FILMES E SÉRIES

Zendaya e Tom Holland em cena de Homem:Aranha: Sem Volta para Casa

Divulgação/Sony

Crítica

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é uma milionária Sessão da Tarde

Terceiro longa do Homem-Aranha estrelado por Tom Holland junta clima leve e descompromissado a coleção de super-heróis e supervilões

Gabriela Franco
Gabi Franco

Podemos dizer que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, o terceiro protagonizado por Tom Holland, é um filme de Sessão da Tarde. Um filme da Sessão da Tarde enorme, explosivo, com um orçamento milionário que, por acaso, tem lá a sua coleção de super-heróis e supervilões. Mas é igualmente um filme doce, leve, fofo, emocionante. E, apesar de estar conectado ao tal universo cinematográfico da Marvel (o chamado MCU, na sigla em inglês), não o usa como muleta e tem vida própria, com começo, meio e fim.

Talvez os mais jovens não entendam bem o que significa a expressão “filme de Sessão da Tarde”. Afinal, a sessão vespertina de cinema da Rede Globo continua existindo na programação, mas definitivamente não tem mais o mesmo significado.

Quem tem lá por volta dos seus 30, talvez 40 anos, no entanto, saca de primeira a referência. Porque a Sessão da Tarde era o espaço no qual passavam aqueles filmes leves, gostosos, descontraídos, descompromissados, sobre ser jovem.

Curtindo a Vida Adoidado, Te Pego Lá Fora, Clube dos Cinco, todos perfeitos exemplares do que era ser um “filme da Sessão da Tarde”. É um espírito, um jeito de enxergar a vida. E ainda eram filmes repetidos à exaustão, que se tornaram comfort movies de muita gente.

Enfim, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um longa cheio de carisma e coração, como eram as produções que assistíamos nas tardes da Globo. E como o próprio protagonista, o ator Tom Holland, que enfim fecha o ciclo e se torna o verdadeiro Homem-Aranha. Ou, como ele é carinhosamente chamado no mundo dos gibis, o Amigão da Vizinhança.

CONTÉM SPOILERS! CUIDADO PARA NÃO AZEDAR O SEU DIA!

Depois do final do filme anterior, Homem-Aranha: Longe de Casa, quando o vilão Mysterio revelou ao mundo todo que o jovem Peter Parker era o Homem-Aranha, sabíamos que a casa tinha caído para ele. Afinal, de toda a turma dos filmes da Marvel, Peter era um dos únicos cuja identidade secreta era mantida a sete chaves, justamente para proteger seus entes queridos. E agora?

Tom Holland em cena de Homem:Aranha: Sem Volta para Casa

Trailer de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021)

Filme é o terceiro com Tom Holland

Diante dessa situação, de uma pressão que ameaça a tia que o criou, o melhor amigo e a grande paixão de sua vida (Zendaya, mais uma vez roubando a cena como Mary Jane), ele resolve apelar para a magia. Aparentemente, a solução mais simples. E pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) que “apague” a revelação de sua identidade da cabeça das pessoas. Mas, obviamente, o feitiço não sai como esperado e o multiverso, sempre ele, cobra tributo.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa abre de vez o multiverso

A coisa toda de universos paralelos, recurso que as HQs tanto amam, abre portais entre a “nossa” realidade e mundos alternativos. Somos então presenteados com a presença de vilões vindos dos outros filmes do Homem-Aranha, aqueles que, com o advento do MCU, pareciam cartas fora do baralho.

Claro que é muito legal, para quem curte o multicolorido mundo das HQs, ver Electro (Jamie Foxx), Homem-Areia (Thomas Haden Church), Lagarto (Rhys Ifans), todo mundo tendo a chance de dar as caras novamente e enfim experimentar um tantinho do típico humor Marvel que lhes faltou em suas versões, ambas mais sérias e mais tristonhas.

Só que desta turma toda, dois nomes são destaques absolutos e dão outra profundidade à história. De um lado, Alfred Molina e seu Doutor Octopus de muitos braços e tentáculos, que dão vontade de abraçar. Do outro, Willem Dafoe abraçando seu lado mais canastrão e histriônico como o Duende Verde, aquele sorriso deliciosamente exagerado e maquiavélico. Ambos são verdadeiras joias em tela.

Ah, sim. Mas quando a aparição dos tais vilões força Peter a tomar uma decisão dura, difícil – mas, talvez, a decisão mais Peter Parker já tomada por ele desde que Holland assumiu o papel –, os malvados não são os únicos a atravessar a passagem para os outros mundos. E aí somos brindados com as aparições que deveriam ser surpresa, mas que, no fim das contas, todo mundo sabia que iriam acontecer. E tá tudo bem mesmo assim.

Três Homens-Aranhas pelo preço de um

Pois é, enfim Holland se encontra com Tobey Maguire e Andrew Garfield, os dois Homens-Aranha das duas séries anteriores de filmes do personagem, produzidas pela Sony. E, mais do que parceiros para a derradeira sessão de pancadaria com os vilões, os dois são uma grata surpresa nos diálogos com Peter (quer dizer, aqui é todo mundo Peter, mas você entendeu). No mais puro suco de coração, e não punhos.

