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Rei dos filmes de ação faz cinema autoral, mas isso não basta para salvar Ambulância - Um Dia de Crime de um colapso narrativo
É muito fácil jogar pedra em Michael Bay. Famoso por seus videoclipes e filmes de ação frenéticos, o cinema do diretor estadunidense é normalmente classificado pela crítica como algo de segunda categoria. Mas tente pensar aí no nome de outro cineasta especializado nesse gênero? Pois é. Difícil lembrar de outro que não seja Michael Bay, que retorna aos cinemas com o insano Ambulância – Um Dia de Crime, com estreia nas salas brasileiras nesta quinta-feira (24).
Gostando ou não, Bay faz cinema de autor. Quem disse que um diretor precisa fazer “cinema de arte” para ter sua assinatura? Ambulância – Um Dia de Crime é Michael Bay da cabeça aos pés. Coisa que, convenhamos, é um alento nesse universo dos blockbusters onde cineastas devem seguir uma cartilha rígida do estúdio para ter a “oportunidade” de alçar voos para além do circuito indie. Alguém aí pensou em Marvel?
A grife Bay é tão consolidada que faz uma autorreferência em seu 12º longa. Em uma cena, enquanto dois policiais conversam, citam Os Bad Boys (1995) e A Rocha (1996), os dois primeiros filmes do cineasta. É claro que é uma brincadeira, mas nós sabemos que em toda brincadeira há um fundo de verdade.
Remake anabolizado de um filme dinamarquês de 2005, Ambulância – Um Dia de Crime é, basicamente, um filme de perseguição de carros. Nele, os irmãos Danny e Will Sharp (Jake Gyllenhaal e Yahya Abdul-Mateen II, respectivamente) foram criados no meio do crime. Enquanto Danny seguiu por esse caminho, Will preferiu se alistar e lutar no Afeganistão. Porém, já de volta, Will luta em vão para que o plano de saúde pague uma caríssima cirurgia em sua esposa, que tem câncer. Desesperado, ele procura o irmão, que o convida a participar de um grande assalto a um banco no centro de Los Angeles. Na fuga, eles acabam roubando uma ambulância onde a socorrista Cam (Eiza González) atendia um policial gravemente ferido no roubo.
Trailer de Ambulância - Um Dia de Crime (2022)
Novo filme de Michael Bay é como andar em uma montanha russa por mais de 2 horas
É a partir daí que o filme começa pra valer. Uma sucessão de situações limite em alta velocidade tão absurdas quanto em qualquer outra obra de Bay. Um diretor que tem seus méritos em fazer exatamente o que quer. Agora… ter uma assinatura própria e ser conhecido por ela é uma coisa. Fazer bons filmes é outra completamente diferente.
Há momentos realmente muito bons em Ambulância – Um Dia de Crime. Sequências que geram tensão real em quem assiste. Mas o todo é tão recheado de breguice e tomadas de drones desnecessárias que a experiência se perde totalmente. No final, a sensação que se tem é que você acabou de fazer um passeio de mais de duas horas na Decepticoaster, montanha russa baseada na franquia Transformers, um filhote de Bay. E isso não é nada elogioso. Dê uma olhadinha neste vídeo aqui e você entenderá.
A opção de não criar personagens complexos em um filme de ação é até compreensível. É a maldição de John Wick fazendo mais uma vítima. Bay já deveria ter entendido que quanto mais sabemos sobre um personagem, mas nos colocamos em seu lugar e maior será o impacto emocional de suas ações. Mas é exatamente isso que ele resolve cortar das quase intermináveis 2 horas e 16 minutos de tiroteio, gritaria, capotagens e explosões as quais nos submete. Fora que, baseado nos momentos mais íntimos de seus personagens, Bay nos entrega algumas das cenas mais piegas do cinema nas últimas décadas.
Comparando com seus dois trabalhos anteriores, os horrorosos Transformers: O Último Cavaleiro (2017) e Esquadrão 6 (2019), Ambulância – Um Dia de Crime é até um tipo de volta por cima de Bay. Um filme que -é bom deixar claro- pode, sim, te entreter. Só é uma pena que o diretor prefira investir em câmeras tremidas e diálogos com alta profusão de piadinhas por segundo para celebrar um tipo de cinema muito popular na década de 1990. Vale mais a pena você ver (ou rever) Velocidade Máxima (1994), A Outra Face (1997) ou os mesmos filmes de Bay citados pelos policiais em Ambulância. Você vai se divertir mais.
Rafael Argemon
Rafael Argemon é criador do perfil O Cara da Locadora no Instagram e também assina uma coluna com o mesmo nome na Tangerina, onde indica as pérolas escondidas nas plataformas de streaming. Cinéfilo e maratonador de séries profissional, passou por Estadão, R7, UOL, Time Out e Huffpost. Apaixonado por pugs, sagu e jogos do Mario.
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