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CRÍTICA

Entre Mulheres: Filme do Oscar 2023 merece mais de sua atenção

Longa dirigido por Sarah Polley recebeu duas indicações ao Oscar 2023, de melhor filme e roteiro adaptado; confira a opinião da Tangerina

André Zuliani

Indicado em duas categorias no Oscar 2023, Entre Mulheres (2022) é um filme que merecia mais atenção. Apesar de estar na disputa pelas estatuetas de melhor filme e roteiro adaptado, o longa dirigido por Sarah Polley (Longe Dela) nunca recebeu o mesmo crédito que concorrentes badalados, como Elvis (2022) ou Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022).

Inspirado no livro homônimo de Miriam Toews, Entre Mulheres é um forte relato contra o abuso e a opressão masculina. Situado quase que inteiramente em um celeiro de uma comunidade religiosa do interior dos Estados Unidos, o longa conta a histórias de mulheres que discutem quais caminhos devem tomar após descobrirem que estão sendo violentadas pelos homens locais.

O longa começa com uma forte declaração: “O que se segue é um ato da imaginação feminina”. Essa frase, tirada diretamente do livro, tem claro significado, tendo sido usada pelos anciãos da colônia para explicar décadas de ataques sexuais com uso de drogas –ataques estes atribuídos a fantasmas, demônios ou histeria (a tal imaginação feminina) que deixaram mulheres e meninas aterrorizadas, grávidas ou mortas.

Ao descobrirem a origem destes ataques, as mulheres da comunidade se unem para discutir o que fazer com seus futuros. Sendo o local uma forte colônia religiosa comandada apenas pelos homens, elas nunca receberam a educação devida e contam com pouco conhecimento do mundo ao redor.

As condições impostas pelos homens para que elas definam seus futuros são poucas e diretas: ou perdoam seus agressores ou deixam a comunidade. Entre as mais indignadas, há aquelas que defendem permanecer na comunidade e lutar contra os abusos e os abusadores.

Ben Whishaw, Rooney Mara e Claire Foy

Ben Whishaw, Rooney Mara e Claire Foy

Divulgação/Plan B

O que se segue depois desta breve premissa são duas famílias selecionadas pelas vítimas discutindo o que fazer em nome de todas. “Como seremos perdoadas, senão pelos anciãos a quem desobedecemos?”, questiona Mariche (Jessie Buckley), diante da perspectiva de que serão forçadas a deixar a colônia se não os perdoarem. “O perdão que nos é imposto é o verdadeiro perdão?” contesta Ona (Rooney Mara), a mais racional do grupo, que entende as limitações das mulheres para ficar e lutar contra os opressores.

No caso da revoltada Salome (Claire Foy), ficar e lutar é a única opção. Para parte do grupo, nem Deus conseguirá impedir que elas defendam seus filhos e suas filhas. Tornar-se uma assassina seria muito menos pior do que aceitar os abusos e permitir que os homens continuem a subjugá-las.

Desde a primeira cena, Entre Mulheres deixa claro que o mundo na qual as protagonistas vivem carece de luz. A fotografia comandada por Luc Montpellier leva o espectador a tempos distantes, como se tudo o que estivesse sendo representado no filme fosse uma memória antiga. É o retrato de uma realidade opressiva e sem cor, na qual essas mulheres só irão descobrir a beleza do mundo quando escaparem da prisão imposta (e autoimposta) dos religiosos abusivos.

A presença de August (Ben Whishaw), professor da comunidade e único homem capaz de compreender o drama destas mulheres, é um contraponto à conclusão instantânea de que nenhum deles estaria as apoiando. Ciente de seu privilégio, ele mostra os perigos de deixar os meninos entrando na adolescência sem a consciência necessária de suas forças e seus poderes dentro do patriarcado. Aos mais jovens, a educação é ainda mais necessária para que eles não repitam os mesmos erros de seus ancestrais. Dentro de uma realidade obscura, há esperança no futuro que elas tanto desejam.

A urgência imposta pela resolução de seus destinos, com apenas 24 horas para tomar uma decisão definitiva, torna o longa de Sarah Polley tão intrigante quanto sufocante. Há uma sensação de desgraça iminente que percorre os quase 120 minutos de Entre Mulheres, e a angústia apenas aumenta enquanto a adaptação toma tempo para fazer a audiência se afeiçoar cada vez mais a estas personagens.

Entre Mulheres é um drama forte que acabou ofuscado na corrida pelo Oscar por filmes de grande orçamento ou forte apelo popular. Fosse uma edição disputada por longas considerados “padrão Hollywood”, talvez o longa estivesse mais presente na boca do público.

Assista abaixo ao trailer oficial de Entre Mulheres:

Rooney Mara em Entre Mulheres

Entre Mulheres

Veja trailer em português do longa indicado a dois Oscars

Cartaz de Entre Mulheres

Entre Mulheres

Drama
14

Direção

Sarah Polley

Produção

Plan B

Onde assistir

Cinemas

Elenco

Rooney Mara
Claire Foy
Jessie Buckley
Frances McDormand
Ben Whishaw
Sheila McCarthy
Judith Ivey
Michelle McLeod
Kate Hallett
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André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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