FILMES E SÉRIES

Elenco da série Família Soprano

Divulgação/HBO

TÚNEL DO TEMPO

Encerrada há 15 anos, Família Soprano mudou a TV e criou Walter White

Família Soprano exibiu seu último episódio em 10 de junho de 2007. Sem a série, não existiriam The Shield, Dexter, Mad Men ou Breaking Bad

Luciano Guaraldo

Há exatos 15 anos, em 10 de junho de 2007, Tony Soprano (James Gandolfini) entrou em uma lanchonete para fazer uma refeição tranquila com a família. Mas o momento foi interrompido pela chegada surpresa de alguém. De quem? O público jamais descobriu. Uma súbita tela preta e os créditos em silêncio marcaram o fim de Família Soprano (1999-2007), a série que mudou para sempre o conceito de TV de qualidade.

Em 2013, o Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos elegeu Família Soprano como a série mais bem escrita de todos os tempos. As revistas TV Guide e Rolling Stone também colocaram a atração sobre um mafioso em crise no topo de suas respectivas relações de melhores séries de TV da história. E Vince Gilligan, criador de Breaking Bad (2008-2013), afirmou ao Hollywood Reporter que, “sem Tony Soprano, não existiria Walter White [Bryan Cranston]”.

Por que Família Soprano foi, e continua sendo, tão relevante? A saga de Tony é apontada por críticos como a grande responsável por uma virada no audiovisual, na qual a TV deixa de ser vista como uma mídia menor e passa a competir de igual para igual com o cinema em termos de complexidade da narrativa e da construção dos personagens.

Claro, outras séries já haviam construído tramas contínuas, que se desenvolviam ao longo de uma ou mais temporadas, em vez de narrativas episódicas com começo, meio e fim a cada capítulo. Mas ninguém fez isso tão bem quanto David Chase, criador da atração, e o elenco brilhante liderado por James Gandolfini (1961-2013).

Chase e Gandolfini provaram que um anti-herói poderia ser carismático o suficiente para carregar um programa nas costas. Assim, Família Soprano abriu portas não só para Breaking Bad, mas também para A Sete Palmos (2001-2005), The Wire (2002-2008), The Shield (2002-2008), Rescue Me (2004-2011), Dexter (2006-2013; 2021-2022) e Mad Men (2007-2015). Até Game of Thrones (2011-2019) deve sua existência para Tony e sua turma.

Um drama em sua essência, a série flertou com o humor, muitas vezes em discussões tão mundanas entre Tony e seus parentes e colegas de trabalho que poderiam fazer parte de um episódio de Seinfeld (1989-1998) –amplamente reconhecida como a melhor comédia da história. As disputas familiares também remeteram a clássicos de William Shakespeare (1564-1616), como Rei Lear.

Claro, Família Soprano também é um produto do seu tempo, e os 15 anos que separam o fim da trama dos dias atuais serão muito sentidos se alguém decidir começar uma maratona em pleno 2022. A representação das personagens femininas deixa a desejar, e os estereótipos que envolvem descendentes de italianos nos Estados Unidos também caem nos clichês da máfia e da violência.

Talvez por isso a tentativa de ressuscitar a trama com o filme Os Muitos Santos de Newark (2021) não tenha repetido o sucesso da série original. A história de Tony foi contada como deveria nas seis temporadas de Família Soprano. E, para quem sentir saudade, elas estão disponíveis na HBO Max. Assista (você não vai se arrepender) e crie sua teoria sobre quem é a pessoa que entra na lanchonete antes de a tela escurecer.

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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