(Foto: Reprodução/Netflix)
Magnata conseguiu ludibriar o sistema judicial dos Estados Unidos, mas morreu na prisão de forma suspeita
Jeffrey Epstein (1953-2019) voltou ao centro da discussão nos Estados Unidos recentemente, gerando questionamentos sobre o envolvimento do magnata com figuras poderosas, incluindo o presidente Donald Trump. A complexidade do escândalo intensificou a pressão sobre Trump para que documentos da investigação fossem liberados. Embora o legista-chefe de Nova York tenha determinado que a morte de Epstein foi suicídio por enforcamento, suas conexões com indivíduos ricos e influentes alimentaram diversas teorias da conspiração e muitas especulações.
Para aprofundar a compreensão sobre quem foi o magnata e a extensão de seus crimes sexuais, a série documental da Netflix, Jeffrey Epstein: Poder e Perversão, oferece uma perspectiva interessante.
A minissérie de quatro episódios, lançada em 2020, sintetiza informações legais com depoimentos em primeira pessoa das vítimas, revelando os abusos do bilionário e a imunidade que ele conseguiu comprar. A produção, que começou antes da prisão e morte de Epstein, não pretende trazer fatos inéditos, mas sim consolidar a vasta quantidade de dados existentes com o impacto visceral das narrativas das sobreviventes.
Ela ilustra como Epstein, um financista com um estilo de vida opulento e relações com personalidades poderosas como Bill Clinton, o Príncipe Andrew e Donald Trump, além de ser um doador de instituições renomadas como Harvard e MIT, conseguiu ludibriar o sistema judicial dos Estados Unidos para escapar de uma sentença que provavelmente seria de prisão perpétua por abuso sexual e tráfico de crianças.
A série centra-se nas diversas experiências das sobreviventes, algumas das quais falando publicamente pela primeira vez. Detalha-se como, já em 1996, a pintora Maria Farmer e sua irmã adolescente contataram o FBI com alegações de moléstia por Epstein e sua ex-namorada Ghislaine Maxwell, sem sucesso.
Em 2005, a polícia de Palm Beach iniciou uma investigação sobre uma suposta rede de sexo operada na mansão de Epstein, onde ele e Maxwell teriam coagiado garotas do ensino médio, muitas delas com cerca de 14 anos e em situações de vulnerabilidade financeira, a atos sexuais sob o pretexto de “massagens” em troca de dinheiro.
As denúncias se expandiram, incluindo o tráfico de “favoritas” para amigos abastados em festas nas propriedades de Epstein em Nova York, Londres e sua ilha particular no Caribe. Virginia Giuffre, uma das vozes proeminentes na série, afirma ter sido forçada a ter relações sexuais com o Príncipe Andrew, alegações que ele nega. Giuffre conheceu Maxwell em Mar-a-Lago, propriedade de Donald Trump, em 1999.
Um ponto central da narrativa é o controverso “acordo de não-prosecução” de 2008, mediado por Alex Acosta, então procurador estadual, e pela equipe jurídica de Epstein, que incluía Alan Dershowitz. Esse acordo selado concedeu imunidade a Epstein e a co-conspiradores, resultando em Epstein se declarando culpado de duas acusações de prostituição em um tribunal estadual, cumprindo apenas 11 dos 13 meses de pena em uma prisão em Palm Beach, com a permissão de sair seis dias por semana para “trabalho”.
Joe Berlinger, produtor executivo da série, considerou a “encarceramento” de Epstein ultrajante, dado que ele “continuava a se encontrar com garotas, a fazer dinheiro e a conduzir negócios”.
A diretora Lisa Bryant observou que a capacidade de Epstein de se esquivar da Justiça durante anos expôs um sistema criminal americano “construído para dinheiro, poder e ganho político”. A série da Netflix explora como Epstein mantinha seu círculo de poderosos em silêncio por meio de chantagem, e como as vítimas se viam presas, dependendo dele para suas necessidades básicas e temendo por suas vidas.
A morte de Jeffrey Epstein, oficialmente classificada como suicídio por enforcamento em uma prisão de Nova York em agosto de 2019, é um tema abordado pela série, que não endossa, mas discute as teorias da conspiração.
Embora um especialista externo contratado pelo irmão de Epstein tenha levantado dúvidas não comprovadas sobre a causa da morte, citando uma fratura incomum no pescoço, Berlinger afirmou que a produção não encontrou “nada que apoiasse definitivamente a ideia de que ele foi assassinado”, embora sentissem que as teorias deveriam ser mencionadas. Berlinger, pessoalmente, acredita que foi suicídio.
A morte de Epstein privou as sobreviventes de seu dia no tribunal, embora algumas tenham deposto em uma audiência póstuma.
O próprio Donald Trump, em diversas entrevistas, deixou em aberto a possibilidade de que Epstein não tivesse cometido suicídio. Durante a campanha presidencial de 2024, ele chegou a prometer que desclassificaria os “arquivos Epstein”. Em um momento, a procuradora-geral Pam Bondi mencionou que uma suposta lista de clientes de Epstein estava “em sua mesa para revisão”.
Contudo, o governo americano subsequentemente recuou, afirmando que não havia nenhuma lista de clientes incriminatória e que não planejava divulgar novos documentos, o que causou frustração entre os apoiadores de Trump. O Departamento de Justiça divulgou um memorando em julho de 2025 concluindo o suicídio de Epstein e a inexistência de uma lista, além de dez horas de imagens de segurança da prisão que não mostravam a entrada de ninguém na cela no dia de sua morte.
Trump reagiu a perguntas sobre o caso, qualificando-as como “profanas” e questionando o interesse público em um momento de outras crises nacionais. David Schoen, ex-advogado de Epstein, também negou a existência de uma “lista de clientes”. Apesar da negação, Trump ordenou a divulgação de depoimentos do grande júri relacionados ao caso, sujeitos à aprovação judicial, classificando isso como um “golpe perpetuado pelos democratas”.
Relatos jornalísticos, como os do Wall Street Journal, expuseram uma suposta carta com a assinatura de Trump e um desenho de uma mulher nua enviada a Epstein em 2003, o que Trump negou, resultando em um processo contra o jornal. Novas imagens divulgadas pela CNN confirmaram a presença de Epstein no casamento de Trump em 1993 e em um evento de moda em 1999.
Em julho de 2025, o Departamento de Justiça entrou em contato com Ghislaine Maxwell, ex-parceira de Epstein, para uma reunião. A procuradora-geral Pam Bondi informou a Trump em maio que o nome dele aparecia nos arquivos de Epstein, embora o contexto fosse incerto e muitas alegações fossem consideradas infundadas pelo Departamento de Justiça.
A complexa rede de poder, abuso e impunidade que cercou Jeffrey Epstein é como um nó cego na tapeçaria da justiça; para muitos, a série da Netflix serve como uma luz que, embora não desfaça completamente o nó, ajuda a revelar suas intrincadas tramas e a verdadeira dimensão da sombra que ele projetou.
Além da Netflix, a HBO Max também disponibiliza dois documentários sobre a vida e a morte de Jeffrey Epstein.
Vinícius Andrade
Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local. E-mail: vinicius@tangerina.news
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