essa questão da família. Somos dessa linhagem e é algo que a gente se orgulha”, explica João em entrevista à Tangerina.
O trio conquistou os holofotes com o cover de Várias Queixas, do Olodum, e Love, Love. As duas canções saíram no EP de estreia, lançado em 2019. No registro, eles misturam ritmos dos blocos afro da Bahia com beats eletrônicos, o samba reggae, violões suaves e um toque de jazz.
Essa formação, contudo, não é inédita. Eles já haviam se juntado para cantar juntos na banda Sinara, que acabou encerrando as atividades. Desde lá, estudavam a sonoridade que apresentam hoje e tem como norte o afoxé, que aparece no primeiro disco de estúdio, lançado neste ano, Pra Gente Acordar.
Vocês sentem pressão em seguir um legado musical construído pelo ambiente familiar que vocês cresceram? Se sim, como lidam com isso?
João: Acho que pressão, na verdade, nunca teve. O que rola muito é uma liberdade de fazer o que tem vontade, assim como a minha tia Bela (Gil), por exemplo, tratou a jornada profissional dela. Tem muita gente da nossa família que não seguiu necessariamente esse caminho da música. O que eu vejo é mais um ambiente de inspiração.
Fran: Sempre houve um estímulo de seguir a nossa individualidade, os nossos desejos. Acho que isso é o grande estímulo. José é formado em administração, trabalhou muito tempo nisso. Ele foi o que mais teve uma vida fora da música. Eu, por ser mais novo, trabalhei um ano com cinema, enquanto o João trabalhou com design. Mas a música acabou puxando todos nós de volta.
Vocês lançaram primeiramente um EP e, dois anos depois, com uma pandemia no meio, vem um novo disco. Vocês sentiram muita diferença na hora de mexer em um projeto e outro? O que mudou?
João: Os nossos processos já estavam bem mais redondos, mais maduros. A gente, na verdade, meio que trata esse disco como o “fechamento” desse primeiro ciclo de vida da banda. O disco é uma combinação dessa caminhada toda até agora.
Fran: Quando a pandemia começou a acontecer, a gente já estava vivendo um pouco da ascensão. Essa coisa de cada vez fazendo shows maiores e cada vez ter mais pessoas escutando, e aí os números vão subindo e se estendendo. A gente já tinha feito show em São Paulo para mil pessoas, em uma casa lotada. E, para nós, já era tudo genial, porque no início de 2019 estávamos fazendo temporada no RJ e não dava 80 pessoas. Quando a pandemia chegou, estávamos com shows marcados, ia até ter um no Pelourinho. Mas tivemos que reformular tudo, repensar em tudo.
E aí, por sorte, e obviamente também fruto do nosso trabalho, essa ascensão não parou. A gente ficou com medo que parasse, porque não tinha como fazer show. Então, a forma de fazer algo rolar era em lives. A gente entrou de cabeça, fizemos muita coisa legal. Até dentro desse contexto reformulamos a forma de pensar em música. Jogamos os planos do disco para frente, porque queríamos que ele tivesse um contato com o público. Foi aí que nos encontramos em um lugar muito legal.
Na pandemia, só fizemos feats. Fizemos alguns videoclipes muito legais, nesse contexto pandêmico, desafios que a gente abraçou. Agora, com a volta dos shows e um disco novo, é uma consagração do que a gente deixou antes da pandemia. Olhando para trás, foi uma coisa muito bem feita, muito bem recebida, acima de tudo. Essa relação [com os fãs na internet], tem sido muito louca. Porque quando vamos em shows, o público é quente, eles cantam tudo. Até hoje, eu não consigo cantar os primeiros versos da música sem embargar a voz, porque eu me emociono.
João, como você concilia esses momentos com a banda e aqueles em que você toca com o Gilberto Gil? Existe uma diferença entre esses “Joãos”?
João: Existe [risos]. Com o Gil, é justamente um lugar onde você está a serviço do outro. Não sou o artista, só estou cumprindo uma função, sendo uma engrenagem que faz tudo aquilo ser uma grande experiência. É muito incrível e um grande privilégio poder tocar com Seu Gilberto e enxergá-lo no auge dos 80 anos com uma energia inacreditável. Também tem o lugar de fã. Porque, além de ser parente, dele ser o meu avô, ter essa criação, essa história com a família, a gente também é muito fã das músicas.
Nos Gilsons, a gente está ali defendendo o nosso, né? A gente está botando a cara para tentar atingir ou tocar as pessoas em um lugar que seja emocionante. Desde quando eu comecei a tocar com Seu Gilberto, eu falava que eu estava ali para botar emoção. E nos Gilsons, estou tentando fazer um pouco disso também. Meu avô é uma grande escola.
Como é incorporar elementos rítmicos e representações tão brasileiras no contexto de turbulência cultural que vivemos hoje?
