MÚSICA

Björk ao lado de cogumelos

Divulgação

Fossora

Luto e cogumelos: O que esperar do novo álbum de Björk?

Cantora lançará Fossora na sexta (30) depois de cinco anos sem discos. A produção foi criada inteiramente na Islândia durante a quarentena

Lucas Almeida
Lucas Almeida

Depois de cinco anos, Björk se prepara para o lançamento de um novo álbum. Fossora chega às plataformas de streaming nesta sexta-feira (30), marcando uma nova fase para a cantora. O projeto foi criado durante a pandemia de Covid-19, quando ela se mudou de vez para a Islândia, preocupada com a violência dos Estados Unidos.

O título é um neologismo criado a partir de “fossor“, palavra em latim para “escavador”. O termo original ganhou um “a” no final para reforçar o caráter feminino das composições. “Cada álbum sempre começa com um sentimento que eu tento moldar em um som. Dessa vez, o sentimento estava pousando na terra e cavando meus pés no chão”, descreveu Björk em seu site, em uma comparação com a sensação aérea apresentada no disco Utopia (2017).

O primeiro single de Fossora, Atopos, foi lançado no início de setembro e apresentou a estética do novo trabalho, inspirada em criaturas e fungos que vivem embaixo da terra, embalada em diversos sons experimentais. As músicas inéditas deverão integrar a setlist de Björk no Brasil. Ela será headliner do Primavera Sound de São Paulo, em 5 de novembro. Conheça mais sobre as inspirações por trás do novo álbum da cantora:

Referências a cogumelos

A conexão com a terra apresentada por Björk em Fossora tem uma relação com uma pequena obsessão criada na quarentena. Ela adorou o documentário Fungos Fantásticos (2019), que está disponível na Netflix. “Eu fiquei tipo: ‘Não consigo entender por que estou ressoando tanto com isso’”, disse ela ao Pitchfork. Desde então, ela começou a descrever o projeto como o seu “álbum de cogumelo”, com uma sonoridade de “techno biológico”.

Ela ainda explicou como a metáfora se insere na composição: “É algo que vive no subsolo, mas não é como a raíz de uma árvore. Um álbum de raiz de árvore seria bastante severo e estoico, mas os cogumelos são psicodélicos e aparecem em todos os lugares”, comparou. “Meu período de fungo foi borbulhante e divertido, com muita dança.”

Björk fala sobre a morte da mãe

Os temas sobre terra também surgiram a partir de pensamentos sobre luto, após a morte da mãe de Björk, Hildur Rúna Hauksdóttir (1946-2018), que foi uma ativista dos direitos ambientais. A temática aparece especialmente nas letras das faixas Sorrowful Soil e Ancestress.

“A máquina dela respirou a noite toda enquanto ela descansava/ Revelou sua resiliência/ E, então, não”, canta ela em Ancestress, revelando o processo de tratamento vivido por Hildur antes da morte. “Ela não concordou com tudo isso”, explicou Björk ao The Guardian.

Depois de se divorciar do marido, a mãe da cantora foi viver em uma comunidade hippie e se aproximou de métodos de medicina alternativa. “Ela ficou muito no hospital e foi muito difícil para ela. Foi uma luta e tanto”, contou a artista.

Björk compôs Ancestress depois de voltar de uma viagem para a Grécia. “Escrevi páginas e páginas e páginas, e editei, apenas para deixar exatamente as palavras que queria que estivessem lá”, descreveu ela ao Pitchfork. As duas faixas sobre a mãe ainda serviram de inspiração para clipes gravados na Islândia, que retratam um funeral folclórico. O projeto serviu como um fechamento, para que ela conectasse o luto e a natureza.

O primeiro vídeo já foi divulgado no YouTube. O segundo só será liberado quando ela estiver pronta para compartilhá-lo com os fãs.

Assista ao clipe de Ancestress

Videoclipe gravado na Islândia representa processo de luto de Björk

Jung explica

Björk já tinha se aberto sobre o seu divórcio com o artista Matthew Barney nos dois últimos álbuns, Vulnicura (2015) e Utopia (2017). Nas entrevistas atuais, ela afirma que já superou a situação e não há mais nada a cantar sobre. Mesmo assim, o fim do casamento contribuiu de alguma maneira com o novo disco.

A cantora começou a ouvir podcasts sobre psicologia na pandemia e se interessou pelo conceito de arquétipos de vitimização, estudados por Carl Gustav Jung (1875-1961). Depois de conversar com amigos sobre o caso, ela decidiu se abrir sobre como se identificou com a ideia na faixa Victimhood. “Você pensa que está sendo o herói, mas na verdade está sacrificando algo e se torna uma vítima”, adiantou ela sobre a composição presente em Fossora.

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Lucas Almeida

Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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