MÚSICA

Queernejo: O cantor Gabeu

Divulgação/Gabriel Renné

Por Gabeu

Queernejo: Playlist para conhecer o subgênero mais ousado do sertanejo

Filho de Solimões, o cantor Gabeu listou e comentou dez músicas imperdíveis para quem quer entender o mundo do queernejo

Luccas Oliveira
Luccas Oliveira

O queernejo é, entre todos os subgêneros e ramificações do sertanejo, o mais ousado e polêmico. Afinal, ele surge, em muitos casos, pela necessidade de artistas LGBTQIA+ se expressarem dentro do universo musical onde cresceram. Por mais que este universo seja, no caso do sertanejo, balizado pelo conservadorismo e por uma ideia de masculinidade “rústica”.

Cantores e cantoras do queernejo fazem isso ao juntar elementos da vida e da paisagem rural com letras que retratam amores, lutas e vivências nesse universo. Juntam, também, sonoridades mais pop, como o piseiro, o funk e a música eletrônica. Não à toa, outros nomes como pocnejo e agropoc também são associados ao movimento.

Para quem mora em São Paulo, uma festa marcada para a próxima sexta-feira (10), no Mundo Pensante, fará uma boa amostra de o que é o queernejo. Estão na programação Gabeu, Gali Galó e Mel & Kaleb, grandes expoentes dessa vertente do sertanejo.

No entanto, para explicar melhor o que é o queernejo, nada melhor do que ouvir algumas músicas. Convidamos então o cantor e compositor Gabeu, filho do sertanejo Solimões e um dos precursores do movimento, para preparar uma playlist comentada exclusiva para a Tangerina. Calce suas botas, ajuste seu chapéu e venha com a gente.

Conheça o queernejo com Gabeu

Gabeu – Bailão

Capa de Bailão, single, do Gabeu

Assista ao clipe de Bailão

Música faz parte do álbum AGROPOC

Não posso deixar de indicar essa música, que faz parte do meu álbum Agropoc, porque acredito que ela é a representação perfeita para o mês de junho. Unir a festa junina com o orgulho de ser queer é a maior alegria da minha carreira. Por isso, em todo mês de junho, Bailão automaticamente vira minha maior paixão.

Reddy Allor – Álcool Estima

Reddy Allor no clipe de Álcool Estima

Assista ao clipe de Reddy Allor, Álcool Estima

Para Gabeu, música é 'obra de arte do sertanejo moderno'

Álcool Estima, pra mim, é uma obra de arte do sertanejo moderno. A Reddy tem um trabalho visual impecável, que deixa qualquer pessoa babando. E pensando ainda nesse clima festivo e junino, acho que é a música perfeita pra gente cantar para aquela pessoa de autoestima elevada que jura que você tá dando em cima dela, porém não.

Gali Galó – Amor de Furacão 

Gali Galó no clipe de Amor de Furacão

Veja o clipe de Amor de Furacão

Gali Galó se identifica como uma pessoa não binária transmasculina

O brega é protagonista nessa canção de Gali, e eu amo! Amo a mistura de timbres com a pegada sertaneja apaixonada e exagerada. Além disso, tive a honra de harmonizar as vozes dessa canção! Essa também é uma boa indicação para os arraiais que virão.

Mel e Kaleb – Por Você (Tudo Tudo Bem)

Mel & Kaleb, a primeira dupla do queernejo

Mel & Kaleb é a primeira dupla de queernejo

Assista ao clipe de Por Você (Tudo Tudo Bem)

A primeira dupla de queernejo se jogou no piseiro e nos serviu com o que, na minha opinião, é a melhor canção que eles fizeram. Com aquela letra sofrida que até quem nunca viveu essa situação de dividir a pessoa amada com outro alguém sente.

Tertuliana – Não Foi Só Um Programa 

Tertuliana no clipe de Não Foi Só Um Programa 

Assista ao clipe de Não Foi Só Um Programa

Tertuliana lançou recentemente o EP Sertransneja

Tertuliana lançou recentemente um EP chamado Sertransneja, e essa é minha música favorita do projeto. É um arrocha bem gostosinho, mas também é uma sofrência, e tudo isso na voz de uma artista que canta sobre suas vivências enquanto mulher trans, algo que ainda é extremamente escasso no sertanejo.

Alice Marcone – Pistoleira

Alice Marcone e Gabeu

Assista ao clipe de Pistoleira

Música reúne a cantora trans Aline Marcone com Gabeu

Acho que podemos dizer que a Alice é a primeira cantora sertaneja trans a ter um pouco mais de projeção. Até mesmo nós, do queernejo, não temos conhecimento de alguém que tenha feito algo semelhante antes. Pistoleira é, pra mim, uma masterpiece queerneja. E não digo isso só porque é uma colaboração comigo, mas porque eu acredito e admiro muito a sensibilidade artística da Alice, na escolha das palavras, na poética, no lirismo. Sou fã incondicional do que ela oferece pra nós, como artista e como pessoa! Sem falar do tom de faroeste cinematográfico que eu sou apaixonado!

Gabeu – Cowboy Fora da Lei

Gabeu vestido de cowboy

Assista à performance de Cowboy Fora da Lei

Gabeu cita Raul Seixas como uma grande referência

Raul Seixas é uma referência para o meu trabalho e Cowboy Fora da Lei é uma das músicas que mais faz o público vibrar nos meus shows. Por isso, achei que eu não poderia deixar de fazer minha própria releitura desse clássico. Pra mim, é importante que o meu público conheça e saiba de onde vem as minhas inspirações, e esse country rock do Raul sempre me inspirou demais!

Zerzil – Namoro de Quarentena 

O cantor Zerzil

Veja o clipe de Namoro de Quarentena

Música de Zerzil se passa no contexto pandêmico

Zerzil tem muito humor nas suas composições, e eu amo Namoro de Quarentena. Uma música que se passa no contexto pandêmico, mas com aquela pequena luz no fim do túnel que a vacinação representou. É sertanejo, é pop, tem pitadas de funk, é brega e é extremamente divertido!

Bemti – Canto Cerrado

Capa do single Canto Cerrado, de Bemti

Ouça Canto Cerrado, de Bemti

Músico é um violeiro indie pop

Essa música me traz imagens da vegetação do cerrado, que me levam de volta a lugares familiares. Bemti é um violeiro indie e me identifico muito com o som dele, pela mistura da viola caipira com um som mais alternativo. Quando ouço essa música, é como se estivesse voltando para as minhas origens.

Gabeu – Esconde-Esconde 

Gabeu na capa de Esconde Esconde

Ouça Esconde-Esconde, faixa do AGROPOC

Música é 'recado bem direto para os sigilosos e fora do meio'

Para finalizar, essa música, também presente no meu álbum Agropoc, é um recado bem direto para os sigilosos e fora do meio. Em uma mistura bem dançante de sertanejo, reggaeton e funk, canto sobre o grande defeito do “homi”, que é justamente ser “muito homi”. Acredito que é uma música que imprime bem o meu trabalho e um pouco de o que o queernejo representa. Além disso, também é perfeita para animar as festas juninas.

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QUEM FEZ
Luccas Oliveira

Luccas Oliveira

Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.

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