NO PALCO

Leonardo Miggiorin

Divulgação/Arquivo pessoal

NOVO CICLO

Leonardo Miggiorin chega aos 40 com revolução: ‘Já engoli muito sapo’

Ator que foi alçado ao sucesso aos 19 anos foge de crise da meia-idade ao virar produtor de peça de teatro: 'É uma maneira de ganhar autonomia'

Luciano Guaraldo

Acredite se quiser, mas mais de duas décadas se passaram desde que a minissérie Presença de Anita (2001) esquentou o público da Globo com suas cenas sensuais. O ator Leonardo Miggiorin, que deu vida ao adolescente Zezinho, completou 40 anos em 2022. E, com o novo ciclo, veio também uma revolução. No profissional, ele quer empreender e fazer mais teatro –tanto no palco quanto nas coxias. No pessoal, aprendeu a se impor mais: “Já engoli muito sapo e ia chorar no canto”.

“É um momento de crescimento profissional, de mudanças internas, de entender que vivi uma fase linda e agora vou começar uma nova fase. Eu era introvertido, muito tímido, tinha medo das pessoas. Hoje, continuo com medo, mas não levo desaforo para casa. Não vou ficar guardando mágoa, já resolvo na hora mesmo. Se falar grosso comigo, vai ouvir na mesma moeda”, desabafa Miggiorin em conversa exclusiva com a Tangerina.

Antes que o leitor se assuste com a mudança de atitude, o ator faz questão de tranquilizar: sua fala dócil e seu jeito carinhoso não mudaram. “Eu procuro ser muito amável, até o ponto que dá. Porque acho que amável e gentil nós temos que ser a vida inteira. Mas dá para responder à altura em algumas ocasiões”, aponta.

A transformação, mais do que uma decorrência da maturidade trazida pelos 40 anos, aconteceu porque Miggiorin vivia uma situação insustentável a longo prazo. “Sempre tive muito medo de criar inimigos, tentava agradar a todos e dar conta de toda a expectativa para não decepcionar ninguém. Mas eu vivia angustiado, sem tempo para mim, e isso até me afastava das pessoas. Hoje, quero construir vínculos verdadeiros e duradouros. E ser feliz, acima de tudo!”

O desejo de buscar a felicidade ele tem realizado também no trabalho: estava em cartaz até o último domingo (11) com o musical A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa, baseado na obra de Clarice Lispector (1920-1977) –o espetáculo volta aos palcos no ano que vem. Na segunda-feira (12), ele ainda promoveu uma leitura de O Que Faremos com Walter?, texto do vencedor do Oscar Juan José Campanella (O Segredo dos Seus Olhos). Em vez de atuar, Miggiorin vai produzir –o projeto conta com Grace Gianoukas, Marianna Armellini, Norma Blum e Marcello Airoldi, entre outros.

Estar na produção é um passo extra para o artista, que quer acumular cada vez mais experiências diferentes. “Já fui contrarregra em Nova York, sonoplasta e iluminador no meu início de carreira, agora vou fazer assistência de direção e de figurino. Eu amo fazer teatro, produzir era uma vontade que estou realizando agora. Sempre quis empreender, é uma maneira de ganhar autonomia também. Todo mundo precisa encontrar formas de construir possibilidades e criar oportunidades. Na vida, nós sempre vamos depender uns dos outros, mas quanto menos você depender, melhor. Não fica à mercê das escolhas alheias e pode fazer as suas, entende?”, questiona o ator, que se define como “inquieto”.

A inquietude, aliás, o levou a conciliar o trabalho como ator com o estudo de Psicologia –ele precisava trancar a faculdade toda vez que era escalado para uma novela e demorou incríveis 13 anos para terminar o curso. Agora, está prestes a encerrar sua pós-graduação em Psicodrama –à qual ele mergulhou de cabeça durante a pandemia. “Juntei as duas linhas que estava estudando. É o teatro em função da cura, ou a cura através do teatro.”

“Eu estudo tanto, fui pensar para que serve tudo isso? Não foi só por causa da pandemia, mas ela atravessou tudo isso, com certeza. Comecei a buscar forças internas, minha fé em Deus, mas sempre olhando pro mundo”, filosofa ele, que aponta a importância da reflexão interna e externa no mundo atual. “Nós precisamos reconstruir nossas relações, porque a nossa afetividade mudou muito. Juntou a pandemia, o desemprego e a falta de perspectiva com a polarização da sociedade, então nós estamos muito machucados. Precisamos reconstruir, parar, respirar, dar um passo para trás.”

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QUEM FEZ

Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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