Caso de brasileiro morto pela polícia de Londres virou série do Disney+

Em abril deste ano, chegou ao catálogo do Disney+ a minissérie de quatro episódios Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano, que conta a história de como a polícia britânica o confundiu com um terrorista.

Protagonizada por Edison Alcaide, ator hispano-brasileiro, a produção é britânica e denuncia uma injustiça real que devastou a família de Jean Charles de Menezes, que até hoje luta por justiça.

Caso Jean Charles: Um Brasileiro Morto Por Engano

Em julho de 2005, a cidade de Londres foi palco de uma série de atentados em transporte público que vitimaram 52 pessoas. Duas semanas depois, terroristas tentaram repetir o ataque, mas as bombas falharam, e a polícia decidiu agir para encontrar os autores.

Um dos terroristas foi identificado como Hussain Osman, de origem etíope e naturalização britânica. Policiais encontraram seus documentos na mochila com as bombas que não explodiram; ele morava no mesmo prédio de Jean Charles, um eletricista brasileiro, de 27 anos, nascido em Minas Gerais e que morava em Londres desde 2002.

Policiais que estavam de tocaia nos arredores do prédio e tinham fotos de baixa resolução acabaram confundindo o brasileiro com Osman, seguindo-o assim que saiu de casa para trabalhar. Os agentes não fizeram nenhuma imagem de Jean —algo que poderia ajudar a desfazer a confusão— e não tinham instruções claras para persegui-lo.

A única ordem foi para que o “suspeito” fosse impedido, a qualquer custo, de entrar no metrô. Ainda assim, Charles entrou normalmente na estação, pagando passagem, e, assim que se sentou no vagão de um trem, um policial segurou a porta e chamou o resto da equipe. Dois agentes dispararam 11 tiros contra o brasileiro, sendo sete deles na cabeça. Ele foi declarado morto no local.

No mesmo dia, a polícia britânica forçou a narração de que o comportamento de Jean Charles era suspeito; várias informações falsas como ele ter pulado a catraca, estar vestindo roupas volumosas e ter desobedecido a ordem dos agentes foram divulgadas. Apenas no dia seguinte a polícia admitiu que havia matado um homem por engano.

Diante de erros encontrados na operação, a família de Jean Charles, com apoio de ativistas, travou uma batalha em busca de justiça pela morte do brasileiro. Dois anos depois, o departamento de polícia de Londres foi condenado a pagar indenizações irrisórias, e nenhum policial envolvido na operação foi processado individualmente.

Mais que isso, alguns agentes foram até promovidos nos anos seguintes. A família Menezes tentou recorrer da decisão, mas nunca obteve um resultado favorável e segue sem justiça até hoje.