FILMES E SÉRIES

Marjorie Estiano como Ângela Diniz e Emilio Dantas como Doca Street em série da HBO Max

(Foto: Divulgação/HBO Max)

TEMA DE SÉRIE

Ângela Diniz: Quem foi Doca Street e o que aconteceu após julgamentos

Ele chegou a ser ovacionado depois que a defesa emplacou tese da legítima defesa da honra para justificar crime

Vinícius Andrade, Tangerina
Vinícius Andrade

A história de Ângela Diniz (1944-1976) está sendo contada em detalhes na minissérie Assassinada e Condenada, da HBO Max. A partir do terceiro episódio, que fica disponível para assistir no streaming nesta quinta-feira (20), a trama protagonizada por Marjorie Estiano começará a mostrar como a socialite mineira se envolveu com Raul “Doca” Fernandes do Amaral Street, homem que viria a assassiná-la meses depois. A Tangerina te explica o caso real.

Em 1976, Ângela Diniz tinha um relacionamento aberto com o colunista social Ibrahim Sued (1924-1995), que é interpretado por Thiago Lacerda na série da HBO Max. Foi ele, aliás, quem a apelidou de “A Pantera de Minas”. Ela e o jornalista eram muito mais do que amantes na cama. Tinham uma relação de confiança e amizade.

Por causa da relação com Sued, ela foi a uma festa em São Paulo na casa da milionária Adelita Scarpa, prima de Chiquinho Scarpa, famoso playboy da noite paulistana. Adelita, interpretada por Daniela Galli em Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, era casada com Raul “Doca” Street –ele, inclusive, trabalhava nas empresas da família Scarpa.

Uma rápida observação: Para quem estiver interessado em saber quem era Ibrahim Sued, recomendo assistir ao documentário “Ademã – A Vida e As Notas de Ibrahim Sued”, lançado em 2022 pela GloboNews e disponível para ver no Globoplay.

O caso de Ângela Diniz com Doca Street

A relação entre Raul e Ângela foi muito rápida. Do encontro na casa de Adelita (em agosto de 1976) ao assassinato (em dezembro de 1976) foram apenas quatro meses. Doca Street abandonou o casamento com a herdeira da família Scarpa, enquanto a socialite deixou a relação romântica com Ibrahim Sued. Ela foi assassinada a tiros por seu então companheiro. O crime aconteceu na Praia dos Ossos, em Armação dos Búzios, na Região dos Lagos do Rio, em 30 de dezembro de 1976.

Em 2006, 30 anos depois do crime, Doca lançou o livro Mea Culpa. Na obra, ele deu a sua versão sobre o caso, pediu perdão à família dela e disse o que teriam sido as últimas palavras da vítima. “Se quiser me dividir com homens e mulheres – e aí ficou exaltada -, pode ficar, seu corno! E bateu a pasta com toda a força em meu rosto (…) Levantei-me e fui apanhá-la, a pasta estava aberta e minha arma estava no chão. (…) Quando me virei, xingando-a, já estava atirando. Disparei várias vezes de maneira mecânica.”

Doca Street em 1979 e a arma do crime que matou Ângela Diniz

Doca Street em 1979, ano do primeiro julgamento, e a arma do crime

(Fotos: Reprodução/TV Globo)

Não houve mistério para descobrir quem matou Ângela Diniz, mas houve um julgamento que entrou para a história como um símbolo da desvalorização da mulher. Naquela época, o crime de feminicídio não existia no Brasil. Só virou lei em 2015.

O polêmico julgamento de Doca Street

Em 1979, ano do primeiro julgamento de Doca Street, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) escreveu: “Aquela moça continua sendo assassinada todos os dias e de diferentes maneiras”.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, publicada em 2006, Drummond referia-se à estratégia da defesa de Doca Street, que mostrava Ângela Diniz como uma “femme fatale”, “vênus lasciva” movida a cocaína e álcool e que, depois de forçá-lo a abandonar família e amigos, quis desonrá-lo.

