Fábio Rebelo/Paramount+
Jéssica Barbosa foi do céu ao inferno durante as filmagens de Vai Dar Nada. Com um papel de destaque, a atriz foi vítima de racismo
Jéssica Barbosa foi do céu ao inferno durante as filmagens de Vai Dar Nada, primeiro longa original brasileiro do Paramount+. Feliz com a oportunidade de ter uma personagem de destaque em uma produção tão importante, ela foi vítima de racismo em Porto Alegre (RS), onde o filme de Jorge Furtado e Guel Arraes foi rodado.
Em conversa exclusiva com a Tangerina, a atriz revela que essa situação complicada faz mais parte da rotina dos negros no Brasil do que qualquer um gostaria. “Por isso é importante um filme como o Vai Dar Nada, que tem eu, o Cauê [Campos], a Kizi [Vaz]. Tem atores negros, tem a questão racial, mas não é aquele lugar cheio de dedos para cumprir uma cota de representatividade. Porque aí fica engessado e não é de verdade”, aponta.
“Talvez por isso, quando chegamos em Porto Alegre, hospedados em um hotel chique, andando de BMW para cima e para baixo, sendo muito bem tratados pela equipe, nós nos chocamos com o racismo local. Porque estávamos vivendo uma situação que não era de verdade e, de repente, nos deparamos com a realidade do nosso país, com o baque de que Porto Alegre é uma cidade extremamente racista em que nos deparamos com racismo até no hotel”, desabafa Jéssica Barbosa.
A artista acredita que a representatividade no cinema e na TV precisa ir além do que é visto nas telas. “Sabemos que o cinema é majoritariamente branco. Mas as estruturas precisam ser modificadas. A transformação real não é só na dramaturgia, mas no jeito que se trata o ator, no valor do cachê, na comida que servem, se no final das filmagens convidam a equipe toda para a festa de encerramento. É sobre isso. Ainda temos muita luta pela frente.”
Vai Dar Nada chama a atenção por transformar contraventores em mocinhos. Mas Rebeca, a personagem de Jéssica Barbosa, é um ponto fora da curva. Enquanto o irmão, Kelson (Cauê Campos), é um ladrão de carros que tenta se dar bem a qualquer custo, a mocinha é apenas uma estudante de Direito que quer pagar as contas, sustentar a casa e fazer a coisa certa.
A atriz, porém, é rápida para apontar que Rebeca não é tão perfeitinha assim. Afinal, ela se apaixona pelo golpista Fernando (Rafael Infante), dono de um desmanche, casado com Suzi (Katiuscia Canoro) e grande vilão da história. “Quando a Rebeca chegou para mim, com essas características, isso me gerou uma questão: ‘Gente, por que ela se envolve com esse cara?’. Uma mulher dessa idade, já na faculdade, de periferia, ela não é uma virgem inocente, não é a mocinha da novela. Então eu coloquei na Rebeca uma coisa de ela ser um pouco interesseira também”, explica.
“Acho que a gente precisa parar de pensar nesses papéis de maneiras estereotipadas e às vezes meio flat [lineares], de que a personagem romântica é só boazinha e mocinha. Precisa humanizar, então a Rebeca é um pouco interesseira também. O olho dela brilha quando ela vê a vista da casa do Fernando. Ela fica ligada nas fotos da reforma do apartamento… Ela tem seu lado que não é só bom, como todo ser humano”, indica a intérprete.
Confira o trailer do filme, já disponível no Paramount+:
Vai Dar Nada
Confira o trailer da comédia nacional do Paramount+
Colaborou André Ricardo
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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