(Foto: Divulgação/HBO.)
Ao lançar episódios semanalmente até 21 de dezembro, a série permite que o público acompanhe essa construção pouco a pouco
O primeiro episódio de I Love LA já está disponível na HBO Max, mas a sensação ao assistir vai além da empolgação por uma estreia. A série chega em um momento em que comédias realmente boas se tornaram raridade no streaming. Nos últimos anos, plataformas priorizaram dramas, thrillers e produções de alto orçamento, deixando a comédia em segundo plano. Para quem cresceu acompanhando sitcoms semanais, a experiência de procurar por algo leve e realmente bem escrito se tornou cada vez mais difícil.
A ausência não é apenas de quantidade, mas de consistência. Muitas comédias atuais chegam sem tempo para se desenvolver, e quando começam a encontrar seu tom, já estão na mira dos cancelamentos. Um dos exemplos mais sentidos é How I Met Your Father, que na segunda temporada finalmente havia encontrado ritmo, dinâmica entre personagens e um humor mais natural. O carisma de Hilary Duff sustentava a série, que parecia pronta para amadurecer. O cancelamento precoce interrompeu essa evolução, deixando a impressão de que a comédia não teve a chance de mostrar o que poderia se tornar.
Enquanto isso, o que permanece forte no gênero vem de catálogos que já tinham base sólida antes da era do streaming. O Disney+, por exemplo, depende de duas produções que nem são originais suas: It’s Always Sunny in Philadelphia, da FX, e Abbott Elementary, da Hulu. Ambas mostram que comédias funcionam melhor quando têm tempo para crescer, testar, errar e aprimorar personagens. São séries onde o humor não é fabricado rapidamente, mas construído com identidade.
Nesse contexto, I Love LA chama atenção justamente por apostar em algo que muita comédia atual abandona cedo demais: personalidade. Criada e estrelada por Rachel Sennott, a série não tenta agradar todo mundo, não suaviza situações e não transforma seus personagens em caricaturas. Há humor, mas também autocrítica, desconforto, ansiedade e ambição. O riso vem de reconhecer o caos de viver em uma cidade que promete tudo e devolve pouco.
O cenário de Los Angeles não está ali apenas como pano de fundo, mas como um personagem que influencia decisões, inseguranças e relacionamentos. A série trabalha com um tipo de humor que entende a rotina de quem vive tentando equilibrar vida social, carreira, imagem pública e afeto. É uma comédia que nasce do cotidiano, e não de piadas fáceis ou situações artificiais. Esse é um ponto que diferencia as comédias que ficam das que desaparecem rapidamente do catálogo.
Ao lançar episódios semanalmente até 21 de dezembro, I Love LA permite que o público acompanhe essa construção pouco a pouco. Esse ritmo também dialoga com a tradição das comédias que conquistam audiência com tempo, familiaridade e vínculo com personagens. É o oposto da lógica do binge de estreia, que muitas vezes apaga a discussão antes mesmo dela começar. Aqui, há espaço para acompanhar a curva emocional da temporada em tempo real.
Se I Love LA vai se tornar referência ou apenas mais uma aposta é algo que ainda depende de como o público e a crítica irão reagir ao longo das próximas semanas. Mas o que já se percebe desde o primeiro episódio é que a série chega para preencher um vazio real, num momento em que o streaming parece ter esquecido como a comédia pode ser importante. Não apenas para rir, mas para reconhecer quem somos dentro desse caos que chamamos de vida moderna.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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