(Foto: Divulgação/Netflix)
Essa capacidade de atravessar extremos psicológicos sem perder coerência é o que faz seu trabalho parecer vivo
Frankenstein estreia nesta sexta-feira (7) na Netflix após exibição limitada nos cinemas, e um dos pontos mais comentados desde as primeiras sessões não é apenas a direção de Guillermo del Toro ou a atuação impactante de Jacob Elordi. Quem realmente solidifica sua posição como uma das figuras mais importantes do horror moderno é Mia Goth. A atriz volta a apresentar uma presença magnética, inquietante e emocionalmente densa em cena, reforçando por que seu nome se tornou sinônimo de personagens intensos, complexos e inesquecíveis.
Del Toro constrói o filme com uma atmosfera trágica e romântica, mas é Mia Goth quem adiciona o elemento humano que atravessa o espectador. Sua personagem funciona como um ponto de ancoragem emocional entre Victor Frankenstein (Oscar Isaac) e a Criatura (Jacob Elordi), trazendo nuances de afeto, medo, empatia e desejo de pertencimento. A atriz não interpreta simplesmente: ela ocupa o espaço, observa e transforma as dinâmicas ao redor dela. Sua presença é hipnótica.
A força de Mia Goth em Frankenstein não surge isolada. A atriz tem uma ligação profunda com a arte desde cedo. Ela é neta materna da veterana atriz brasileira Maria Gladys, figura importante do cinema e da televisão do Brasil. Ela chegou a viver no país quando era bebê, enquanto sua mãe buscava apoio da família. Essa herança artística, marcada por personalidades intensas e estilos de atuação visceral, ecoa claramente em sua trajetória. Há um senso de identidade, história e vulnerabilidade que atravessa sua forma de interpretar.
Nos últimos anos, ela se tornou a principal referência do horror contemporâneo. A trilogia X, de Ti West, mudou sua carreira e a indústria: Mia Goth interpretou a protagonista Maxine Minx e, simultaneamente, a antagonista Pearl em X (2022), voltando para explorar a origem da vilã em Pearl (2022), filme no qual ela também assinou o roteiro. A performance foi tão poderosa que críticos chegaram a pedir sua indicação ao Oscar. Em 2024, ela fecha o ciclo com MaXXXine, consolidando um arco de personagem raríssimo em filmes do gênero.
Mas sua trajetória não se limita a um sucesso isolado. Mia Goth vem escolhendo papéis que desafiam as expectativas do público e da crítica. Em Suspíria – A Dança do Medo (2018), de Luca Guadagnino, ela já mostrava domínio de um tipo de horror atmosférico e ritualístico. Em A Cura do Bem Estar (2016), de Gore Verbinski, revelou a habilidade de encarnar o estranho com naturalidade. E em Piscina Infinita(2023), de Brandon Cronenberg, levou o horror psicológico ao limite, entregando momentos que já entraram para o imaginário do gênero.
O diferencial de Mia Goth é como ela interpreta personagens que não se encaixam em rótulos simplificados. Ela não faz apenas vítimas ou vilãs. Suas personagens oscilam entre vulnerabilidade e brutalidade, entre fragilidade e fúria. Essa capacidade de atravessar extremos psicológicos sem perder coerência é o que faz seu trabalho parecer vivo. Goth subverte o arquétipo clássico da “final girl” e cria um novo modelo: o da mulher que enfrenta o horror de frente, mas que também pode ser a origem dele.
Em Frankenstein, essa complexidade se torna ainda mais significativa. Ao interagir com a Criatura de Elordi, sua personagem abre espaço para o filme discutir amor, rejeição e identidade. Mia Goth não precisa de grandes cenas de explosão emocional para marcar presença. Seu trabalho está na observação, no silêncio, na forma como seus olhos carregam perguntas que o roteiro não verbaliza. Ela atua com escuta, algo raro e caro no cinema de personagens tão grandes quanto os desse filme.
A estreia na Netflix deve ampliar ainda mais o alcance dessa performance. Se a passagem pelos cinemas apresentou a grandiosidade visual da obra, o streaming vai permitir que o público repare nos detalhes: nos microgestos, no ritmo da fala, na construção de tensão que Mia Goth domina como poucas atrizes hoje. Frankenstein não apenas reafirma Jacob Elordi e Oscar Isaac. Ele coloca Mia Goth onde muitos já diziam que ela estava pronta para estar: no centro do horror contemporâneo. Não como promessa, mas como referência.
Assista abaixo ao trailer oficial de Frankenstein:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
Ver mais conteúdos de Victor CierroTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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