Divulgação/Universal Pictures
Longa sobre reportagem que deu pontapé no movimento Me Too estreia nesta quinta (8); Carey Mulligan e Zoe Kazan lideram o elenco
Um dos lançamentos mais aguardados do ano, Ela Disse (2022) é um drama necessário. Protagonizado por Zoe Kazan (Será Que?) e Carey Mulligan (Drive), o longa revive os bastidores da reportagem que expôs os escândalos envolvendo o ex-produtor Harvey Weinstein e revelou o seu império de abusos e opressão em Hollywood.
O longa conta a história de Megan Twohey (Carey) e Jodi Cantor (Zoe), dupla de jornalistas do The New York Times que mergulhou em uma profunda investigação para desmascarar uma cultura sistêmica de abusos dentro do ambiente de Hollywood. Após a reportagem ser publicada, o trabalho dessas mulheres derrubou não apenas um dos magnatas da indústria, como também deu o pontapé necessário para o surgimento do movimento Me Too.
Notório predador sexual, Weinstein passou décadas usando o seu poder e a sua influência para abusar de jovens atrizes e assistentes que trabalharam para ele na Miramax, um dos principais estúdios de Hollywood. Por ele ser um dos grandes nomes do cinema norte-americano, a indústria como um todo (artistas, produtores, advogados e até imprensa) “passava pano” para seu comportamento tóxico.
A queda do produtor teve início com investigação iniciada por Jodi, que estava dedicada a expor más condutas em ambientes de trabalho. No caso de Hollywood, no entanto, os mais poderosos sempre abusaram de sua posição sem sofrer quaisquer consequências. Nos Estados Unidos, a lei protegia indiretamente os abusadores e tornava inviável que vítimas conseguissem buscar reparação na Justiça.
Ao lado de Megan, cujo currículo inclui reportagens sobre abuso moral e sexual envolvendo o ex-presidente Donald Trump, Jodi dissecou inúmeros casos de estupro por parte de Weinstein que datavam desde os anos 1990. Atrizes de renome como Rose McGowan, Ashley Judd e Gwyneth Paltrow sofreram nas mãos do produtor e tentaram expor seus crimes, mas foram constantemente silenciadas e tiveram suas carreiras prejudicadas pelo predador sexual.
Ao mergulhar pelos bastidores da reportagem, Ela Disse mostra que Harvey Weinstein era apenas a ponta de um iceberg gigantesco. Em um mundo controlado pelo patriarcado, a indústria silenciava as mulheres e as forçava a assinar acordos absurdos para controlá-las e assegurar que o nome do magnata jamais caísse em desgraça.
Zoe Kazan, Carey Mulligan, Andre Braugher e Patricia Clarkson vivem jornalistas do The New York Times
Divulgação/Universal Pictures
Enquanto as táticas de Weinstein para silenciar suas vítimas eram um obstáculo para as jornalistas, a investigação leva a alguns lugares chocantes e inesperados. A diretora Maria Schrader usa Ela Disse para refletir sobre os fardos que a sociedade já impõe às mulheres e seus papéis como mães para ajudar a proteger suas filhas, e como afastá-las dos perigos que o mundo representa para as jovens.
Sem fazer sensacionalismo com os casos apurados por Jodi e Megan, Ela Disse trata com delicadeza as histórias das vítimas de Weinstein. Maria Schrader deixa clara a sua visão de usar o escândalo de Weinstein para criticar a cultura machista que dificulta a caça por predadores sexuais e como é importante que reportagens como a do The New York Times tenham espaço para dar voz às vítimas.
A diretora também se esforça para nunca mostrar o rosto de Weinstein ou simular seus atos de violência em tela. A presença do produtor ao longo do filme é quase inteiramente feita por telefonemas, nos quais é dublado por Mike Houston –um movimento apropriado e faz o filme parecer ainda mais pesado do que já é.
Apesar de citar e até mostrar atrizes que sofreram nas mãos do produtor –Ashley Judd, por exemplo, interpreta a si mesma no longa–, Ela Disse tem como foco as histórias das assistentes e funcionárias da Miramax. Essas vítimas viram suas carreiras serem destruídas e tiveram suas vidas mudadas para sempre após as violências de Weinstein, e é nesses casos que o sofrimento fica palpável.
As personagens de Samantha Morton e Jennifer Ehle, que interpretam duas ex-assistentes de Weinstein, são as mais impactantes. São com suas histórias, retratadas tanto no passado quanto no presente, que as emoções batem mais forte e dão um vislumbre das consequências que as ações imperdoáveis do predador tiveram na vida dessas mulheres.
Filmes envolvendo jornalismo e o trabalho de repórteres que resultaram em mudanças significativas, como Spotlight: Segredos Revelados (2015), Todos os Homens do Presidente (1976) e The Post: A Guerra Secreta (2017) costumam ser bem vistos pela Academia e com grandes chances no Oscar. Por esse histórico, Ela Disse tem boas chances de fazer história no ano que vem.
Ela Disse
Trailer oficial legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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