MÚSICA

Agnes Nunes e Elba Ramalho no Rock in Rio

Reprodução/Multishow

FRANKENSTEIN SONORO

Rock in Rio: Show que celebrou 1985 foi ideia boa que deu errado

Reunião de talentos de ontem e hoje, de Luísa Sonza a Alceu Valença, não mostrou a que veio e sofreu com muitos problemas técnicos

Luccas Oliveira
Luccas Oliveira

A ideia era boa: juntar uma penca de estrelas da música nacional para celebrar a primeira edição do Rock in Rio, de 1985. Astros daquela época e de hoje comandando a festa no palco Sunset. O resultado, porém, trouxe mais problemas do que acertos. Principalmente erros técnicos, com som baixo para o público e mal regulado para os músicos. Muitos reclamaram, especialmente Pepeu Gomes e Evandro Mesquita.

O espetáculo também não deixou claro a que veio. Foi um Frankenstein sonoro, sem lógica definida. Abriu com o encontro entre Ivan Lins e Xamã cantando clássicos da década de 1980, mas Liniker fez música de 2021 –que em nada remete ao primeiro Rock in Rio.

Xamã e Ivan Lins no Rock in Rio

Xamã e Ivan Lins no abriram a apresentação especial

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Enquanto o veterano de 77 anos cantava clássicos da MPB como Começar de Novo e Novo Tempo, que voltavam a 1985, Xamã improvisava versos de rap como discursos políticos. Lembrou que o público tem o poder de mudar o país nas vindouras eleições e reforçou que veio da Zona Oeste, região onde o Rock in Rio é realizado.

Foi Xamã quem convocou a presença de Alceu Valença, que se apresentou sem feats. O ídolo pernambucano abriu sua participação com Anunciação, clássico redescoberto pelas novas gerações com remixes eletrônicos, e seguiu com Morena Tropicana. Usando improvisos repentistas e a simpatia que lhe é característica, Alceu esticou sua participação, se divertindo com o público.

Alceu Valença no Rock in Rio

Alceu Valença dispensou os feats

Reprodução/Multishow

Convocou, então, Liniker. A cantora paulista fará seu show em domingo, mas aqueceu a voz com soul Baby 95, de seu disco solo, Indigo Borboleta Anil (2021).

O próximo na fila foi Pepeu Gomes, um dos maiores guitar heroes do país. Em 1985, ele e a então mulher Baby do Brasil, grávida, fizeram uma apresentação histórica. Desta vez, foi o caçula Filipe Pascual quem o acompanhou no palco. Agora, porém, Pepeu sofreu com o volume da guitarra enquanto cantava e tocava Masculino e Feminino. O baiano chegou a pedir no microfone para aumentarem o som do instrumento.

A carnavalesca Eu Também Quero Beijar teve o reforço de Andreas Kisser exatamente na guitarra, mas foi a voz de Pepeu que passou a falhar. O duelo de riffs dos dois guitarristas acabou sendo o ponto alto do número.

Andreas Kisser e Pepeu Gomes no Rock in Rio

Andreas Kisser e Pepeu Gomes fizeram duelos de guitarras

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Pepeu deu lugar para a Blitz, o primeiro grande fenômeno do rock carioca, se divertir com Andreas Kisser. Garotão de 70 anos, Evandro Mesquita desafiou o passar do tempo com o hit praiano Você Não Soube me Amar, que enfim teletransportou o palco Sunset para a década de 1980. A Blitz seguiu por A Dois do Passos do Paraíso, na qual a banda citou One Love, de Bob Marley.

Ironicamente, enquanto o povo gritava contra Jair Bolsonaro, Evandro Mesquita convocou Elba Ramalho ao palco. A cantora paraibana já se manifestou favoravelmente ao presidente no passado. Alguns aumentaram o coro, mas a chegada da jovem baiana Agnes Nunes para cantar com Elba Chão de Giz (de Zé Ramalho) esfriou os ânimos políticos.

O som seguia ruim e era difícil ouvir o violão de Elba mesmo próximo aos P.A. A voz de Agnes também veio embolada. Com a confusão, mesmo o Frevo Mulher que sempre anima o povo saiu chocho.

Luísa Sonza e Andreas Kisser no Rock in Rio

Luísa Sonza e Andreas Kisser recuperaram Kiss no encerramento

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Embalada pelo violão de Andreas Kisser, Luísa Sonza assumiu o palco para fechar com Love of My Love, do Queen, o grande hino da história do Rock in Rio graças à performance de Freddie Mercury em 1985. Acústico, o número funcionou melhor tecnicamente, com a boa voz de Luísa, e o coro do público foi comovente. Porém, a ideia não conversou com o resto do show, que vinha trazendo apenas clássicos da música nacional.

Mesmo sendo uma reunião de grandes astros da música brasileira, o show foi o ponto baixo do Rock in Rio nesta sexta-feira (9).

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QUEM FEZ
Luccas Oliveira

Luccas Oliveira

Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.

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