Divulgação/Lionsgate+
Um dos maiores grupos de narcotraficantes dos EUA, o BMF (Black Mafia Family) tem sua história dissecada em Blowing Money Fast
Um dos maiores grupos de narcotraficantes da história dos Estados Unidos, o BMF (Black Mafia Family) tem sua história dissecada pelo diretor Shan Nicholson em The BMF Documentary: Blowing Money Fast, nova série documental do Lionsgate+. Com oito episódio, a produção mostra como os líderes da organização criminosa cresceram e ganharam vida de pop stars após enriquecerem vendendo drogas.
O documentário leva os espectadores em uma jornada para conhecer as origens e as diversas fases das vidas dos irmãos Demetrius “Big Meech” e Terry “Southwest T” Flenory, criadores do BMF. No início dos anos 1980, eles eram apenas jovens lutando para sobreviver em uma Detroit em crise financeira e social, mas renasceram ao se envolverem no comércio de drogas ilegal.
Para contar esta história, Nicholson fez um trabalho de pesquisa exemplar. Embora o BMF seja tema de uma série ficcional (também disponível no Lionsgate+), o documentário serve, na visão do próprio diretor, como um retrato completo que preenche lacunas impossíveis de serem abordadas na outra atração. O maior exemplo de que as duas produções podem coexistir é o fato de ambas terem o rapper Curtis “50 Cent” Jackson como produtor executivo.
Em Blowing Money Fast, o diretor fez o que pouquíssimas produções sobre o BMF conseguiu fazer nas quase quatro décadas de sua existência: falar com os principais envolvidos desta história. Em vários momentos, Nicholson conversa ao telefone com Meech, que cumpre pena por tráfico há anos nos Estados Unidos. Ter um dos cabeças da organização para contar os detalhes de sua jornada é essencial para destacar o documentário entre tantas outras narrativas.
Além do próprio Big Meech explicando as raízes que originaram o BMF, Nicholson conseguiu incluir depoimentos de sua mãe, irmã e ex-aliados que estiveram ao seu lado desde quando ele e Terry eram apenas crianças brincando pelas ruas de Detroit. Sua conexão com o tráfico teve início após uma crise familiar, com a separação de seus pais e a necessidade de ajudar sua mãe a bancar as contas de casa.
Entre as várias conversas com Meech, o cineasta pôde perceber o que fez o garoto de Detroit tornar-se um mito entre os traficantes. Sua ascensão ultrapassou os limites criminais e o tornou símbolo da cultura hip-hop, cujo movimento nos anos 1990 influenciou não só 50 Cent como rappers do calibre de T.I. e 2 Chainz.
“Uma coisa que é preciso lembrar é que, em todos os momentos, ele está falando comigo de uma prisão federal. A produção ocorreu durante a pandemia de Covid-19, então não era como se ele pudesse me ligar a qualquer momento. Existia uma preparação, você precisava ficar esperando. E uma coisa que me pegou profundamente é que nunca parecia que ele estava em uma prisão. Sua posição era sempre positiva. Ele tinha o carisma de alguém que parecia estar de férias no Havaí”, contou Shan Nicholson em entrevista exclusiva à Tangerina.
“Há uma disposição natural sobre Meech que torna possível notar na mesma hora o motivo pelo qual as pessoas o seguiam. Ele é um líder nato e tem um poder de ‘irmão mais velho’, daqueles que todo mundo quer estar perto e seguir.”
Por se tratar de uma história envolvendo mortes, prisões e destruição de famílias, abordar os personagens principais do BMF não seria uma tarefa fácil. Para conseguir falar com Meech e seus familiares, Shan Nicholson precisou construir pouco a pouco uma relação de confiança com os envolvidos, no intuito de obter suas respectivas visões para o documentário.
“Foi um processo longo e que ainda continua. É um processo de construção de confiança. É doloroso para muitas pessoas que tiveram suas vidas envolvidas com o BMF, principalmente para a família Flenory. Lucille [mãe de Meech e Terry] perdeu seus dois filhos para o sistema judiciário, e eles ainda estão na prisão. Você nunca quer parece um explorador, mas sim assegurar que vai entregar um olhar mais humano desta história e mostrar todas as suas nuances”, prosseguiu o cineasta.
De acordo com Nicholson, a missão de Blowing Money Fast era fugir de uma história típica de traficantes. Ele nunca quis um documentário que mostrasse apenas os fatos notórios e foi em busca daquilo que levou a dupla a entrar para o crime para realmente “introduzir cores em um conto que nunca foi preto no branco”.
“O que eu quis junto ao elenco foi dar cores à história, sabe? Foi isso que me atraiu em primeiro lugar. Não é uma história tradicional de rei do crime, há muitos elementos realmente fortes. Nós temos a dinâmica familiar dos Flenory e como os dois irmãos nunca vieram de um lar tóxico. Havia problemas conjugais, mais seus pais nunca viveram em guerra, não havia necessariamente abusos. Foi uma situação das circunstâncias. Eles [Meech e Terry] são produtos de um sistema racista e falido em vários pontos. Eles meio que não tiveram escolha e fizeram o que tinham que fazer.”
Para o diretor, mesmo que a história do BMF seja eternamente conectada com o tráfico de drogas, os integrantes do grupo não necessariamente se viam apenas como vítimas do sistema unidas pelo acaso. Internamente, eles eram uma família –e assim permaneceriam quaisquer que fossem as circunstâncias encontradas pelo caminho.
“Eles trouxeram ética para dentro da organização, e era uma organização movida por uma família para quase todos estes caras. Mesmo que não existissem as drogas, o tráfico ou dinheiro, eles ainda seriam uma família até hoje. Para mim, eles permanecem leais uns aos outros”, finalizou.
The BMF Documentary - Blowing Money Fast
Trailer legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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