(Foto: Divulgação/HBO)
No fim, Frankenstein é um filme sobre ser visto, ser amado e ser lembrado, graças a Guillermo del Toro
Jacob Elordi vive um momento raro em Hollywood: o de um ator jovem que, em vez de apenas surfar na popularidade, decide colocar sua carreira em risco para provar até onde pode ir. Em Frankenstein, novo filme de Guillermo del Toro que estreia na Netflix em 7 de novembro (após passagem limitada pelos cinemas), ele faz exatamente isso e supera expectativas. Como a Criatura criada por Victor Frankenstein (Oscar Isaac), o astro entrega a atuação mais intensa, sensível e fisicamente exigente de sua carreira até agora.
A adaptação dirigida por del Toro parte do romance clássico de Mary Shelley, de 1818, mas assume um tom profundamente pessoal. O diretor sempre disse que essa história era uma espécie de obsessão em sua trajetória, um mito que acompanhou sua vida por décadas, quase como uma crença íntima. Aqui, ele resgata o horror, a ternura e a condenação que sempre estiveram no centro da obra original e entrega a Jacob Elordi o papel que carrega o coração do filme. A Criatura é o eixo emocional, filosófico e humano dessa história.
A performance de Jacob Elordi é um exercício absoluto de presença corporal. Sem depender de diálogos longos ou explosões dramáticas tradicionais, ele comunica dor, desorientação, inocência e fúria apenas com o olhar, a respiração e o modo como ocupa o espaço. Seu corpo é o texto. A criatura que ele constrói não é uma caricatura monstruosa, mas um ser feito de memória, rejeição e desejo. Alguém que nasceu sem pedir e que, desde então, tenta entender por que existe. É devastador de assistir.
Guillermo del Toro revelou em entrevista ao Letterboxd que Jacob Elordi foi “um dos melhores atores” com quem ele já trabalhou. E isso não soa exagerado. Trata-se de um papel historicamente difícil, marcado por décadas de interpretações icônicas em teatro, cinema e TV. Ainda assim, o jovem encontra um caminho próprio, um entre-lugar entre o trágico e o humano. Não há sentimentalismo, nem espetáculo fácil. O que existe é entrega. Ele atua com todo o corpo, mas também com silêncio, com ausência, com ferida.
Jacob Elordi em cena de Frankestein
(Foto: Divulgação/Netflix)
Ao redor dele, o filme constrói seu mundo com peso e estilo. Victor Frankenstein, interpretado por Oscar Isaac, é um cientista brilhante e egocêntrico, incapaz de lidar com a consequência de seu próprio ato. Sua busca por vida resulta em dor e essa dor ganha forma na criatura. Mia Goth também se destaca, hipnotizando a tela com um carisma enigmático que reforça a atmosfera densa do filme. Mas, mesmo com atuações fortes, é Elordi quem define o tom emocional da obra.
A estética criada por del Toro é exuberante e carregada de cor, longe das adaptações pálidas ou “de época” que costumam acompanhar histórias do século 19. Mas, apesar da beleza visual e do peso dramático, Frankenstein não é um filme isento de falhas. Sua duração de 2h29 às vezes se estende mais do que deveria, prolongando cenas que poderiam ser mais diretas, enquanto o final acelera de maneira abrupta. Ainda assim, o impacto emocional permanece — muito por causa do que Elordi constrói em cena.
No fim, Frankenstein é um filme sobre ser visto, ser amado e ser lembrado. E Jacob Elordi faz da Criatura alguém impossível de esquecer. Sua atuação coloca uma nova etapa em sua carreira. Ele não é mais promessa, não mais revelação, mas sim de um ator que sabe o que quer e que tem algo a dizer. Quando o filme chegar à Netflix, é provável que esse seja o elemento que mais vai ficar com o público: o rosto, o corpo e o silêncio da Criatura pedindo, desesperadamente, para existir.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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