Blonde: Como Marilyn Monroe, Ana de Armas dispara para o Oscar 2023

Um dos filmes mais aguardados do ano, Blonde (2022) não é uma cinebiografia tradicional de Hollywood. Inspirado no livro homônimo de Joyce Carol Oates sobre a vida de Marilyn Monroe (1926-1962), o longa pode ser descrito como um melodrama gótico quase expressionista. O que é visto em tela não necessariamente corresponde aos fatos da história de um dos grandes ícones da chamada Era de Ouro de Hollywood, mas a representações da vida privada e pública feitas como se estivessem sendo contadas através de uma fábula com elementos fantásticos.

Na pele de Marilyn, a cubana Ana de Armas entrega aquela que deve ser a melhor performance de sua carreira até aqui. Do visual aos trejeitos, a atriz de 34 anos convence como as duas “personas” que a estrela de Os Homens Preferem as Loiras (1953) carregava nos bastidores. De um lado, a sex symbol mais desejada pelos homens nos anos 1950; do outro, a inocente Norma Jeane, cujo sonho de se tornar uma estrela surgiu dos traumas envolvendo a criação abusiva que havia sofrido da mãe e os rumores de que seria filha de um magnata de Hollywood.

Para aqueles que vão assistir ao filme pensando em conhecer detalhes picantes da vida de Marilyn, Blonde pode decepcioná-los. Por mais que Ana de Armas surja em sequências sensuais entre os mais variados relacionamentos que a loira teve ao longo da vida, a narrativa sempre retorna ao ponto de partida. No fundo, a beldade vista nos filmes e revistas era uma mera máscara utilizada por Norma Jeane para encobrir traumas e abusos que sofreu por toda a sua vida.

Ana de Armas como Marilyn Monroe

Divulgação/Netflix

Muito mais do que um conto sobre a ascensão de uma estrela, o longa é uma análise da crueldade que poderia ser a vida de uma atriz de Hollywood em uma época bem antes da existência de movimentos como o Me Too. Sexualizada em quase todas as camadas da indústria, Marilyn era vista como um corpo bonito por todos, do presidente dos estúdios aos diretores de elenco. Se Norma Jeane buscava interpretar personagens nos quais via a si mesma, os produtores só tinham olhos para seu rosto e corpo que seguiam todos os padrões da indústria.

Com Blonde, o diretor Andrew Domink transforma os traumas da atriz em filmes de horror. Sua mãe psicótica a coloca em um carro e dirige rumo a um incêndio, para pouco depois tentar matá-la afogada. Uma audição inicial para um filme se transforma em um estupro, enquanto suas relações amorosas beiram o delírio de tão tóxicas –Joe DiMaggio (Bobby Cannavale) lhe dá uma surra após um surto de ciúme por causa de fotos.

Depois de ser colocada em um orfanato e nunca saber a identidade de seu pai, Norma Jeane questiona tanto sobre si mesma que nunca é capaz de formar uma identidade além daquela que é pedida à sua persona no palco: Marilyn Monroe. Ela está sempre dividida entre quem os outros queriam que ela fosse e quem ela queria ser. O resultado disso, como a história real conta, é o fim trágico que teve uma das principais atrizes da história do cinema.

Mesmo sem ser perfeito, Blonde é uma obra à altura do legado de Marilyn e do talento de Ana de Armas. Aposta da Netflix para a temporada de premiações de 2023, o longa tem fôlego para fazer bonito e colocar o nome da protagonista na mesma prateleira do ícone hollywoodiano que buscou homenagear.

Blonde

Trailer oficial