MÚSICA

Vanessa da Mata na capa de Vem Doce

Reprodução/Instagram

VEM DOCE

Vanessa da Mata lança álbum que exorciza dores femininas: ‘Perverso’ 

Em Vem Doce, Vanessa da Mata transita entre diversos ritmos para passar mensagens fortes ao seu público sobre uma sociedade que precisa mudar

Giulianna Muneratto

No Dia Internacional da Mulher, Vanessa da Mata lança um novo álbum que tem tudo para conquistar diversas gerações. Ao longo de Vem Doce, ela mistura grandes gêneros da música brasileira e, em suas letras, toca em feridas abertas de uma sociedade machista, racista e homofóbica. 

Lançar Vem Doce em 8 de março não foi apenas uma coincidência, porque a data tem tudo a ver com a temática explorada no novo álbum. “É estratégico mesmo, porque [o disco] fala muito das questões que precisamos melhorar no Brasil, aquilo que é tão feio e tão perverso da nossa parte”, explica a cantora em entrevista exclusiva à Tangerina

“Não é só sobre as mulheres, mas eu sempre tive um trabalho feminino muito forte ligado a essas situações de abuso variadas, sempre alertando, criticando, fazendo alusões, mas também falando do racismo, para que essas questões cada vez mais ecoem e explodam”, acrescenta. “As pessoas precisam sair da década de 1950 e chegar nessa finalmente. É preciso se antenar e não ficar em um passado tão feio e nojento.”

O disco chega 20 anos após o lançamento do seu primeiro álbum, e mostra uma Vanessa da Mata mais madura e mais aberta a novas experiências. “Eu sou uma cronista que faz melodias”, afirma. “Eu acho que a música tem um grande desafio de colocar os acentos no lugar certo e fazer com que caibam histórias prestando atenção nas várias regras da melodia. Quando você consegue trazer histórias e ritmos, isso, para mim, é o que eu gosto de fazer e chamar de música.”

Forró, MPB, piseiro, R&B, pop e até trap são exemplos de sonoridades que a cantora explora em Vem Doce, mas sempre com a personalidade das composições de Vanessa da Mata. “Meus tios caminhoneiros traziam músicas que vinham do Norte ao Sul para mim, então eu sempre bebi muito disso. Eu gostava muito dessa riqueza”, relembra. 

Vanessa também misturou a leveza e o peso nesse disco –pois, enquanto algumas músicas são pura brincadeira, outras trazem denúncias importantes e dão luz a questões sociais fortes.

Para ela, as faixas Foice e Face e Avesso são as que mais trazem à tona temas que precisam ser cada vez mais discutidos. “Face e Avesso mostra o escárnio dessa perversão brasileira, desse fel todo que anda por aí sem vergonha de aparecer. Foice é uma súplica para que haja competência, que não haja mais negligência para o povo brasileiro, que haja apoio, fomentação, investimento no povo de verdade. Para que a gente saia desse terceiro mundo e vá para um primeiro”, comenta. 

Para Vanessa da Mata, Vem Doce é uma reinvenção do seu trabalho, que se renova a cada música lançada e a cada álbum confeccionado e produzido. “Quando você tem uma carreira estabelecida, o mais difícil é não ficar dependendo de uma nostalgia artística. Muitos artistas fazem shows lotados, mas as pessoas vão lá para ouvir o que ouviam na infância. Não ficar nessa lugar, para mim, é uma honra, porque é muito difícil sair disso quando não se tem mais a mesma juventude e energia de antes”, pontua.  

“Eu sou completamente inquieta, mas ao mesmo tempo eu tenho uma mensagem que continua se espalhando por aí. É um turbilhão, mas é um privilégio enorme, que se persevera”, finaliza a cantora.

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QUEM FEZ

Giulianna Muneratto

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.

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