Armageddon Time: Anne Hathaway estrela filme com cheiro de Oscar

O fim de cada ano marca o lançamento de vários filmes que podem aparecer na lista de indicados ao Oscar da temporada seguinte. Entre os muitos títulos que já estrearam ou ainda vão chegar aos cinemas, um dos mais notórios é Armageddon Time (2022), estrelado por Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada), Jeremy Strong (Succession) e Anthony Hopkins (Meu Pai).

Escrito e dirigido por James Gray (Ad Astra), o longa é um retrato semibiográfico da infância do cineasta enquanto filho de judeus residentes no Queens, em Nova York (EUA), durante os anos 1980. Em uma época no qual o país se encontrava dividido após Ronald Reagan (1911-2004) ser eleito presidente, Gray enfrentava dificuldades na escola e em casa.

Nascido em uma família branca de classe média, o jovem Paul Graff (Banks Repeta, que representa Gray no longa) é considerado um problema pelos pais Esther (Anne) e Irving (Strong). Arteiro, o rapaz inferniza a vida de seu professor do colégio ao lado do amigo Johnny (Jaylin Webb), menino negro criado pela avó em um bairro pobre da cidade.

Através de Paul, Gray está contando sua própria história pessoal como ele se lembra, tornando-se o personagem principal de sua jornada nostálgica e colocando as pessoas ao seu redor como coadjuvantes. Rebelde, o garoto tem como ídolo o seu avô Aaron (Hopkins), judeu nascido na Ucrânia e que fugiu de seu país natal para os Estados Unidos após sua mãe sofrer com preconceito.

Para conectar o público com o contexto de sua infância, o cineasta usa a inocência de Paul enquanto jovem entrando na puberdade para questionar a sua própria ignorância na época. Metido a “sabichão”, o jovem considera a sua família rica por ser mais favorecido do que Johnny, enquanto seus pais lutam para tentar sobreviver em meio a uma crise financeira.

Banks Repeta e Anthony Hopkins

Divulgação/Universal Pictures

O descuido dos meninos enquanto aprontam é retratado para mostrar como suas atitudes podem causar um enorme impacto de maneiras inesperadas, seja abandonando uma excursão ou fumando um baseado na escola, e a punição final vem na raiva e na decepção dos pais. A beleza de Armageddon Time surge na capacidade de Gray de apresentar este mundo através dos olhos de uma criança –para o melhor e para o pior.

No filme, assim como na vida real, os personagens –e a sociedade– são falhas. Esther tenta ensinar o lado bom do mundo para o seu filho, mas acaba por tropeçar em seus próprios preconceitos enraizados. Já Irving é o retrato de um pai nascido em um mundo conservador e usa da violência e do abuso para exercer a sua força dentro de casa, mesmo que demonstre empatia e serenidade em outros momentos.

Entre estas falhas, o olhar inocente de Paul também acaba por presenciar o racismo e a falta de igualdade nas consequências de seus atos e os de Johnny. Ciente de seu desfavorecimento, o amigo rejeita o apoio do protagonista e abraça um destino sombrio que ele sempre considerou como seu. Tudo isso durante o medo de uma guerra nuclear que amedrontava a população e, não por acaso, levou Reagan à presidência.

Ao revisitar estes conflitos, Gray mostra que ainda luta para aceitar suas decisões enquanto jovem. Johnny torna-se mais uma ferramenta para Paul aprender lições do que uma pessoa real –lições estas sempre turbinadas pelos discursos progressistas e empáticos ditos pelo avô Aaron, que surge quase como uma luz em uma sociedade entregue às diferenças sociais e morais.

De forma melancólica –assim como em quase todos os seus filmes–, Gray usa da nostalgia para mostrar as dores e a beleza de sua juventude. Armageddon Time não é um drama semibiográfico que se exime de falhas, principalmente quando tenta abordar socialmente o contexto de Johnny, mas é um filme forte e que tem as características perfeitas para agradar à Academia e buscar um lugar entre os indicados ao Oscar 2023.

Armageddon Time

Trailer oficial legendado