(Foto: Divulgação/Warner Bros.)
Em menos de dez anos, os filmes baseados em games foram de “promessa frustrada” a um dos gêneros mais lucrativos do cinema
Há dez anos, adaptações de videogames ainda eram tratadas como risco. Hollywood apostava nesses títulos com desconfiança, tentando encontrar uma fórmula que agradasse fãs e público geral. E poucos exemplos deixam isso tão claro quanto Assassin’s Creed, lançado em 2016, que saiu das salas de cinema com um desempenho bem abaixo do esperado. O filme arrecadou US$ 240 milhões (R$ 1,2 bilhão) no mundo todo, número considerado fraco para um projeto que envolvia uma franquia famosa, efeitos visuais caros e um nome de peso como Michael Fassbender.
Naquele momento, a impressão era de que transformar videogame em filme era algo que simplesmente não funcionava. Havia público, a marca era forte, mas a conexão com o cinema parecia não se traduzir em bilheteria. Os estúdios, então, passaram anos tentando entender o que faltava: fidelidade? Tom? Formato? Expectativa? O fracasso moderado de Assassin’s Creed virou um alerta para Hollywood, que precisou repensar sua relação com esse tipo de adaptação.
Essa realidade mudou completamente em 2023, quando The Super Mario Bros. – O Filme chegou aos cinemas. O filme animado se tornou um fenômeno global e fechou sua corrida com US$ 1,3 bilhão (R$ 7 bilhões) arrecadados. Não foi simplesmente um sucesso: foi a prova definitiva de que o cinema baseado em videogames poderia atingir o mesmo patamar dos grandes blockbusters tradicionais. Mario não só funcionou, ele dominou. Virou evento familiar, viral, replayável e extremamente lucrativo.
Dois anos depois, foi a vez de Um Filme Minecraft consolidar essa nova era. Com um apelo ainda mais amplo entre crianças e adolescentes, o longa arrecadou US$ 957 milhões (R$ 5,1 bilhões) no mundo todo, aproximando-se do bilhão e confirmando que o sucesso de Mario não foi um acaso isolado. O cinema dos games deixou de ser exceção e se tornou tendência, com força para ocupar o calendário dos estúdios de maneira permanente.
O que mudou no meio do caminho? A forma como Hollywood passou a enxergar esse público. Em vez de adaptar games para parecer “cinema tradicional”, os estúdios passaram a buscar o que os jogos têm de mais forte: imaginação, identidade visual e relação afetiva com o jogador. Mario apostou no lúdico. Minecraft apostou na criatividade. Ambos falaram diretamente com quem cresceu nessas franquias –e, principalmente, com famílias inteiras.
Outro ponto decisivo foi a ascensão das bilheterias internacionais. Tanto Mario quanto Minecraft tiveram mais de metade de sua arrecadação fora dos Estados Unidos, enquanto Assassin’s Creed ainda dependia muito do mercado doméstico. O público global hoje é parte estruturante de qualquer blockbuster. E franquias de videogame, conhecidas no mundo todo, naturalmente se beneficiam desse cenário.
Em uma década, os filmes baseados em games foram de “promessa frustrada” a um dos gêneros mais lucrativos do cinema. Se em 2016 Assassin’s Creed lutava para recuperar seu investimento, Mario e Minecraft transformaram o setor em referência de rendimento, alcance e apelo familiar após quase uma década. É uma virada histórica e que deve moldar o que veremos nas telas nos próximos anos.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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