João: Acho que é muito importante, pra gente, faz muito parte da sonoridade dos Gilsons. Eu acho que o José foi muito importante nesse lugar de enxergar que esses elementos tinham que ser uma parte essencial do nosso som. Não só nas gravações, mas também nos shows ao vivo. A gente sempre toca com atabaque, percussão. Então, a gente acredita muito nessa miscigenação sonora, né? Uma ideia que a Tropicália já trazia, Seu Gilberto e toda sua turma. A gente acredita muito no olhar para trás para entender o que já foi, entender o que é ancestral, o que é clássico, trazer esses elementos, e, ao mesmo tempo, abraçar os modernos. Conseguir misturar o tradicional com a modernidade. Adoro ver como a gente é influenciado por pessoas atuais, a própria Julia [Mestre, do Bala Desejo].
Fran: Acho que os Gilsons trazem uma força grande de representar e reproduzir um som anterior. Um som que representa a raiz do que a gente é. Por coincidência, o grupo nasceu no dia 19 de abril, que é o Dia do Índio. Já nasceu entregando um som que é a força de toda a cultura afro-baiana, que é a raiz do projeto. É desse lugar que a gente se conecta e absorve o que entendemos hoje. É sempre importante reafirmar esse lugar, de onde o som sai, porque é o que a gente tem de mais lindo do nosso país. Nossa música é uma mistura de coisas muito profundas… Antes da nossa música ser negra, ela é indígena. A gente não busca por uma representatividade, mas por sermos o que somos, já é representar o que faz a gente ser assim, enquanto músicos, artistas.
A banda paulistana é formada por Felipe Martins (guitarra), Gabriel Cavallari (baixo), Lucas Teixeira (bateria) e Pedro Martins (vocal). Assim como os grupos acima, O Grilo também foi afetado pela pandemia de Covid-19. Foi a partir dela, inclusive, que firmaram o compromisso de gravar o primeiro disco de estúdio.
Como foi o processo de condensar as referências sonoras de cada um em um único disco?
Felipe: Uma bagunça [risos]. Foi um processo de mais de um ano compondo várias músicas. Em algum momento, elas começaram a tomar forma e ter uma conectividade.
Lucas: Foi um longo período de embates positivos e negativos, mas que, no final, trouxe frutos bem positivos. O álbum pega referências diversas, justamente porque cada um da banda é diferente e a gente bate muito o pé para cada um ter a própria identidade. Não é “o cara que toca bateria”, “o cara que toca guitarra”… Todo mundo é muito e tem identidade, inclusive nas músicas.
Gabriel: Acho que esse álbum d’O Grilo foi muito importante para isso: para mostrar que somos plurais e que a gente não se prende a características tão específicas assim.
Vocês super têm um apelo no visual, não à toa, lançaram o disco com uma HQ. Como surgiu essa ideia?
Lucas: Acho que essa linguagem de quadrinho, especialmente o conceito de tirinhas, sempre foi muito presente no Grilo. A gente sempre falava para o Pedro que algumas coisas que ele trazia, tinha um olhar de tirinhas. Você fala muito, mas com pouco, sabe?
Pedro: Acho que mais do que o quadrinho, a coisa da charge, a gente se sentia muito atraído por conta dessa coisa do álbum, dentro das mesmas músicas, ter ideias muito diferentes. Quando você é artista, a sua missão, maior do que fazer uma música bem, é pegar uma ideia muito grande e conseguir sintetizar. E a gente tem essa coisa meio cotidiana… Quando vamos compor uma música, depende muito de como foi a semana de cada um, sabe? Não tem um plano maior. E a charge é isso.
A gente até tentou fazer as charges em um primeiro momento, mas vimos que falhamos miseravelmente e aí entramos em contato com o [cartunista] Pietro [Soldi]. Nem demos roteiros para ele, ele só fez.
Lucas: A gente viu que ele tinha uma linguagem muito parecida com a nossa. Algumas das nossas letras têm esse tom meio irônico, mas, ao mesmo tempo, não é.
Pedro: É uma grandeza muito banal.
Lucas: Não à toa, o nome do disco é Você Não Sabe de Nada. [risos].
Para aproveitar que vocês falaram sobre o nome do disco, já que rola essa brincadeira com o “não saber nada”. No início da banda, vocês sentiram essa despretensão em relação ao projeto? Como foi quando as coisas ficaram sérias?
Felipe: Ficou tão sério que a gente ainda não sabe o que está fazendo. Só estamos seguindo reto até entender [risos].
Gabriel: Acho que, de alguma forma, faz muito sentido para gente que começou a carreira musical sem saber de muita coisa. Aprendemos muito na raça, com a Rockambole (selo). Hoje a gente já pensa bastante, tem uma cabeça extremamente profissional, de carreira. Apesar da gente não saber de nada. [risos]
O Grilo: A gente finge muito bem. [risos].
Gabriel: Mas acho que nós quatro temos essa personalidade de estarmos sempre dispostos a aprender coisas novas, ouvir. Assim, a gente nunca se fecha para nada.
