FILMES E SÉRIES

Marieta Severo e Luisa Arraes

Divulgação/Imagem Filmes

ENTREVISTA

Por filme, Marieta Severo volta à Itália após exílio e detona governo

Atriz veterana está em cartaz nos cinemas com Duetto; longa estreou nesta quinta (29) e conta com Luisa Arraes, Gabriel Leone e Giancarlo Giannini no elenco

André Zuliani

Uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, Marieta Severo sentiu um gosto diferente ao trabalhar em Duetto (2022), filme que estreou nos cinemas na quinta-feira (29). Para atuar no longa, a veterana retornou à Itália mais de cinco décadas depois do exílio autoimposto por ela e o ex-marido Chico Buarque para fugir da Ditadura Militar (1964-1984) que comandava o Brasil.

Coincidência ou não, a trama de Duetto se passa em 1965, um ano após o golpe que colocou os militares no poder. O título é um dos três filmes estrelados por Marieta –além de Aos Nossos Filhos e o ainda inédito Domingo à Noite– que estreiam nos cinemas em 2022, algo que a atriz de 75 anos considera um marco pelo momento negativo que a cultura enfrenta desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência.

Pelo pouco incentivo à arte e as constantes críticas feitas à Ancine (Agência Nacional do Cinema) por membros do governo, Marieta vê a resistência dos artistas como uma representação de força. Em entrevista exclusiva à Tangerina, ela apontou as tentativas de políticos de procurarem dificultar lançamentos de filmes como Marighella (2019) e Medida Provisória (2022) e criticou a postura.

“Para mim, o lançamento destes três filmes neste ano é um presente e tem um significado enorme. Eu acho que significa a força do nosso cinema, de nossa cultura, nossa ficção e do que nós somos. Eles [governo] tentaram, dificultaram de todas as formas possíveis. Eles tiraram todos os nossos mecanismos e acabaram com a Ancine”, pontuou a eterna dona Nenê de A Grande Família (2001-2014).

“Criaram dificuldades para Marighella, para Medida Provisória, para Aos Nossos Filhos. Dificultaram tanto que nós lançamos [Duetto] no ano em que mais estamos lutando contra a ditadura. É isso, é uma força que não se contém e eu, nesse momento da minha vida, aos 75 anos, fui presenteada. Sempre fui apaixonada pelo cinema brasileiro, sempre quis fazer parte porque tem uma simbologia. Eu faço parte [da história] do cinema brasileiro.”

O retorno à Itália também mexeu com os sentimentos de Marieta. Em 1969, quando ela e Chico Buarque se viram obrigados a ficar no país europeu por causa da perseguição dos militares, ela ainda era uma jovem de 22 anos, que estava grávida e não falava quase nada da língua local. O idioma, inclusive, serviu como uma espécie de gatilho para a atriz se recordar dos anos nos quais passou por lá.

“Poucas vezes eu tive uma personagem que ia ao encontro da minha própria história. O próprio fato de falar italiano, o som da língua e voltar para esse universo, para a forma como ele me tocava. A maneira que as lembranças vinham à mente mexeu muito comigo. Eu falo com a menina de 22 anos que acabou tendo a sua primeira filha em condições que não eram as que eu tinha preparadas no Brasil. Foi impossível não sentir isso”, contou.

Marieta Severo, Giancarlo Gianinni e Luisa Arraes

Marieta Severo, Giancarlo Giannini e Luisa Arraes em Duetto

Divulgação/Imagem Filmes

Veterana com coração de fã

Em Duetto, Marieta Severo teve a oportunidade de atuar ao lado de Giancarlo Giannini, astro do cinema italiano e ator indicado ao Oscar. Na trama, ele interpreta Gino, ex-namorado de Lúcia (Marieta) que a deixou para se casar com sua irmã, Sofia (Elisabetta de Palo).

Apesar dos mais de 60 anos de carreira, Marieta confessou ter ficado nervosa ao se ver ao lado do ícone italiano. Questionada pela reportagem sobre o momento, ela destacou que sentiu muito mais do que apenas “borboletas” dentro do estômago.

“Tinha um zoológico inteiro (risos). Eu não acreditava. Quando fui apresentada a ele, aquele típico italiano ‘empaticão’, porque ele é isso mesmo que apresenta nos filmes. Para mim foi muito incrível porque eu sempre fui muito fã dos filmes dele, muito fã do cinema italiano”, continuou.

“A minha geração é uma geração que foi criada pelo cinema italiano, né? A gente ficava esperando para assistir a um filme do [Federico] Fellini [1920-1993], e as pessoas não sabem o que era isso. Hoje em dia vocês recebem tudo, [os filmes] chegam até vocês aos montes. Para nós, a gente esperava e ficava: ‘Vem aí um novo filme do Fellini, do [Luchino] Visconti [1906-1976]. Todos os cinéfilos iam para porta do Cinema Paissandu, no Rio de Janeiro. Isso é a minha história. Tenho uma cena com ele bonita no filme e, sim, tinham muitas borboletas no estômago.”

Assista a um trecho da entrevista de Marieta Severo à Tangerina:

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QUEM FEZ

André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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