ENTRE PÁGINAS

Robin Wright

Divulgação/Netflix

10 anos depois

House of Cards: 10 fatos da série que só quem leu o livro vai entender

House Of Cards mudou a TV para sempre. Dez anos depois, ainda existem elementos da narrativa que só fazem sentido para quem leu os livros

Beatriz Duranzi
Beatriz Duranzi

Quando House of Cards (2013-2018) chegou à Netflix, há dez anos, não só mudou o cenário da televisão para sempre como fez muitas pessoas se tornarem fãs e procurarem a versão britânica da história. A minissérie do Reino Unido, lançada em 1990, serviu de forte influência para a atração norte-americana produzida por David Fincher

O que muitos não sabem é que a série britânica, por sua vez, foi baseada em uma trilogia de livros escrita pelo britânico Michael Dobbs. O primeiro volume, também intitulado House of Cards, foi publicado em 1989 e ainda encanta os leitores que buscam uma história cheia de intrigas políticas. Alguns elementos da série, inclusive, fazem ainda mais sentido depois que você conhece a obra original.

[Atenção: spoilers de House of Cards à frente]

A morte de Zoe

Kate Mara

Zoe é morta ao ser empurrada na frente de um trem por Frank

Divulgação/Netflix

Com o lançamento da segunda temporada de House of Cards, muitos fãs ficaram chocados logo no final do primeiro episódio, quando a jornalista Zoe Barnes (Kate Mara) foi empurrada na frente de um trem por Frank Underwood (Kevin Spacey). O fim trágico de sua personagem não foi surpresa para a atriz, uma vez que seu contrato contava com apenas 14 episódios e a promessa de uma morte sangrenta.  

A situação toda, por mais chocante que fosse, teve ainda mais fundamento quando olhamos para os livros. Na obra de Michael Dobbs, Frank Urquhart cometeria suicídio pulando de um telhado. A história, no entanto, foi revisada para que o protagonista empurrasse a personagem Mattie (que na série virou Zoe) de cima do mesmo telhado. Ou seja, foi uma reviravolta chocante, mas totalmente baseada na obra original.   

Congressistas no poder

Robin Wright e Kevin Spacey

Robin Wright e Kevin Spacey eram um casal político em House Of Cards

Divulgação/Netflix

Para contar a história de um grande agitador do cenário político norte-americano, House of Cards fez uma escolha surpreendente ao tornar seu protagonista um congressista em vez de colocá-lo logo como o presidente ou o vice. Mas isso faz mais sentido quando se conhece a ideia original.  

É verdade que o programa narra a ascensão de Frank Underwood ao poder. Mas a posição de líder da maioria vem do cargo ocupado pelo personagem no livro, de congressista na Câmara dos Comuns no Reino Unido. É a mesma ideia geral, só que a série foi vagamente baseada na realidade, com Margaret Thatcher (1925-2013) servindo como personagem na obra literária. Se a Dama de Ferro estava na jogada, Francis não poderia ser primeiro-ministro. Ele tinha que ser um impulsionador político para mostrar que as pessoas mais influentes não são necessariamente os maiores nomes.

Diferenças ideológicas 

Ao longo da atração, fica confuso entender em que tipo de ideologia Frank Underwood se enquadrava. Ele era tecnicamente um liberal, mas muitas vezes parecia se interessar por políticas mais voltadas para as bases conservadoras. Parte disso servia pra mostrar que ele só se importava com o poder, independentemente de para qual lado servia.

Outra parte foi que o autor da obra original, Michael Dobbs, era chefe de gabinete no mandato de Margaret Thatcher como primeira-ministra. Ele trabalhou para o partido conservador, e o personagem Francis original deveria incorporar parte dessa ideologia, enquanto desempenhava principalmente o papel de uma figura shakespeariana, totalmente desprovida de um código moral.

Raízes sulistas

Kevin Spacey

Kevin Spacey era Frank Underwood em House Of Cards

Divulgação/Netflix

O sotaque de Frank Underwood é a marca registrada de seu personagem nefasto –ainda que, na época em que a série estava no ar, muitos telespectadores reclamaram da prosódia “forçada” de Kevin Spacey– e é apresentado ao público pela primeira vez na cena de abertura da atração, quando o personagem mata um cachorro doente. A partir daí, o espectador sabe que ele está disposto a fazer o que for preciso para se reerguer.

Essa crueldade é fundamentada em sua educação sulista e próspera, que difere ligeiramente da figura escocesa de alta classe da sua versão original, Urquhart. O britânico também estava disposto a fazer o que fosse necessário, e a razão pela qual Underwood veio do sul foi para incorporar essas qualidades paralelas que seriam encontradas em um escocês de origens antigas. 

