(Foto: Divulgação/Netflix)
O streaming pode ser casa, mas não pode ser o berço dos filmes que querem marcar época
Em tempos nos quais a Netflix tenta provar que ainda é relevante para o cinema, Jay Kelly chega primeiro às telonas antes de estrear na plataforma em 5 de dezembro. E essa janela deixa claro o problema: um drama desse calibre nasce para ser visto nos cinemas. A experiência coletiva, a grandiosidade da projeção e o respiro dos longos planos criam um impacto que simplesmente não encontra espaço no catálogo da gigante do streaming.
Colocar filmes assim direto na Netflix faz com que eles desapareçam no meio de dezenas de lançamentos semanais. Jay Kelly é justamente o tipo de obra que expõe como a empresa ainda prejudica a indústria ao privar dramas autorais de seu potencial máximo no circuito tradicional. Se a empresa realmente quer liderar Hollywood, precisa dar aos seus projetos mais ambiciosos a chance de brilhar nas salas de cinema.
No centro da história está o astro Jay Kelly (George Clooney), acompanhado de seu dedicado empresário Ron (Adam Sandler), em uma jornada pela Europa que mistura nostalgia, fragilidade e um olhar profundo para o peso das escolhas feitas ao longo da vida.
George Clooney está em uma de suas melhores atuações em anos. Ele domina cada cena com presença e vulnerabilidade, entregando um trabalho digno de indicação ao Oscar 2026.
George Clooney em cena de Jay Kelly
A direção de Noah Baumbach também merece destaque. Ele filma a jornada dos protagonistas com ritmo preciso e atenção absoluta aos personagens. A cinematografia é exuberante, com luz e enquadramentos que valorizam monumentos europeus e transformam memórias em poesia visual. É um dos trabalhos visuais mais marcantes de 2025.
O roteiro encontra força nos flashbacks, que quebram a linearidade de forma inteligente e emocional. As memórias revelam camadas do protagonista, costuram sua relação com o empresário e reforçam o peso das renúncias que moldaram sua carreira. A montagem alterna passado e presente com fluidez, criando um retrato maduro de fama, legado e desconexão.
Jay Kelly funciona não apenas como drama, mas como reflexão sobre o impacto da indústria no próprio cinema. O longa pede tela grande, pede plateia, pede projeção. É um recado claro: o streaming pode ser casa, mas não pode ser o berço dos filmes que querem marcar época.
Para quem se importa com cinema, Jay Kelly merece ser visto nas telonas. A estreia na Netflix será só mais um lançamento no catálogo, mas nos cinemas o filme se transforma em evento. E é exatamente isso que Hollywood precisa.
Assista abaixo ao trailer de Jay Kelly:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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