Divulgação/Vitrine Filmes
Em entrevista à Tangerina, Letícia Colin abre o jogo sobre a importância do lado sensual de sua personagem em A Porta ao Lado
Letícia Colin está em cartaz nos cinemas com o filme A Porta ao Lado. No longa dirigido por Júlia Rezende, ela interpreta Mari, uma chef de cozinha que tem um relacionamento bem estabelecido com Rafa (Dan Ferreira), até que um casal poligâmico se muda para o apartamento ao lado e a faz questionar tudo o que sabe sobre seu próprio desejo. A atriz mergulhou fundo na sensualidade e no erotismo que o papel exige para explorar a autonomia feminina.
Em entrevista à Tangerina, Letícia revela como o olhar de Júlia Rezende contribuiu para que o filme fugisse dos estereótipos enraizados no machismo que está entrelaçado à libido e à sexualidade da mulher na sociedade atual. “O filme traz para as nossas perspectivas muitas cenas de intimidade, sexo, mas mostra o sexo sob uma perspectiva feminina, que não está querendo provocar desejo em quem assiste, e sim revelar como é uma mulher sentindo prazer naquele momento”, comenta.
Ao conhecer o casal da porta ao lado, que se permite encarar novas aventuras e experiências amorosas, Mari se vê questionando seu futuro, seu relacionamento insosso e até a sua falta de coragem para viver as próprias vontades. O longa-metragem aborda de forma aberta e questionadora a imposição da monogamia, levando provocações ao público sobre modelos de relacionamentos determinados como os mais funcionais há centenas de anos.
“Ela [Mari] topa experimentar a vida, ouvir o desejo, ouvir o tesão. Eu sou muito apaixonada por essa personagem –sou por todas, mas essa, em especial, vive algo muito contemporâneo que é isso de pensar que alguém está enjoado, em um relacionamento muito confortável, e mesmo assim banca algo incerto, duvidoso, porque ela não sabe mais se é isso que ela quer, ela topa a dúvida também”, reforça.
Outro ponto importante de A Porta ao Lado é que a produção foge de uma possível rivalidade feminina que poderia acontecer entre as duas mulheres protagonistas do longa, Mari e Ísis (Bárbara Paz). Não reproduzir um modelo arcaico de relação entre duas mulheres foi algo propositalmente arquitetado pela diretora, roteirista e atrizes.
“Não nos interessaria fazer um filme que reafirma essas coisas caricatas e preconceituosas da rivalidade feminina, porque somos parceiras. Somos amigas, o trabalho de uma é o alimento da outra, todo mundo tem que estar brilhando para a coisa acontecer”, pontua Letícia Colin.
Para a atriz, também é importante fazer parte de produções que, de alguma maneira, tenham um papel social importante. Em determinados momentos de A Porta ao Lado, algumas discussões entre casais se excedem e colocam em dúvida um possível relacionamento abusivo.
“O Brasil está entre os países onde o número de feminicídios é um dos maiores do mundo, então isso sempre será uma forma de luta para que a gente continue viva. É um filme que toca nessa discussão, nesse alerta, [fala sobre] em qual momento vira um relacionamento tóxico, abusivo, em qual momento você está topando coisas que nunca imaginou ou que está se colocando em uma situação de vulnerabilidade, risco, frustração”, explica.
Atuar em um filme que traz para as telas temas tão relevantes é uma maneira de usar sua visiblidade para fazer a diferença na sociedade. “Esse filme aponta para um lugar em que as mulheres consigam construir cada vez mais suas vidas autônomas, incompletas e maravilhosas. Existe até hoje uma romantização do casamento, do relacionamento. Se a mulher não quer ter filhos, ela é julgada, apontada, vítima de violência social. Ao fazer cinema, estamos buscando construir um lugar melhor.”
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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