O LADO FRUTA DA FORÇA

Montagem com as personagens Annabeth Chase, Pequena Sereia e Pantera Negra, e a atriz Halle Bailey

Imagens: Divulgação Montagem: Tangerina

O Lado Fruta da Força

‘Mas e um Pantera Negro branco?’ Racismo reverso não existe, gente!

Annabeth Chase será interpretada por uma atriz negra na série de Percy Jackson para o Disney+. O mesmo será feito com a Ariel, em A Pequena Sereia. Vamos conversar sobre a importância dessas mudanças

Christian Gonzatti
Christian Gonzatti

Toda vez que sai uma notícia sobre atrizes ou atores negros sendo escalados para interpretarem personagens que são brancos, imediatamente pipocam comentários do tipo, relacionando a escolha a uma espécie de racismo ao contrário: 

“Ah, mas se fosse um personagem que não é branco sendo interpretado por um ator branco vocês iam fazer muito ‘mimimi’. Queria ver se o Pantera Negra fosse branco”. 

Bom, primeiro que essa prática existe. Não só na ficção, mas também com personas históricas. O nome dela é whitewashing (embranquecimento). Jesus Cristo, por exemplo, um símbolo religioso, foi embranquecido em retratos históricos, nas imagens canônicas do cristianismo e em quase todas as adaptações midiáticas. 

Há filmes em que isso também é feito, como o polêmico elenco de Deuses do Egito. 

Sobre o Pantera Negra, basta ligar dois neurônios para entender o porquê seria mais do que legítimo se indignar caso ele fosse interpretado nas suas adaptações midiáticas por um ator branco: a origem geográfica do personagem, a centralidade da desigualdade racial em muitas das suas histórias e o fato de quase todos os outros protagonistas de filmes de super-heróis serem atores brancos. 

E quando personagens brancos em uma mídia são interpretados por atores negros em uma outra mídia? Tipo o que aconteceu com a Annabeth Chase, que é descrita como loira e branca nos livros de Percy Jackson e nas artes da obra, mas que na série do Disney+ vai ser vivida pela atriz Leah Sava Jeffries, que é negra. 

A atriz Leah Sava Jeffries e Annabeth nas artes dos livros de Percy Jackson

Qual seria o nome desse movimento? Essa escolha também é racista? No caso, racista contra brancos? 

O nome desse movimento pode ser reparação histórica. E sobre ser racista contra brancos, eu preciso escrever em caixa alta: NÃO EXISTE RACISMO CONTRA PESSOAS BRANCAS AQUI (o chamado racismo reverso). 

Se você quer entender mais sobre o tema e o porquê não existe esse tal de “racismo contra brancos”, sugiro a leitura do livro bem curtinho e fácil de entender Racismo Estrutural, do Silvio de Almeida. 

E por que atos como esse são reparações históricas? De maneira extremamente resumida, porque, ao longo da nossa história ocidental, pessoas negras passaram por 300 anos bem recentes de escravidão (FAZ MENOS DE 135 ANOS QUE PESSOAS NEGRAS DEIXARAM DE SER ESCRAVIZADAS NO BRASIL, ACORDA!). E o processo de “abolição” foi muito injusto, gerando marginalização das pessoas negras que foram excluídas violentamente de muitos espaços, incluindo os da mídia (cinema, rádio, quadrinhos etc.).

Pessoas brancas não passaram por isso. Faz um esforço aí e conta quantas personagens brancas da fantasia você conhece. E personagens negras? Dá para contar nos dedos. De uma mão. E o mesmo com as “princesas da Disney”, com os super-heróis mais famosos e por aí vai. 

Halle Bailey foi a escolhida para dar vida à Pequena Sereia, Ariel.

É lógico que nem toda pessoa que fica frustrada em não ter exatamente a imagem da personagem que criou na sua mente quando lia um livro ou via um desenho é, necessariamente, racista. Isso muitas vezes acontece pelo sentimento de nostalgia. 

Só que vale refletir sobre o quanto a nostalgia pode nos limitar para novas sensibilidades. Querer conservar as imagens com as quais convivemos na infância e adolescência em nome da nostalgia pode resultar em ideais conservadores e, consequentemente, em reacionarismo. Você expurga tudo o que é diferente do seu repertório cultural e aos poucos se torna o tio ou a tia conservadora do rolê. 

Vamos, então, celebrar mudanças que ocorrem para ajudar a construir uma sociedade mais diversa!

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QUEM FEZ
Christian Gonzatti

Christian Gonzatti

Christian Gonzatti assina na Tangerina a coluna O Lado Fruta da Força, que fala do universo nerd com um olhar bem colorido. Ele preferia ser Mestre Jedi ou o Doutor Estranho, mas a vida só permitiu ser mestre e doutor em comunicação. LGBTQIA+, é criador da plataforma Diversidade Nerd nas redes. Um dos seus maiores sonhos é ser um X-Men e frequentar uma escola para mutantes em que a Lady Gaga seja a diretora.

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