A tese da legítima defesa da honra foi usada, entre outros advogados, pelo prestigiado criminalista Evandro Lins e Silva (1912-2002) para justificar o crime e tentar inocentar seu cliente, Raul. O advogado, que já havia atuado como procurador-geral da República, ministro-chefe da Casa Civil, ministro das relações exteriores e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) antes de defender Doca, é interpretado por Antonio Fagundes na série da HBO Max.

Antonio Fagundes como o advogado Evandro Lins e Silva na série de Ângela Diniz na HBO Max

Antonio Fagundes e o advogado Evandro Lins e Silva verdadeiro

(Fotos: Divulgação/HBO Max e Divulgação/OAB)

O argumento da legítima defesa da honra não consta no Código Penal brasileiro. No primeiro júri, porém, o argumento deu certo. O empresário terminou condenado a apenas dois anos de prisão. Saiu livre e ovacionado do tribunal. Pediam-lhe autógrafos nas ruas. Doca ganhou a liberdade e, além de vender carros para ganhar a vida, conquistou várias outras mulheres.

“No primeiro dia, saindo de casa, parei no sinal ao lado de um ônibus. Ouvi que me chamavam, e vi dois rapazes berrando: É isso aí, fez muito bem’ – diz Doca – ‘Outra vez, no Viaduto do Chá, disse a uma senhora que pedia um autógrafo para a filha: ‘Os jornais dizem que sou um gigolô e traficante, é esse o ídolo da sua filha?'”. Trecho de entrevista da revista Época, em 2006, com Doca Street.

O segundo julgamento

Ainda de acordo com reportagem da Época, em 1980, depois do julgamento de Doca, seis maridos mineiros assassinaram mulheres em nome da honra. Movimentos feministas iniciaram uma campanha: Quem Ama Não Mata. O primeiro julgamento foi anulado.

Em 5 de novembro de 1981, o assassino voltou ao tribunal. Dessa vez, terminou condenado a 15 anos, dos quais cumpriu três em regime fechado, dois no semiaberto e dez em liberdade condicional.

Doca Street mais velho; ele morreu em 2020, aos 86 anos

Doca Street ficou assim quando mais velho

(Fotos: Reprodução/TV Globo)

Sobre Ângela Diniz, Doca Street disse o seguinte na entrevista de 2006: “Foi a mulher que mais amei. Mas era uma vida doentia. Amor, uísque, champanhe, fumo, amor, pó, vodca. Mas essa coisa que envolvia a Ângela era o que mais me atraía para ela. Aquela loucura toda, transar escondido nos lugares mais estranhos. Era o que fazia a adrenalina subir”.

Raul Fernando do Amaral Street morreu em 18 de dezembro de 2020, aos 86 anos, ao sofrer um ataque cardíaco. Ele deixou três filhos e netos.

Ângela Diniz: Assassinada e Condenada

  • Marjorie Estiano como Ângela Diniz
  • Emilio Dantas como Doca Street
  • Antonio Fagundes como o advogado e ex-ministro do STF Evandro Lins Silva
  • Thiago Lacerda como o colunista social Ibrahim Sued
  • Camila Márdila como Lulu Prado
  • Yara de Novaes como Maria Diniz
  • Thelmo Fernandes como Milton Villas Boas
  • Renata Gaspar como Gilda Rabelo
  • Joaquim Lopes como Tuca Mendes
  • Emílio de Mello como Evaristo de Moraes
  • Inspirada no premiado podcast Praia dos Ossos, a minissérie HBO Max explora como Ângela foi duplamente vitimada, sendo julgada e culpabilizada pelo próprio crime em um processo que expôs o machismo estrutural presente no Judiciário e na opinião pública da época. São seis episódios, lançados semanalmente, sempre às quintas-feiras. O último está marcado para ser liberado em 11 de dezembro.

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    Vinícius Andrade, Tangerina

    Vinícius Andrade

    Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local. E-mail: vinicius@tangerina.news

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