FILMES E SÉRIES

Orlando Bloom e Cara Delevingne em cena de Carnival Row

Divulgação/Prime Video

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Carnival Row: Após 42 meses, fantasia volta com crise de identidade

Orlando Bloom e Cara Delevingne retornam ao Prime Video com novos episódios de série que tenta, mas passa longe de Game of Thrones

Luciano Guaraldo

Muito antes de investir uma quantia bilionária em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, o Prime Video tentou surfar na onda de Game of Thrones (2011-2019) com Carnival Row. A série estrelada por Orlando Bloom e Cara Delevingne nunca alcançou o sucesso esperado e, depois de um inacreditável hiato de 42 meses, volta ao streaming com uma segunda (e última) temporada que apenas torna ainda mais explícito o quanto a atração não vai deixar a menor saudade.

Apesar de bem-intencionada, Carnival Row sofre de uma crise de identidade que dificulta se apegar ao que é exibido na tela. Cada personagem da história criada por René Echevarria e Travis Beacham parece estar em um gênero diferente: Philo (Orlando Bloom) é o policial que investiga o crime da semana, como em um CSI com criaturas fantásticas, Vignette (Cara Delevingne) estrela uma trama de ação e espionagem com os Corvos Negros, Jonah (Arty Froushan) e Sophie (Caroline Ford) estão em uma conspiração política, e Tourmaline (Karla Crome) foi jogada em um suspense sobrenatural.

Para complicar ainda mais a fluidez da narrativa, os personagens quase não se encontram, com os roteiristas os isolando em acontecimentos pouco inspirados. As interações de Philo e Vignette também não empolgam. O casal, que nunca foi um exemplo de química no primeiro ano, parece estar ainda pior nos novos episódios. Bloom sempre atua acima do tom, adepto da ideia de que gritar vai fazê-lo parecer mais talentoso (como os calouros do The Voice). Já Cara se perde nas motivações (e no sotaque) de sua personagem, cara vez mais levada pelas necessidades da história do que pelo caráter da fada.

Até Agreus (David Gyasi) e Imogen (Tamzin Merchant), donos do arco mais empolgante da primeira temporada, com a história do amor proibido entre o fauno que ficou rico e a humana falida, são arremessados em uma trama pouco empolgante nos novos episódios. Os dois vão do folhetim tradicional para uma comédia de erros –que não é exatamente engraçada, já que há personagens sendo executados para todos os lados por onde eles passam. A entrada de Joanne Whalley (de Demolidor) no núcleo dos dois poderia ser um bom reforço, mas mais atrapalha do que ajuda.

Tamzin Merchant e David Gyasi em cena de Carnival Row

Tamzin Merchant e David Gyasi em cena de Carnival Row

Divulgação/Prime Video

Adiada (várias vezes) por causa da pandemia de Covid-19, a segunda temporada de Carnival Row também é extremamente pesada e sombria, exatamente o que seu público não precisa no momento em que liga a TV para se divertir e esquecer os problemas que encara no cotidiano. Uma doença que atinge apenas os seres alados –com sintomas como falta de ar e tosse, obviamente remetendo à crise de saúde do mundo real– não ajuda em nada na distração.

Fadas, faunos e outras criaturas fantásticas ainda são aprisionados em uma espécie de campo de concentração, cercado por arames farpados e com policiais sádicos torturando e executando seus moradores sem motivo aparente –com direito a cabeças expostas em espetos de ferro, como alces em cima da lareira. Claro, isso aumenta a expectativa pelo momento de catarse que deve vir no decorrer da temporada, mas a tortura está longe de ser satisfatória por enquanto.

O massacre que ocorreu no fim da primeira temporada também significa que alguns de seus atores mais talentosos são carta fora do baralho no segundo ano. E o arco político, com conspirações e acordos entre partidos rivais acontecendo nas sombras, fica bem menos interessante quando Jared Harris (Absalom) e Indira Varma (Piety) não estão mais em cena –Arty Froushan e Caroline Ford não chegam nem perto do carisma dos veteranos.

De maneira geral, a impressão que se tem assistindo à segunda temporada de Carnival Row é que ela existe apenas porque a Amazon havia encomendado sua produção antes mesmo de estrear o primeiro ano. Se tivesse aguardado a repercussão dos episódios iniciais para tomar uma decisão, o resultado certamente seria outro.

A segunda temporada de Carnival Row estreia no Prime Video nesta sexta-feira (17), com a exibição dos dois primeiros episódios. Novos capítulos serão adicionados ao catálogo semanalmente –diferentemente do que ocorreu no ano inicial, quando todos chegaram ao streaming de uma vez.

Informar Erro
Falar com a equipe
QUEM FEZ

Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

Ver mais conteúdos de Luciano Guaraldo

0 comentário

Tangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.

Acesse sua conta para comentar

Ainda não tem uma conta?