Tobey é um Peter Parker mais velho, mais experiente, mais maduro. Um homem adulto que tem muito a ensinar com seu olhar terno, amoroso, e postura de paizão. Ele acaba soando como uma espécie de irmão mais velho para o Peter de Hollande, igualmente, para o de Garfield. Uma palavra amiga, quase um tio Ben, aquele tio Ben que o Aranha de Holland nunca teve.

Do outro lado, temos Garfield encontrando seu momento de redenção, depois de ter sido duramente criticado pelos fãs de gibis, já que os dois filmes que estrelou estão longe de serem unanimidades. Ele é o cara do alto de seus quase 30 anos, mas ainda buscando aprovação, ainda tendo que lidar com os fantasmas dos próprios fracassos. Divertido, espirituoso, mas querendo a todo custo evitar que o “maninho” mais novo cometa os mesmos erros que ele.

É nas interações do trio, que mereciam até mais espaço do que a trocação de socos, que a história nos apanha pelo coração.

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um filme sobre família, tragédia e sacrifício

No fim, este é um filme sobre família. Sobre perda (aquela enorme, dolorosa, que sempre ajudou a definir o Homem-Aranha), sobre a frase clássica de “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, que finalmente foi proferida. E veio dura, poderosa, com a perda de um personagem inesperado.

Zendaya, Tom Holland e Jacob Batalon em cena de Homem:Aranha: Sem Volta para Casa

Em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Peter Parker tem que tomar decisões para proteger seus amigos

Divulgação/Sony

Peter aprende com a tia May, Peter aprende com o Peter mais velho, Peter inclusive aprende com a nêmeses de seu eu de outra realidade, Norman Osborn. E tudo sem precisar mais uma vez tirar o Homem de Ferro ou qualquer outro medalhão do bolso. Mesmo o mago Stephen Strange não passa de um coadjuvante de luxo.

A tragédia é parte de quem o Homem-Aranha é, tanto quanto o sacrifício. E o que Peter faz para salvar o universo e, principalmente, aqueles que o cercam, supera e muito o sentimento amargo deixado por sua arrogância adolescente no início do filme. Como, aliás, costuma acontecer em toda e qualquer boa história do Homem-Aranha, desde a época da dupla Stan Lee e Steve Ditko, seus criadores.

O longa encerra uma trilogia mas também é, inevitavelmente, um filme de origem. Porque, ao final, nasce a essência do Homem-Aranha. Não só no uniforme idêntico ao dos gibis, mas a humildade, a força de vontade acima da adversidade, a esperança maior que o sofrimento, o sorriso discreto por baixo das piadinhas e trocadilhos.

Um Homem-Aranha: Ultimato ou uma história íntima ?

Ainda antes do lançamento de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, o diretor Jon Watts chegou a afirmar que, na verdade, este seria Homem-Aranha: Ultimato, brincando com o nome do mais recente longa dos Vingadores para dizer que também seria um grande “filme evento”.

Mas, do lado de cá, eu discordo. Esta terceira aventura do Cabeça de Teia é um filme de personagem. De um único personagem. Uma história bem mais íntima do que a apoteótica luta final pode sugerir.

É uma declaração de amor para o Homem-Aranha, para o legado do herói. E, igualmente, para os leitores dos gibis das antigas, para quem conheceu o personagem no desenho animado dos anos 1990, para quem se apaixonou pela versão de Tobey Maguire nos anos 2000, para a molecada que pira com os saltos de Tom Holland. Tanto faz. É para todo mundo. 

Com o tanto de dinheiro que o filme fez, claro, já está mais do que prometida uma nova incursão, muito provavelmente com a volta de Tom Holland (que, obviamente, deve negociar um gordo aumento no meio do caminho). Deve ser um Peter Parker mais velho, agora na universidade. Mas, antes de qualquer coisa, deve ser um Homem-Aranha completo, encarando o peso de suas escolhas e decisões. Como cabe a todo bom Homem-Aranha do multiverso. 

Enquanto isso, assistimos de novo e de novo a esta Sessão da Tarde. Porque a gente merece este carinho de vez em quando. 

Leva que tá doce! Ah, o que dizer de um filme estilo Sessão da Tarde? Cara, só aproveite e divirta-se!

Dois pelo preço de um: Bem, se você gostou dos outros filmes do Miranha e se é apaixonado pela narrativa inspiradora dos heróis, vai amar esse!

Presta atenção, freguesia: Fora o combo básico de coreografias das lutas, computação gráfica e efeitos especiais, o que mais chama a atenção é a interação entre os Homens-Aranha. Super emocionante. Os três atores arrasaram demais.

Indicações ao Oscar 2022:

  • Melhores efeitos especiais
Pôster do filme Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

Super-herói / Ação / Aventura / Fantasia
12

Direção

Jon Watts

Produção

Marvel Studios Sony

Onde assistir

Cinemas / Google Play, Apple TV, Now (para aluguel e compra)

Elenco

Tom Holland
Zendaya
Benedict Cumberbatch
Jacob Batalon
Jon Favreau
Jamie Foxx
Willem Dafoe
Alfred Molina
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QUEM FEZ
Gabriela Franco

Gabi Franco

Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.

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