Reprodução/Multishow
Cantor levou sua sofrência pop ao palco Sunset, com superprodução visual e microfone baixo, valorizou diversidade e levantou plateia
Jão apareceu no palco Sunset do Rock in Rio 2022 nesta sexta-feira (9) saindo das presas de um tubarão gigantesco. A cena meio Planeta Xuxa condiz com a era do disco Pirata (2021) e abriu a performance da música Santo, do mesmo álbum.
O cantor de 27 anos quase não era conhecido pelo grande público em 2019, na edição anterior do Rock in Rio. Agora, chega ao principal festival do país credenciado pelo sucesso da turnê e pelo show elogiado no Lollapalooza, seis meses antes.
O bom momento foi refletido no tamanho do público que se aglomerou para assistir ao show. Com mensagens de empoderamento, Jão tentou compensar o repertório ainda recente, que não chega a causar coros como os de Di Ferrero e Vitor Kley, que abriram o palco.
Jão também tenta levar um estilo de show mais pop no sentido cênico. A banda se posiciona em altas plataformas espalhadas pelo palco, que traz elementos visuais cinematográficos.
As letras de canções como Vou Morrer Sozinho, A Rua e Essa Eu Fiz pro Nosso Amor remetem à sofrência de hits sertanejos, com uma roupagem sonora e visual mais palatável e representativo a outros públicos, como o LGBTQIA+.
Jão durante show no Rock in Rio
Reprodução/Multishow
Em Essa Eu Fiz pro Nosso Amor, quatro trios de violinistas surgiram em plataformas elevadas quase que no meio do público, causando um efeito impactante.
Jão também ganhou uma plataforma gigante para chamar de sua enquanto cantava um medley de homenagem a Cazuza (1958-1990), com Exagerado, Codinome Beija-Flor, O Tempo Não Para e Pro Dia Nascer Feliz. Ao fim, convidou Lucinha Araújo, mãe do cantor, ao palco Sunset.
“Só pra dizer e desejar que o dia nasça feliz para todo mundo, para o Brasil, para vocês”, falou ao público Lucinha, de 86 anos. Foi o suficiente para puxar do público o recorrente grito contra Jair Bolsonaro deste show.
Apesar da beleza e da emoção, com o sol se pondo no horizonte, o número não foi mais impactante porque o microfone do cantor ficou ainda mais baixo do que já estava.
Apesar de longa demais, a homenagem também ajudou Jão a se conectar de vez com o público. Carismático —e auxiliado por uma banda competente que até tuba tinha—, o cantor paulista soube aproveitar a brecha.
Antes de Meninos e Meninas, contou sua história de jovem que veio do interior de São Paulo, “de uma cidade que tinha menos habitantes do que o público deste show”. Agarrou uma bandeira com as cores do orgulho bissexual e foi ovacionado.
Puxada pelos sopros de metais, a dançante Idiota deu um encerramento apoteótico à estreia de Jão no Rock in Rio. O festival segue nesta sexta-feira com Capital Inicial, Billy Idol, Fall Out Boy, Avril Lavigne, Green Day e mais.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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