Referências a figuras históricas 

Quando House of Cards começou, as principais figuras políticas eram fictícias. No entanto, o programa homenageou pessoas históricas da vida real. Esses momentos normalmente vinham acompanhados de um dos presidentes norte-americanos, como George Washington (1732-1799), Richard Nixon (1913-1994) e John F. Kennedy (1917-1963). 

Embora a série tenha avançado no domínio ficcional, o flerte com a política real dos Estados Unidos decorre diretamente do livro, que começa com um momento crucial da história do Reino Unido: a renúncia de Margaret Thatcher. Digamos que a primeira-ministra está para os livros assim como Nixon está para a série.

Das palavras de Michael Dobbs

Uma das frases mais famosas da série, de acordo com as frequentes quebras da quarta parede de Frank Underwood, ocorre quando ele se esquiva de uma pergunta de Zoe e fiz: “Você pode muito bem pensar isso. Eu não poderia comentar”.

A frase até pode combinar com o tom das outras citações de Frank, mas essa em específico soa um pouco diferente. Isso acontece porque ela vem diretamente dos livros e, consequentemente, da adaptação britânica de 1990 estrelada por Ian Richardson (1934-2007). É uma das falas matadoras do programa e foi escrita pelo próprio Dobbs. 

‘Call me Daddy’

Kate Mara e Kevin Spacey

Zoe (Kate Mara) e Frank (Kevin Spacey) tinham um relacionamento intrigante

Reprodução/Netflix

A estranha tensão sexual entre Frank e Zoe ao longo da primeira temporada foi no mínimo intrigante para muitos que assistiram à série, mas também levou muitas pessoas a se sentirem desconfortáveis –principalmente para quem a vê hoje em dia e sabe das denúncias de assédio sexual envolvendo Kevin Spacey

Um exemplo proeminente da diferença de idade assustadora ocorreu quando Frank provocou Zoe sobre o seu desejo de um feliz Dia dos Pais. É uma daquelas cenas difíceis de assistir. No entanto, o momento foi totalmente baseado na versão britânica da história, que constantemente colocava a personagem Mattie se referindo a Francis como “daddy” (papai, em inglês). Sim, é no mínimo assustador. 

Secretarias de Educação

Se alguém perguntasse a um fã de House of Cards quais os seus momentos favoritos da série, eles provavelmente responderiam com uma das cenas mais chocantes, de cair o queixo ou que despertam adrenalina. Mas esses momentos não teriam tanta importância sem a ênfase em alguns dos aspectos mais mundanos da política. Um exemplo disso é o destaque dado aos responsáveis pela área da educação na primeira temporada, quando um projeto de lei de ensino é um dos pontos focais do principal membro da oposição de Frank.

Isso também vem do livro, que coloca Harold Earle, o secretário de Educação, como um obstáculo na ascensão do protagonista ao poder. E há uma crítica social aqui. Há governos que estão tão ansiosos para alcançar o poder máximo que são capazes de atropelar a educação para chegar lá. Isso se aplica aos Estados Unidos e ao Reino Unido –mas um pouco ao Brasil também. 

Veneno

Veneno não é uma coisa tão difícil de entender se você não leu o livro. No entanto, seu uso na atração leva a uma referência interessante para o fã de House of Cards que leu os livros. Durante toda a quinta temporada da série, Claire (Robin Wright) entra no seu modo vilã de novela ao envenenar o escritor Tom Yates (Paul Sparks) em uma reviravolta chocante. Já em 1989, Francis Urquhart usou da mesma arma para eliminar Roger O’Neill, um relações públicas que ele havia chantageado para que trabalhassem juntos. Na ocasião, o Frank original misturou veneno de rato na cocaína do rival. Bizarro, né?

Chantagem 

Derek Cecil

O personagem de Derek Cecil em House Of Cards era um grande chantagista

Divulgação/Netflix

Assassinato, veneno e casos extraconjugais foram usados para criar House of Cards. Mas poucos crimes ficaram tão em evidência quanto a chantagem, que está no DNA da história desde o primeiro livro da série. O já mencionado Earle é chantageado no livro, assim como Patrick Woolton, secretário de Relações Exteriores.

Essa é toda a permissão de que a atração da Netflix precisava para também se envolver no reino da chantagem –que, convenhamos, deve ser muito comum na política. Ela vem tanto de hackers de Washington quanto de funcionários judiciais, mas se torna mais proeminente no personagem de Seth Grayson (Derek Cecil) e em todo o seu arco narrativo.

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Beatriz Duranzi

Beatriz Duranzi

Estudante de jornalismo na Anhembi Morumbi, Beatriz é estagiária na Tangerina. Apaixonada pelo mundo do entretenimento, ela é especialista em cuidar da vida alheia nas redes sociais.

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