Divulgação/Apple TV+
Criadora e protagonista de Mal de Família, Sharon Horgan quer ver mais anti-heroínas na TV e está fazendo isso com estilo em sua nova série
Desde o início do século, as séries de TV têm apresentado protagonistas que se enquadram muito mais na categoria de anti-heróis do que na concepção de mocinhos perfeitos. Foi assim com Tony Soprano (James Gandolfini), de Família Soprano (1999-2007); Walter White (Bryan Cranston), de Breaking Bad (2008-2013); Don Draper (Jon Hamm), de Mad Men (2007-2015); e Dexter Morgan (Michael C. Hall), de Dexter (2006-2013; 2021-2022). Com as protagonistas femininas, porém, a situação ainda é mais idealizada. “Os executivos homens têm medo de ver mulheres com falhas na TV“, aponta Sharon Horgan, criadora e estrela da série Mal de Família, que estreou na sexta (19) no Apple TV+.
A britânica, indicada ao Emmy de melhor roteiro por seu trabalho em Catastrophe: Sem Compromisso (2015-2019), tratou de fazer o possível para reverter esse status quo em sua nova criação. Em Mal de Família, cinco irmãs assumem o protagonismo da história, todas elas cheias de defeitos e capazes de atitudes muito erradas –a começar pelo desejo que sentem de matar JP (Claes Bang), o cunhado que é a própria encarnação do mal.
Curiosamente, mesmo que todas tenham um instinto assassino, o público toma o lado das irmãs Garvey e passa a torcer para que elas sejam bem-sucedidas na execução. “Acho que você torce ainda mais por elas ao perceber que são mulheres comuns”, resume Sharon Horgan em conversa com a Tangerina. “Esse era o meu projeto desde o início, que você se identificasse com essa família, mesmo que a cada episódio elas estejam tentando matar alguém (risos).”
“Você precisa se conectar com elas e sentir que é capaz de reconhecê-las como mulheres que você encontraria na rua ou em um escritório. Apenas personagens muito identificáveis, sabe? Isso torna ainda mais empolgante vê-las na TV. Acho que mulheres de verdade têm falhas, são uma bagunça e todo o resto. E nós precisamos de mais anti-heroínas na TV, porque elas são ótimas!”, valoriza a escritora e atriz.
Eva Birthistle, que vive a enfermeira Ursula, ressalta as palavras da companheira de elenco. “Demorou tempo demais para termos pessoas normais na TV. Elas são seres humanos com falhas, como todos nós somos. Não entendo por que esperamos tanto para representá-las”, intervém. “Você não podia colocar mulheres assim na TV. Eu não entendo o que isso fazia com os executivos homens das emissoras, acho que os chateava”, completa Sharon.
Assim como em Mal de Família, Sharon Horgan tem mais quatro irmãos na vida real. Mas, ao contrário da série em que a exclusividade é feminina, a criadora dividiu sua infância com dois homens e duas mulheres. E as coincidências param por aí! Ela afirma que não se inspirou na própria história para escrever a série do Apple TV+.
“Não, não tem nada na atração que eles possam usar para me processar (risos). Mas vir de uma família grande certamente me ajudou, porque eu entendia como essas relações são afetuosas e contagiantes. Quando todas as irmãs estão juntas, é como uma festa, e isso é algo que eu consigo tirar da minha vivência. Mas não baseei nenhuma das personagens na minha família”, explica.
Já o terrível JP, alvo do plano de assassinato, é o tipo de figura que Sharon já encontrou por aí –assim como todo o elenco. “Eu morei com um cara desses. Ele era o namorado de uma amiga minha e tinha muitas das características horríveis do personagem. Era uma presença malévola, tratava minha amiga mal, era grosso com todos à sua volta”, lembra. E como ela lidou com ele, sem poder matá-lo? “Eu tive que me mudar, era o único jeito”, conta. “Não! Você tem que matá-lo! Esse sim é o único jeito”, brinca Sarah Greene, intérprete da revoltada Bibi.
Os dois primeiros episódios de Mal de Família já estão disponíveis no Apple TV+. Os outros oito capítulos serão adicionados toda sexta-feira ao catálogo do streaming. Confira o trailer da série:
Trailer de Mal de Família
Sharon Horgan (de Catastrophe) é a criadora e protagonista da série
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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