Divulgação/Netflix
Nova leva de episódios entrou no catálogo da Netflix na sexta (18); sétimo ano já foi confirmado, mas é mesmo necessário?
Não é segredo para ninguém que Elite já viu dias melhores. Antes um hit instantâneo da Netflix, a série surfou no sucesso de produções espanholas iniciado com La Casa de Papel (2017-2021) e conquistou milhões de fãs pelo mundo ao misturar conceitos de “quem matou?” com uma temática teen envolvendo muito, mas muito sexo.
Passadas seis temporadas, no entanto, Elite perdeu o seu rumo. Desde o quarto ano, quando metade do elenco foi reformulado para introduzir novos rostos e oxigenar a série, a qualidade da narrativa tem sofrido uma queda constante. Se antes as cenas quentes e ousadas envolvendo todos as formas de casais surpreendiam e até carregavam a atração, na atual leva de episódios isso não a salva de ser um desastre total.
Em resumo, o sexto ano de Elite segue a narrativa iniciada no quinto e vira um mix de decisões completamente equivocadas. Com a morte de Samuel (Itzan Escamilla) confirmada, todos os remanescentes do elenco principal das primeiras temporadas saíram da atração. Isso deixa o destaque para o quarteto Ari (Carla Díaz), Mencía (Martina Cariddi), Patrick (Manu Rios) e o brasileiro Iván (André Lamoglia).
Após a tragédia que matou o protagonista, o colégio Las Encinas voltou suas atenções para apagar qualquer risco de polêmica envolvendo seus alunos. A atitude beira a insanidade, considerando o número de mortes e acidentes envolvendo os adolescentes desde o início da série.
Valentina Zenere como Isadora
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Sem seus principais atores, Elite mais uma vez renovou o seu elenco para mesclar antigos e novos rostos. A sexta temporada introduz o casal Sara (Carmen Arrufat) e Raúl (Álex Pastrana), Dídac (Álvaro de Juana), Rocío (Ana Bokesa) e Nico (Ander Puig), sendo o último o primeiro ator transexual a integrar o elenco da série.
Como sempre, o roteiro faz malabarismos para justificar novas amizades e dinâmicas entre personagens. Bilal (Adam Nourou), que desapareceu de forma bizarra durante o quinto ano após ser “salvo” por Omar (Omar Ayuso), retornou sem maiores explicações e passou a fazer parte do grupo de protagonistas. Já Phillipe (Pol Grant), que encerrou a última leva como par romântico de Isadora (Valentina Zenere), some sem deixar vestígios e tem sua ausência justificada em apenas um diálogo no decorrer do novo ano.
Entre conflitos dramáticos sem sentido e cenas de sexo gratuitas, a sexta temporada parece ter como foco a destruição da construção de seus personagens. Um dos casais mais interessantes do novo elenco, Patrick e Iván veem seu relacionamento implodir por causa de uma tragédia e de vícios narrativos da equipe criativa, que forçam traições e triângulos amorosos apenas para mostrar um elenco formado por atores “padrão” sem roupa e em posições sexuais diferentes.
Já batido, o famoso suspense envolvendo a morte (ou quase morte) de um dos protagonistas também retorna no novo ano. Embora Elite saiba instigar o público para ficar atento às pistas de quem cometeu o crime, a insistência em uma fórmula amplamente usada mostra que a série permanece ativa apenas para subir os números do streaming. Não há nada de errado com a estratégia, mas é triste ver um dos principais símbolos da ascensão de produções espanholas ver o seu legado destruído por decisões corporativas.
O ator trans Ander Puig interpreta o novato Nico
Divulgação/Netflix
O desastre na execução de suas ideias não impede Elite te ter boas intenções. O arco envolvendo Nico e sua apresentação como homem trans pós-readequação de gênero é bem construído e mostra uma realidade pouco vista em produções de alcance internacional. Sua insegurança e seus anseios, assim como a aceitação de seus pais, mostram uma evolução no meio audiovisual, mas sua importância narrativa acaba se perdendo quando a série investe na relação com Ari, uma das personagens mais insuportáveis de toda a série.
O mesmo vale para o drama envolvendo o estupro de Isadora. Se Elite errou feio ao “passar pano” para Phillipe durante duas temporadas, os roteiristas parecem querer corrigir suas ações com a chegada do “herói” Dídac e a jornada da DJ para buscar justiça contra o trio de garotos que abusaram sexualmente dela em Ibiza. Com tantas reviravoltas desnecessárias sobre o caso, a série perde a oportunidade de dar uma resposta firme ao público e amenizar o sofrimento de uma vítima –mesmo que as decisões tortas da Justiça façam parte do mundo real.
Com uma sétima temporada de Elite já confirmada pela Netflix, o futuro da série parece cada vez mais nebuloso. Bons números de audiência nem sempre são sinônimo de qualidade, mas a gigante da streaming parece já ter jogado a toalha e espera apenas que seu ex-hit teen figure no Top 10 para que os lucros continuem chegando. Uma pena, de verdade.
Elite - 6ª temporada
Trailer legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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