FILMES E SÉRIES

Manú Rios e André Lamoglia

Divulgação/Netflix

CRÍTICA

Elite: Nem cenas quentes salvam sexta temporada do desastre total

Nova leva de episódios entrou no catálogo da Netflix na sexta (18); sétimo ano já foi confirmado, mas é mesmo necessário?

André Zuliani

Não é segredo para ninguém que Elite já viu dias melhores. Antes um hit instantâneo da Netflix, a série surfou no sucesso de produções espanholas iniciado com La Casa de Papel (2017-2021) e conquistou milhões de fãs pelo mundo ao misturar conceitos de “quem matou?” com uma temática teen envolvendo muito, mas muito sexo.

Passadas seis temporadas, no entanto, Elite perdeu o seu rumo. Desde o quarto ano, quando metade do elenco foi reformulado para introduzir novos rostos e oxigenar a série, a qualidade da narrativa tem sofrido uma queda constante. Se antes as cenas quentes e ousadas envolvendo todos as formas de casais surpreendiam e até carregavam a atração, na atual leva de episódios isso não a salva de ser um desastre total.

Em resumo, o sexto ano de Elite segue a narrativa iniciada no quinto e vira um mix de decisões completamente equivocadas. Com a morte de Samuel (Itzan Escamilla) confirmada, todos os remanescentes do elenco principal das primeiras temporadas saíram da atração. Isso deixa o destaque para o quarteto Ari (Carla Díaz), Mencía (Martina Cariddi), Patrick (Manu Rios) e o brasileiro Iván (André Lamoglia).

Após a tragédia que matou o protagonista, o colégio Las Encinas voltou suas atenções para apagar qualquer risco de polêmica envolvendo seus alunos. A atitude beira a insanidade, considerando o número de mortes e acidentes envolvendo os adolescentes desde o início da série.

Valentina Zenere

Valentina Zenere como Isadora

Divulgação/Netflix

Sem seus principais atores, Elite mais uma vez renovou o seu elenco para mesclar antigos e novos rostos. A sexta temporada introduz o casal Sara (Carmen Arrufat) e Raúl (Álex Pastrana), Dídac (Álvaro de Juana), Rocío (Ana Bokesa) e Nico (Ander Puig), sendo o último o primeiro ator transexual a integrar o elenco da série.

Como sempre, o roteiro faz malabarismos para justificar novas amizades e dinâmicas entre personagens. Bilal (Adam Nourou), que desapareceu de forma bizarra durante o quinto ano após ser “salvo” por Omar (Omar Ayuso), retornou sem maiores explicações e passou a fazer parte do grupo de protagonistas. Já Phillipe (Pol Grant), que encerrou a última leva como par romântico de Isadora (Valentina Zenere), some sem deixar vestígios e tem sua ausência justificada em apenas um diálogo no decorrer do novo ano.

Entre conflitos dramáticos sem sentido e cenas de sexo gratuitas, a sexta temporada parece ter como foco a destruição da construção de seus personagens. Um dos casais mais interessantes do novo elenco, Patrick e Iván veem seu relacionamento implodir por causa de uma tragédia e de vícios narrativos da equipe criativa, que forçam traições e triângulos amorosos apenas para mostrar um elenco formado por atores “padrão” sem roupa e em posições sexuais diferentes.

Já batido, o famoso suspense envolvendo a morte (ou quase morte) de um dos protagonistas também retorna no novo ano. Embora Elite saiba instigar o público para ficar atento às pistas de quem cometeu o crime, a insistência em uma fórmula amplamente usada mostra que a série permanece ativa apenas para subir os números do streaming. Não há nada de errado com a estratégia, mas é triste ver um dos principais símbolos da ascensão de produções espanholas ver o seu legado destruído por decisões corporativas.

Ander Puig

O ator trans Ander Puig interpreta o novato Nico

Divulgação/Netflix

O desastre na execução de suas ideias não impede Elite te ter boas intenções. O arco envolvendo Nico e sua apresentação como homem trans pós-readequação de gênero é bem construído e mostra uma realidade pouco vista em produções de alcance internacional. Sua insegurança e seus anseios, assim como a aceitação de seus pais, mostram uma evolução no meio audiovisual, mas sua importância narrativa acaba se perdendo quando a série investe na relação com Ari, uma das personagens mais insuportáveis de toda a série.

O mesmo vale para o drama envolvendo o estupro de Isadora. Se Elite errou feio ao “passar pano” para Phillipe durante duas temporadas, os roteiristas parecem querer corrigir suas ações com a chegada do “herói” Dídac e a jornada da DJ para buscar justiça contra o trio de garotos que abusaram sexualmente dela em Ibiza. Com tantas reviravoltas desnecessárias sobre o caso, a série perde a oportunidade de dar uma resposta firme ao público e amenizar o sofrimento de uma vítima –mesmo que as decisões tortas da Justiça façam parte do mundo real.

Com uma sétima temporada de Elite já confirmada pela Netflix, o futuro da série parece cada vez mais nebuloso. Bons números de audiência nem sempre são sinônimo de qualidade, mas a gigante da streaming parece já ter jogado a toalha e espera apenas que seu ex-hit teen figure no Top 10 para que os lucros continuem chegando. Uma pena, de verdade.

Manu Rios e André Lamoglia em trailer de Elite

Elite - 6ª temporada

Trailer legendado

Cartaz da 6ª temporada de Elite

Elite - 6ª temporada

Drama, Romance, Suspense
18

Direção

Vários

Produção

Netflix

Onde assistir

Netflix

Elenco

André Lamoglia
Carla Díaz
Manu Rios
Martina Cariddi
Valentina Zenere
Carmen Arrufat
Adam Nourou
Álvaro de Juana
Ander Puig
Ana Bokesa
Álex Pastrana
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QUEM FEZ

André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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