Tony Rivetti © 2022 Orion Releasing LLC. All Rights Reserved
Novo filme do Prime Video, Anything's Possible poderia ser o filme teen LGBTQIA+ perfeito, mas roteiro é superficial demais
A premissa era boa: trazer o astro de Pose (2018-2021) e ícone LGBTQIA+ Billy Porter para dirigir seu primeiro filme, um coming of age da Geração Z cheio de representatividade, com uma protagonista trans e negra. Mas, na execução, o roteiro de Anything’s Possible (2022) –que estreia nesta sexta-feira (22) no Prime Video– falha ao entregar o que poderia ter sido o filme teen perfeito.
No longa, acompanhamos Kelsa (Eva Reign), uma garota trans em seu último ano do colégio. Ela é confiante, tem amigas próximas, divide uma boa relação com a mãe, já superou os colegas preconceituosos e compartilha seus sentimentos mais profundos em um canal no YouTube para que outras pessoas se identifiquem.
As coisas ganham ainda mais potencial com o surgimento de Khal (Abubakr Ali), um jovem sensível que se torna dupla de Kelsa nas aulas de Artes. Usuário ativo do Reddit –onde distribui conselhos amorosos para anônimos– ele acaba se apaixonando pela garota, mas tem medo do que pode acontecer se chamá-la para sair.
Trailer de Anything's Possible
O filme dirigido por Billy Porter está disponível no Prime Video
O filme começa leve e divertido. Ele chega para mostrar que é, sim, possível para um jovem trans ter uma adolescência tranquila, com amor, grandes amizades e apoio da família. Foi esse tom que guiou recentemente a série Heartstopper, da Netflix, e funcionou tão bem entre o público, depois de várias produções que traziam a temática LGBTQIA+ sempre associadas a uma história trágica ou difícil.
Se a história continuasse assim, tinha potencial para se tornar aquele filme teen clássico que todo adolescente gosta de ver, com o bônus de trazer representatividade não só em identidade de gênero, mas também sexualidade, raça e até em detalhes mais sutis, como adolescentes com corpos e rostos reais, sem tentar esconder “imperfeições” como espinhas, por exemplo.
No entanto, o filme se perde em inconsistências e simplificações do próprio roteiro. Para ajudar a criar uma tensão para o clímax, a história coloca drama em todas as áreas da vida de Kelsa que antes tinham sido apresentadas como seguras e estáveis. De uma hora pra outra –por motivos superficiais e pouco desenvolvidos–, ela começa a ter conflitos com a mãe, com uma das melhores amigas, com Khal e até com a escola, que parecia um ambiente tão acolhedor.
Khal e Kelsa em Anything's Possible
Tony Rivetti © 2022 Orion Releasing LLC. All Rights Reserved.
Com tanto drama ao mesmo tempo, as discussões ficam jogadas, e temas importantes –a questão de banheiros divididos por sexo para pessoas trans, por exemplo– são deixados de lado, em vez de serem tratados com a atenção que merecem. Até diálogos que deveriam aprofundar relações acabam se resumindo apenas a olhares –não num bom sentido.
No final, Anything’s Possible quer focar em tanta coisa que a mensagem final quase passa batida. A representatividade e a química do casal principal, que divide cenas fofíssimas enquanto amadurece durante o filme, infelizmente não são suficientes para tornar o filme memorável, mas ainda assim o tornam extremamente importante e, com sorte, um primeiro passo pra inspirar muitos outros do gênero no futuro.
Bruna Nobrega
Bruna Nobrega passou pelas redações da Capricho, do Hugo Gloss e da Loading antes de abraçar as redes sociais da Tangerina. Não resiste a filmes e séries teens, ama músicas com uma boa fofoca por trás, é swiftie de carteirinha e fã de Crepúsculo.
Ver mais conteúdos de Bruna NobregaTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?