Divulgação/Crunchyroll
Pedro Alcântara, a voz do protagonista Yuta, e o diretor de dublagem Leonardo Santhos falam sobre a versão brasileira do filme, que estreia nesta sexta-feira (28)
Jujutsu Kaisen 0 chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (28) com uma história que se passa antes do anime, em exibição na Crunchyroll. A primeira temporada da série tem vozes em português no serviço, e os dubladores retornam para o longa-metragem ao lado de um novo protagonista: Yuta, interpretado por Pedro Alcântara.
A Tangerina conversou com Alcântara e com Leonardo Santhos, diretor de dublagem da primeira temporada do anime e de Jujutsu Kaisen 0, sobre as diferenças de dublar os dois trabalhos e as particularidades de se trabalhar com animações japonesas, que foram importantes para jogar luzes sobre o trabalho da dublagem no país. Confira:
Jujutsu Kaisen é um anime que já foi dublado antes da chegada do filme e, apesar de as duas obras estarem interligadas, são produtos diferentes. Quais são as diferenças do processo de dublagem de um anime em série para um filme?
Leonardo: Quanto melhor a produção, maior o retorno automático que temos, tanto para dublar quanto para dirigir. A série do Jujutsu já é incrível, na questão da animação, movimentos labiais… aí você pega isso e vai para uma produção de cinema, tudo vai para um nível muito extremo de qualidade.
Eu não cheguei a dublar o filme, mas dá para sentir que os dubladores têm uma série de informações simultâneas, seja um olhar do personagem, sabe, uma informação que você consegue ver o olhar do cara e o que ele quer passar, além da referência do áudio original. Chega a se aproximar de trabalhos em filmes live-action, que você têm atores em vez da animação. E a gente não está falando de animação 3D, nas quais vemos expressões mais reais, mas sim de uma animação mais tradicional, feita à mão.
Jujutsu Kaisen tem lutas, personagens carismáticos e poderes sobrenaturais
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A qualidade é extremamente boa, então na questão da direção, não muda muito por conta de vários atores já conhecerem os personagens, embora o filme se passe antes da série. Eles já eram familiarizados com esses personagens. Embora alguns tenham traços diferentes (de personalidade), tudo está ali simples para eles. No caso do Pedrinho (Alcântara), que fez um personagem novo, acho que você pode falar um pouco dessa sensação do personagem, que eu considero que ficou excelente na sua voz.
Tangerina: Minha pergunta é justamente indo para esse lado. O Yuta é um personagem inédito para quem acompanha a série dublada até aqui, mas ele está ligado com o que veio antes. Como foi trazer essa experiência e estar ao lado de dubladores já familiarizados com seus personagens?
Pedro: Eu já conhecia Jujutsu por conta de amigos e colegas de trabalho que tinham participado da dublagem, mas ainda não tinha assistido ao anime. Estava me programando para ver e ainda não tinha parado para ver. Quando o Leo falou que eu ia dublar, eu vi que precisava assistir. Achei incrível.
Quando fui dublar, já conhecia aquele universo, os conceitos básicos, e o Leo me guiou super bem para entender as emoções do Yuta da maneira mais fiel possível ao original e, como o Leo disse, como a animação do anime e do filme é muito bonita, muito bem feita, é muito fácil a imersão na obra. Foi muito divertido, apesar de ser um anime sombrio. Foi uma jornada bem interessante passar a fazer parte desse universo.
Yuta é o protagonista do filme Jujutsu Kaisen 0
Reprodução/Sony Pictures
Tangerina: O que você achou do personagem em si?
O Yuta é um personagem muito gentil, ele quer muito o bem das pessoas ao redor dele, e isso muitas vezes acaba sendo um problema pra ele, porque ele é complexado. Ele acha que causa problemas para quem está por perto. É um conflito que eu acho legal, pois na ficção sempre rende histórias interessantes: alguém que quer fazer o bem mas acha que não consegue. Daí, o principal inimigo que ele tem que enfrentar é a si mesmo.
Eu me identifiquei com o personagem, apesar de não ter nenhuma maldição na minha vida, ou assim espero (risos), achei muito legal a curva de desenvolvimento dele. Acho que o público vai gostar bastante também.
Tangerina: O mercado de anime foi muito importante para a dublagem brasileira, e ajudou a jogar luz nos dubladores e para a profissão. Como vocês veem esse trabalho e quais as particularidades de dublar um anime em relação a outras obras?