E como tem sido esse processo de crescer individualmente, enquanto vocês também crescem como banda?
Lucas: É uma doideira, né [risos]. Porque a gente começou a banda com 18, 19 anos, lá em 2016. Hoje, estamos com 23, 24… Talvez os aprendizados que a gente teve com 18 anos foram aprendizados que a gente leva até hoje. Muita coisa a gente também desconstruiu. Uma boa maneira de você amadurecer no mundo é ir para o mercado da música, porque não existe faculdade que te ensine isso, um livro que fale como é viver disso. Você simplesmente se taca nesse caos e vai tentando sobreviver. A gente precisa saber acompanhar, porque se não ou a banda fica para trás ou a gente fica para trás.
Pedro: A gente está vivendo junto, então, mais do que ninguém, a gente sabe o que está passando. É muito bom ter esse apoio. Sempre brinco que se você quer ter banda, você precisa subir no palco pensando que é Os Vingadores [risos].
Gabriel: Acho que estamos em um lugar, fisicamente até, que a gente respira muito cultura. Estamos sempre aqui [na Rockambole]. Então, vemos shows de todos os tipos, vamos analisar. Aprendemos muito com os outros.
Lucas: Acho que a gente tem um modo de pensar que é “passos lentos para eles serem consistentes”. Então, depois da pandemia, do disco lançado, o TikTok, entramos em 2022 com muito público. Muito mais do que a gente tinha antes de a pandemia acontecer. Antes, falando em produção de show, eram duas pessoas. No Cine Joia [em abril, com ingressos esgotados], estávamos com uma equipe de 18. É uma mudança intensa. Mas temos muita cautela para que a gente possa conseguir colher os melhores resultados.
Indie, pop, brega, funk e R&B são alguns dos gêneros possíveis de entrar no guarda-chuva musical de Jandaia. Composta por Victor Fabri, Murilo Salazar, Idyan Lopes e Lucas Prá, a banda tomou forma após vários encontros em comum entre o quarteto, em Florianópolis. Embora cada um tivesse um projeto sonoro paralelo, todos enxergavam o mesmo horizonte. O que acabou rendendo no Jandaia. “A gente queria fazer uma coisa bem Brasil”, explicam.
Um mês antes da pandemia, decidiram que morariam juntos. A ideia era fazer da casa um espaço para eventos culturais e de imersão para futuros projetos musicais. Além de, claro, dividir as despesas do aluguel e da banda. Inicialmente, o plano não deu certo. Mas, hoje, os “Jandaios” já compartilham do mesmo espaço para nutrir a criação musical entre eles.
Estrago, disco de estreia do grupo, chegou através de um financiamento coletivo, após várias lives e esforços online do grupo. “No final, conseguimos R$21.500 para financiar o álbum. 200 pessoas apoiaram esse sonho”, conta Idyan. Além disso, abriram um restaurante de batata recheada para vender nos aplicativos de delivery. “Basicamente, todo mundo chegava do serviço, arrumava as coisas do restaurante e, enquanto não saía o pedido da batata, a gente fazia as coisas do Jandaia”, completa. Hoje, eles estão alçados sob o selo Cavaca Records.
Por que vocês escolheram explorar elementos da música pop?
Victor: Apesar dos pesares, eu amo muito o Brasil. É um país belíssimo, de várias formas. Tem muita coisa legal e a gente sempre teve essa pira de fazer música pop, de curtir essa estética, sonora e visual. E a gente quis juntar tudo com esse projeto, não ter muito rótulo, pegar referências de tudo. Esse álbum mostra bastante isso, e as coisas que a gente têm trabalhado internamente também vão mostrar.
Vocês decidiram que o Jandaia seria um projeto no final de 2019 e, logo depois, a pandemia chegou. Deu medo de não dar certo?
Victor: Bate medo até hoje, mas a gente vai seguindo.
Idyan: Acho que a questão financeira sempre pegou bastante. Porque nosso plano, quando nos mudamos para cá, era pegar uma casa grande, até com um quarto sobrando, para fazermos eventos culturais, chamar uma galera da arte para expor, cobrar ingresso. E aí, junto, íamos conquistando dinheiro da Jandaia para lançar as paradas. Só que não deu para fazer nada disso. Só a casa já passava do orçamento. Por isso, abrimos o restaurante de batata. No começo, não tinha como lançar nem os singles. Mas de lá para cá, teve muito medo, ou faltava dinheiro, ou a gente queria uma coisa maior e do jeito que estava não ia dar. É bem complexa a história toda, mas estamos aí.
Victor: Mas agora, com show marcado, esse medo já passou um pouco.
Como vocês avaliam essa nova onda de artistas que está renovando a antiga geração da MPB?
Murilo: Simplesmente maravilhoso, porque a gente faz parte disso também. E calhou certinho, parece que é milagre.
Nicolle Cabral
Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.
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