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Cantora gravou seu grande sucesso sem notar o duplo sentido do refrão; 40 anos depois, Dua Lipa o apresentou para as novas gerações
O mundo se despede nesta segunda-feira (8) de Olivia Newton-John (1948-2022). Atriz de filmes como Grease e cantora, ela lançou mais de 25 discos ao longo de quase seis décadas de carreira. Seu grande hit, Physical, saiu em 1981 e vendeu mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo.
Quarenta anos depois, a canção passou a ser conhecida também pelas novas gerações, quando Dua Lipa incluiu trechos do hit em dois lançamentos. O primeiro, na faixa do disco Future Nostalgia (2020) que também foi batizada de Physical. Depois, meses mais tarde, na parceria que fez com Miley Cyrus, Prisoner.
Apesar do sucesso, a música chocou muita gente quando foi lançada, no começo da década de 1980. Até mesmo a própria Olivia Newton-John, que não tinha captado o duplo sentido dos versos do refrão. Nele, a britânica canta “Te levei a um restaurante intimista/ E depois para ver um filme sugestivo/ Não há mais o que dizer/ A menos que seja na horizontal/ Vamos passar para o físico.”
Na época, a imagem da cantora era mais associada aos bons costumes do que, vamos dizer, à revolução sexual que Madonna viria a instituir na música pop naquela mesma década. Com isso, algumas rádios conservadoras dos Estados Unidos, que costumavam tocar músicas de Olivia Newton-John, se recusaram a incluir Physical na programação por seu “alto teor erótico”.
Assista ao clipe de Physical
Música rendeu uma guinada na carreira de Olivia
“Eu sabia que a música era divertida, mas não pensei em como as pessoas iriam recebê-la até que fosse banida. Então, liguei para Davies [Roger Davies, empresário] e disse: ‘Precisamos tirá-la do rádio. Acho que fui longe demais’. Ele respondeu: ‘É tarde demais, querida. Está subindo nas paradas’”, contou ela em entrevista para a ABC Radio e replicada pelo El País por conta do revival promovido por Dua Lipa.
Realmente, Physical subiu nas paradas. A música passou dez semanas no topo do ranking Hot 100, da Billboard, a principal parada dos Estados Unidos. E chegou ao topo também em ao menos sete países. No Brasil, foi a segunda mais ouvida em 1982.
Como a então pudica Olivia Newton-John respondeu à polêmica? Surfando a onda. Physical saiu cerca de um mês depois do lançamento da MTV nos Estados Unidos. Então, a cantora e Davies, o empresário, investiram em um videoclipe engraçado —e um tanto gordofóbico—, que faz referência ao duplo sentido do refrão, mas foca em elementos de ginástica.
Em sua autobiografia, batizada de Don’t Stop Believin’, Olivia Newton-John ainda contou que a música, composta por Steve Kipner e Terry Shaddick, foi originalmente oferecida para Tina Turner, que recusou por achar os versos eróticos demais. Foi Davies, que ainda não era oficialmente seu empresário, quem enviou a demo para Olivia. Ela decidiu gravar Physical na hora. “Adorei o que fizemos, mas depois tive um ataque de pânico. Era uma canção crua e ousada. Talvez fosse picante demais?”, escreveu.
Ou seja, sem querer, ela acabou dando uma importante guinada na carreira, que a consolidou como a diva pop que passou a ser. Physical foi indicada ao Grammy, mas acabou não vencendo.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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