Há 10 anos, James Bond entregava sua grande decepção moderna

Quando Spectre chegou aos cinemas em novembro de 2015, a expectativa era imensa. Daniel Craig vivia o auge de sua fase como 007, impulsionado pelo enorme sucesso de Skyfall, que havia recuperado o prestígio da franquia e se tornado um fenômeno mundial. Tudo indicava que o novo capítulo consolidaria essa retomada, apresentando o retorno oficial da organização SPECTRE e do icônico vilão Blofeld. No entanto, o que veio a seguir foi um filme que dividiu o público e rapidamente se tornou um dos pontos mais controversos da história recente de James Bond.

007 Contra Spectre completa 10 anos nesta quinta-feira (6), marcado por uma reputação que permanece difícil de apagar: a de ter sido a grande decepção moderna do espião mais famoso do cinema. No Rotten Tomatoes, o longa registra apenas 63% de aprovação da crítica e 61% do público, reflexo de uma recepção morna para um projeto que tinha tudo para ser um marco. Seu lançamento também ficou abaixo do impacto cultural de Skyfall, deixando a sensação de que a franquia havia perdido uma oportunidade rara.

Boa parte da frustração vem da própria história. Spectre tentou conectar à força todos os filmes anteriores de Daniel Craig, revelando que a organização estava por trás de cada evento importante desde Casino Royale. A ideia de transformar Blofeld no grande arquiteto do sofrimento de Bond foi vista como artificial e pouco convincente. A revelação de que o vilão era irmão adotivo do protagonista apenas reforçou a impressão de que o roteiro tentava criar impacto emocional sem base narrativa suficiente.

James Bond pisou na bola com Spectre

Outro ponto amplamente criticado foi o desenvolvimento dos personagens. A relação entre Bond e Madeleine Swann (Léa Seydoux), que deveria dar coração ao filme, é percebida como apressada e sem química. A construção do romance não convence e dificulta que o espectador se envolva emocionalmente com os rumos da história, especialmente em seu desfecho. Mesmo momentos que deveriam carregar peso dramático acabam soando vazios.

Até Christoph Waltz, premiado e celebrado por suas atuações anteriores, teve pouco espaço para brilhar. Seu Blofeld é considerado subaproveitado, aparecendo pouco e sem o impacto ameaçador que o personagem histórico sempre carregou na franquia. O vilão, que deveria ser o grande diferencial de 007 Contra Spectre, se tornou um dos seus aspectos mais questionados.

O ritmo também é alvo constante de críticas. Com 2h28 de duração, o filme é lembrado por uma narrativa longa, lenta e, em muitos trechos, desconectada. Há sequências de ação elogiadas, como a abertura no Dia dos Mortos e a luta contra o capanga Mr. Hinx no trem. Mas elas não foram suficientes para sustentar o restante do enredo, que é visto como burocrático e pouco envolvente.

Uma década depois, 007 Contra Spectre permanece como um capítulo incômodo dentro da fase Craig. Mesmo com Sem Tempo para Morrer recuperando parte da força emocional da franquia, o longa de 2015 segue como um ponto de inflexão, lembrado como o momento em que James Bond tropeçou justamente quando parecia estar em seu melhor momento. É um caso raro em que o peso da expectativa se tornou maior do que o próprio filme.

007 Contra Spectre está disponível no Prime Video. Assista abaixo ao trailer do filme: