Reprodução/Facebook oficial
Compositor grego venceu o Oscar por Carruagens de Fogo e é considerado um pioneiro da música eletrônica
A morte do compositor Vangelis, confirmada nesta quinta-feira (19), deixou o mundo do cinema em luto. O grego Evángelos Odysséas Papathanassíou morreu aos 79 anos, na França, na última terça (17), de causa ainda não revelada. E sua obra musical foi tão pomposa quanto o nome de batismo.
Autodidata, Vangelis foi vencedor do Oscar pela trilha sonora épica de Carruagens de Fogo (1981), compôs para mais de 80 obras audiovisuais e é considerado um dos pioneiros da música eletrônica.
No Twitter, o primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, celebrou Vangelis como “o protagonista do som eletrônico, dos Oscars, da mitologia e dos grandes sucessos”.
Caso você não esteja associando o nome à obra, a Tangerina espreme essa para você.
É considerada, até hoje, a maior trilha sonora da história do cinema de ficção científica. E teve uma popularidade quase inédita na época do lançamento, quando em abril de 1982 liderou a parada de álbuns da Billboard. No mês seguinte, foi a vez de o tema de abertura do filme dirigido por Ridley Scott, Titles, chegar ao topo do ranking de singles norte-americano.
Para além dos marcos, isso significa que a trilha não foi só um condutor do filme e conquistou uma reputação própria enquanto obra de arte.
Vangelis compôs, arranjou, tocou e produziu cada parte da trilha sonora de Blade Runner. Hoje um instrumento quase fundamental da música pop, o sintetizador ainda era novidade naquele começo de década de 1980, e é ele que protagoniza as canções que o compositor criou para o filme.
Somada a inovação com uma visão orquestral apurada de Vangelis, a trilha de Blade Runner surpreende até hoje por levar o ouvinte a uma viagem única entre passado e futuro.
Caso você já tenha assistido a uma transmissão televisava de corridas, sabe do que estamos falando. Além de vencer o Oscar, a trilha de Carruagens de Fogo se tornou ícone esportivo —no Brasil, a canção tema era muito usada na São Silvestre.
A trama aborda dois corredores que tentam se classificar para os Jogos Olímpicos de Paris, em 1924. Por isso, a associação com momentos de glória esportiva. E não só: a música foi a escolhida por Steve Jobs para apresentar o primeiro Macintosh, em 1984.
Elementos da trilha de Carruagens de Fogo, inclusive, passaram a ser parte da assinatura de Vangelis, que voltaria, por exemplo, em Blade Runner. Nela, está o uso combinado de música orquestral, sons de sintetizadores eletrônicos, jazz e ambient music.
No longa de Oliver Stone, Colin Farrell, Angelina Jolie, Anthony Hopkins e grande elenco foram embalados por mais uma trilha épica de Vangelis.
O filme conta a história de Alexandre, O Grande, e Vangelis tentou simular como seria viver no período e na região retratados, enquanto fazia músicas para 2004. Mais uma vez, o instrumento principal foi o sintetizador.
Ridley Scott e Vangelis voltaram a trabalhar juntos em mais um épico. Desta vez, o filme narrava a viagem de Cristóvão Colombo para a América, e tinha no elenco Gerárd Depardieu e Sigourney Weaver.
A trilha sonora foi indicada ao Globo de Ouro daquela temporada. Desta vez, Vangelis foi além da fórmula tradicional com orquestra e sintetizador. Para as canções, escalou músicos tradicionais de flamenco, violinos, flautas, guitarra portuguesa e coros. Além disso, o compositor também fez consultas sobre música folclórica com especialistas para fazer jus aos sons que levou às salas de cinema.
Como o leitor deve ter notado, o começo da década de 1980 foi especialmente prolífico para Vangelis. Além de Blade Runner e Carruagens de Fogo, o compositor ainda entregou a trilha deste filme do compatriota Costa-Gavras, vencedor do Oscar de roteiro adaptado.
O trabalho de Vangelis foi reconhecido com uma indicação ao BAFTA, espécie de Oscar britânico. Para além disso, a peça de piano que o grego escreveu foi usada exaustivamente em comerciais televisivos. Curiosamente, no entanto, a trilha nunca foi lançada oficialmente.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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