FILMES E SÉRIES

Malu Mader e Laura Luz

Divulgação/Disney+

Janaína Tokitaka

Criadora de Mila no Multiverso temeu comparação com Marvel; entenda

Janaína Tokitaka é cocriadora da primeira ficção científica brasileira do Disney+; confira a entrevista exclusiva da produtora à Tangerina

André Zuliani

Nova série do Disney+, Mila no Multiverso explora um conceito bastante em alta na cultura pop, no qual várias realidades paralelas coexistem sem laços. Produções que brincam com a existência do “multiverso” existem há décadas, mas o assunto voltou a ganhar força ao ser introduzido nos populares filmes do Marvel Studios.

Em Mila no Multiverso, a protagonista Mila (Laura Luz), que vive no universo “original”, acaba transferindo acidentalmente a sua consciência para a sua contraparte no chamado universo Alquímico. Essas são apenas duas das muitas realidades existentes dentro da série, assim como o MCU (Universo Cinematográfico Marvel) explorou em filmes como Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022).

Para Janaína Tokitaka, cocriadora de Mila no Multiverso, o “timing” para a atração estrear em uma época na qual o tema está muito em evidência foi apenas uma infeliz coincidência. Para aumentar ainda mais a “salada de multiverso”, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), filme com o maior número de indicações ao Oscar 2023, também se destacou ao trabalhar muito bem o conceito.

Em entrevista exclusiva à Tangerina, a executiva, também conhecida por seu trabalho em De Volta aos 15, da Netflix, explicou que a ideia para a série do Disney+ surgiu antes de a Marvel passar a explorar o tema nos cinemas. Com os heróis e Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo “emparelhados” junto com Mila no Multiverso, ela admitiu que ficou desconfortável com possíveis comparações entre os títulos.

“Existe [uma tensão], né? A gente sempre pensa: ‘Putz, não acredito que vai sair agora’. E aí o filme fez o mesmo conceito da mãe e filha que têm problemas. E você percebe como as coisas se repetem de uma maneira absurda. E ainda vai sair mais um livro agora com tema de mãe cientista, filha e multiverso”, lamentou Janaína, citando a trama base de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo.

“Às vezes as pessoas não têm noção do tempo de desenvolvimento e produção de uma obra audiovisual no Brasil. Sempre foi uma preocupação porque a gente sabia que seria a primeira produção de ficção científica [nacional do Disney+]. Foram inúmeros desafios e demorou muito para faze. A primeira ideia de Mila no Multiverso surgiu em 2016, então o [primeiro] filme do Doutor Estranho ainda nem tinha estreado. A gente não sabia que nenhuma dessas coisas existiam. E todas elas foram produzidas e saíram um pouquinho antes de Mila.”

Mesmo que a comparação com outras produções de maior repercussão seja agressiva com a atração nacional, Janaína disse acreditar que Mila no Multiverso tenha algo que a difere destes filmes: diversidade. Para a cocriadora, a época na qual a obra foi desenvolvida também se encaixa nos momentos de constante tensão que o povo brasileiro viveu nos últimos anos, com dificuldades na economia e uma polarização que dividiu a população.

“Acho que acabamos absorvendo um pouco deste imaginário coletivo da existência do multiverso. Eu acho que a diferença de Mila para essas produções é que a gente sempre partiu de um lugar de valorização da diversidade. A ideia era criar algo que tivesse pessoas que descobrissem o multiverso e dissessem: ‘Que legal’. Do outro lado, alguém diria: ‘Que horror. Isso precisa ser destruído’. Ainda mais neste momento de polarização que vivemos, a ideia surgiu do encantamento e da possibilidade da existência de muitos modos de viver a vida. Muitos universos, pessoas e lugares diferentes, sabe? O tipo do encantamento com a diversidade mesmo”, completou.

Apesar de a possível comparação com obras da Marvel incomodar, Janaína conseguiu ver o lado bom desta situação. Em vez de lamentar os temas e as características em comum, a autora celebrou a coexistência de Mila no Multiverso com obras tão aclamadas quanto a sua própria criação.

“Minha base é como escritora e como professora, porque eu dou muito curso. Então, eu valorizo a cultura oral. É o conto de fadas, a literatura fantástica ou a literatura pop. Então, também é interessante fazer parte de uma cultura maior, sabe? Até criativamente falando. Eu acho que a coisa do multiverso tem muito a ver com muitas coisas. Eu não vou ficar fazendo chutes teóricos de porquê as pessoas estão tão fascinadas com isso, mas eu acho que existe uma grande vontade de pensar na realidade para além da que a gente vive”, finalizou.

Todos os episódios da primeira temporada de Mila no Multiverso já estão disponíveis no Disney+. A série é dirigida por Julia Jordão e Jéssica Queiroz e produzida pela Boutique Filmes e Non Stop. A produção executiva é assinada por Tiago Mello e os roteiros foram escritos por Cássio Koshikumo e Janaina Tokitaka, dupla que também assina a cocriação do projeto.

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QUEM FEZ

André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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