Leonardo: Sim. Para mim, e para o Pedrinho, nós assistimos anime há muito tempo, não temos muita estranheza porque o anime tem um aspecto diferente, além do traço. Há trejeitos que são completamente diferentes, a interpretação do japonês é completamente diferente. Ao mesmo tempo que eles trabalham sutilezas em certos momentos, coisas minimalistas, eles dão um salto para o extremo que, no live action, seria um absurdo.
Estava até comentando outro dia, em uma produção que dublei, era uma cena estática de um cara dando um soco em outro personagem. Era uma cena estática, e um soco sendo transferido, você só ouve um ruído, mas a cena do soco era (faz vários grunhidos). E se você não fizer o que a cena pede, vai ficar estranho, vai ficar uma cena vazia.
Quando crianças, Yuta e Rika prometeram se casar, mas algo trágico acontece
Reprodução/Sony Pictures
Então, é interessante no anime, não só nos trejeitos de personagens diferentes, nos estereótipos do personagem mais esquentado e do mais sereno, é bom ver essas nuances porque é uma mídia diferente.
Sou louco por desenho animado desde que era criança. Eu gostava de anime, mas não sabia o que era, porque pra mim era tudo desenho. Uns com sangue, outros mais fofinhos, mas era desenho (risos). Mas foi tão orgânico pra mim, fui assistindo, que tudo acaba sendo mais natural para entender.
Às vezes a gente vê um dublador experiente que vai dublar um anime e às vezes não entende: “Por quê ele está sendo grosso? Por quê está sendo arrogante?” Mas não, ele só tem um aspecto mais pesado…
Pedro: É o jeitinho dele (risos).
Leonardo: É! Eu não falo japonês, embora entenda algumas palavras, mas entendo o tom do que é passado, e isso é muito importante. Às vezes você vê personagens mais infantilizados que nem sempre podem ser feitos por uma criança. Às vezes você vê um personagem de 15 anos cheio de músculos (risos). Você precisa ter uma noção do que é, porque é uma mídia diferente, e pede uma interpretação única, como o teatro ou o cinema pedem. São diferentes. Não é uma ciência exata, mas você precisa ter sensibilidade para entender o que está passando ali.
A dublagem é isso: você faz o que a imagem pede. O áudio que a gente escuta é para ser um guia, mas a imagem é o que a gente tem que trabalhar em cima. Ninguém vai ouvir o áudio original e a dublagem em cima.
O instrutor Satoru Gojo é um dos feiticeiros mais fortes (senão o mais forte) do universo de Jujutsu Kaisen
Reprodução/Crunchyroll
Pedro: Cruz credo! (risos). Eu concordo com tudo o que o Leo falou e acrescento algumas coisas. Cada trabalho apresenta algum desafio diferente, mas os desafios que os animes apresentam faz a gente evoluir enquanto profissional porque uma coisa muito importante da dublagem é transpor a melodia do original para o português, e muitas vezes o jeito com o qual os atores japoneses interpretam aquela ideia acaba sendo distante pra gente.
Se conseguirmos passar a mesma ideia com a mesma energia, aprendemos a fazer do jeito certo, além do fato de que a forma com que o público de anime lida com dublagem é uma coisa muito intensa, e sempre é um lembrete muito legal para os profissionais da área da importância do nosso trabalho. Acho que torna esse trabalho diferente, acho que a gente vai ter cuidado com anime porque a gente sabe que o pessoal tá prestando muita atenção com aquele tipo de trabalho, e se a gente tem cuidado com anime, tem cuidado com qualquer tipo de trabalho. Acho que o anime faz a gente crescer como profissional.
Leonardo: E é difícil. Para o Pedro e pra mim, acho que é mais fácil, porque estamos mais acostumados. E você vê nuances não só na interpretação mas no ritmo da trama. Você tem ótimos pontos de terror, que vão desde um sorriso macabro do personagem até vir um monstro e dilacerar todo mundo, Você tem todos os pontos e isso só enriquece a trama e o produto.
Bruno Silva
Editor de games e animes na Tangerina, Bruno Silva é brasiliense e fã de basquete. Jornalista, apresentador e streamer, foi co-criador do The Enemy e já publicou no Omelete, Nerdbunker, Metrópoles e Correio Braziliense.
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