Divulgação/Netflix
Produzida por David Fincher, House of Cards fez história no streaming e recebeu 56 indicações ao Emmy; série completa 10 anos nesta quarta (1º)
Com sete vitórias no Emmy entre 56 indicações, House of Cards (2013-2018) tem o seu nome no panteão das maiores séries dos Estados Unidos e mudou a trajetória da Netflix dentro da indústria. O que deveria ser uma história de sucesso, no entanto, foi do céu ao inferno com escândalos envolvendo o protagonista Kevin Spacey.
House of Cards completa 10 anos de sua estreia na Netflix nesta quarta-feira (1º), data que poder ser considerada um marco para a indústria do streaming. Encabeçada por dois grandes nomes de Hollywood, a atração provou que as plataformas digitais poderiam render frutos sem precisar do apoio de estúdios cedendo alguns de seus principais produtos.
Primeiro grande projeto roteirizado do serviço de streaming, House of Cards iniciou a sua trajetória dando logo um pontapé na porta de Hollywood. Em sua primeira temporada, a atração criada por Beau Willimon (Andor) e produzida por David Fincher (Mindhunter) recebeu nove indicações ao Emmy 2013, incluindo as categorias de melhor série, melhor ator (Spacey) e melhor atriz (Robin Wright).
A estreia no Emmy não trouxe a estatueta dourada mais cobiçada, mas House of Cards saiu com três vitórias em uma época na qual títulos como Mad Men (2007-2015), Homeland (2011-2020), Breaking Bad (2008-2013) e Game of Thrones (2011-2019) protagonizavam as premiações da indústria. Por se tratar de uma produção do streaming, que no início dos anos 2010 ainda engatinhava (e enfrentava a desconfiança da indústria), o feito da atração foi ainda mais relevante.
Robin Wright em cena de House of Cards
Divulgação/Netflix
A repercussão entre os assinantes da plataforma também foi extremamente positiva. O público se apaixonou pelo jeito sedutor e malandro de Frank Underwood (Spacey), político corrupto dos Estados Unidos que quebrava a chamada quarta parede para conversar com o espectador e explicar como funciona o mecanismo podre da política norte-americana.
Ao longo de cinco temporadas, os fãs vibraram enquanto Frank cometia assassinatos, forjava escândalos e pavimentava o seu caminho rumo ao Salão Oval da Casa Branca. Ao se tornar presidente dos Estados Unidos, o protagonista abusou das mais perversas falcatruas para se manter no poder e tirar do jogo aqueles que queriam derrubá-lo.
Como só com um protagonista carismático não se faz uma boa série, Beau Willimon enriqueceu o seu entorno com coadjuvantes tão ou mais interessantes quanto Frank. A principal delas era Claire (Robin Wright), mulher do político corrupto que agia como sua aliada nas maiores armações desde o início. Dentro da política, seu braço direito era Doug Stamper (Michael Kelly), um faz-tudo que foi de assessor a um dos principais cargos da Casa Branca.
Embora não tenha sido a primeira série original de um serviço de streaming, House of Cards foi a primeira a ganhar o status de fenômeno. O tamanho de seu sucesso ajudou a estabelecer a Netflix como grande produtora de conteúdo e abriu o caminho para as chegadas de Orange Is The New Black (2013-2019), Hemlock Grove (2013-2015) e o revival de Arrested Development (2003-2006; 2013-2019).
Michael Kelly era Doug Stamper em House of Cards
Divulgação/Netflix
Embora o legado de House of Cards para a Netflix tenha sido monumental, o fim de sua jornada foi caótico e deprimente. No início das gravações da sexta temporada, em outubro de 2017, o ator Anthony Rapp foi a público acusar Kevin Spacey de tê-lo assediado sexualmente quando tinha apenas 14 anos. A declaração caiu como uma bomba nos bastidores da série e deu início a efeito dominó que culminou na demissão de seu principal astro.
Após a declaração de Rapp, mais de 30 pessoas acusaram Spacey com relatos que vão de assédio a tentativa de estupro. Em 2017, vários ex-alunos do teatro Old Vic, em Londres, no qual o astro atuou como diretor artístico entre 2004 e 2015, o acusaram de manter comportamento abusivo e inapropriado com jovens abaixo de 18 anos.
As alegações provocaram uma enxurrada de ações, já que várias entidades de Hollywood buscaram se distanciar do ator. A Netflix, o ex-agente de Spacey, seu assessor e a indústria em geral se afastaram dele, e o astro foi definitivamente demitido de House of Cards após vários membros da equipe o acusarem de promover comportamento inapropriado no set. Spacey chegou a ser apagado do corte final de Todo o Dinheiro do Mundo, filme no qual ele teria um papel de destaque, sendo rapidamente substituído por Christopher Plummer (1929-2021) –que foi indicado ao Oscar.
Sem o protagonista, a sexta temporada de House of Cards precisou ser totalmente reescrita. Para lidar com o espaço em branco deixado pela saída de Spacey, Frank Underwood foi morto na trama e Robin Wright foi alçada a protagonista solo daquela que viria a ser a última leva de episódios da série.
Embora ainda tivesse certo prestígio na indústria, House of Cards já sofria com críticas pela queda na qualidade da atração e acabou dizendo adeus com sua sexta temporada. Robin Wright e Michael Kelly ainda receberam indicações ao Emmy por seu trabalho no último ano, mas a série chegou ao fim longe de ser o fenômeno que fora cinco temporadas antes.
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
Ver mais conteúdos de André ZulianiTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?