Divulgação/Max
Mountainhead conta com a mente por trás de Succession (2018-2023) e o humor de Steve Carell
Poucos minutos de Mountainhead bastam para deixar claro: Jesse Armstrong ainda domina como ninguém a arte de cutucar o topo da pirâmide social. O criador de Succession (2018-2023) volta ao ataque com um filme tão ácido quanto a série que o consagrou, mas em outro formato. A sátira lançada pela HBO e disponível na Max aposta em um olhar debochado sobre os super-ricos, desta vez, mergulhados no caos de uma crise global e cercados pela ilusão de controle que a tecnologia promete.
No longa, Steve Carell vive um bilionário paranoico que se isola em busca de tranquilidade, ou talvez lucro, enquanto o mundo desaba. Com ele, outros três magnatas discutem planos, teorias e oportunidades. Em vez de questionarem o que levou ao colapso, eles disputam quem consegue tirar mais vantagem da confusão. A ironia é clara: nem mesmo o apocalipse parece abalar a ganância dessas figuras.
Diferentemente de Succession, onde o drama familiar sustentava o roteiro ao longo de várias temporadas, Mountainhead condensa toda sua crítica em menos de duas horas. E talvez por isso seja ainda mais direto. O texto da HBO é seco, cortante, com diálogos que oscilam entre o cômico e o grotesco. É impossível não lembrar de personagens como Lukas Matsson (Alexander Skarsgård) ou Roman Roy (Kieran Culkin) quando os protagonistas se engalfinham em disputas de ego enquanto ignoram o mundo real.
A inteligência artificial, presente como pano de fundo da história, reforça a sensação de desconexão. Fake news, deepfakes e algoritmos manipulados são tratados com naturalidade, quase como parte do kit de sobrevivência de quem tem bilhões na conta. Nada mais atual. Afinal, do lado de fora da ficção, ferramentas como a Veo 3, do Google, já são capazes de criar vídeos hiper-realistas a partir de texto e confundem até quem assiste com atenção.
Nesse cenário, Mountainhead não oferece soluções nem esperanças. O filme da HBO não se preocupa em redimir seus personagens, muito menos em acalmar o público. Ao contrário: a ideia parece ser justamente provocar desconforto. Mostrar que, mesmo diante do colapso, quem detém o poder continua operando sob a lógica do lucro, da estética e da autopromoção.
Steve Carell, conhecido tanto pelo humor quanto pela intensidade dramática, encontra aqui um ponto de equilíbrio raro. Seu personagem não grita nem lidera: observa, manipula e ri. E esse riso, em um filme que nunca entrega o absurdo de bandeja, é o que mais assusta. Armstrong prova mais uma vez que a comédia, quando bem escrita, pode ser o mais eficiente dos espelhos.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É o foca da equipe e cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
Ver mais conteúdos de Victor CierroTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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