(Foto: Divulgação/Neon)
Trama de suspense foi baseada nos eventos retratados no documentário Hotel Coolgardie
O Royal Hotel, o inquietante suspense que lidera a lista de filmes mais vistos da Netflix no Brasil nesta terça-feira (9), transporta os espectadores para um bar em uma cidade mineradora rural e isolada da Austrália, onde o terreno monótono mal permite que as mochileiras canadenses Hanna (Julia Garner) e Liv (Jessica Henwick) mantenham os olhos abertos na chegada.
O longa é uma releitura dos eventos de “Hotel Coolgardie”, um documentário de 2016, e serve como uma abordagem de gênero para o comportamento masculino tóxico –o documentário não está disponível para assistir em nenhuma plataforma no Brasil.
No filme Netflix, as protagonistas assumem empregos como garçonetes, sentindo uma desorientação palpável ao se encontrarem em um lugar desconhecido, com costumes estranhos e sem saída aparente. Hanna e Liv enfrentam clientes rudes e carentes de mulheres, que demonstram comportamento possessivo, assédio e abuso.
A diretora de O Royal Hotel, Kitty Green, utiliza o bar como um “terrário de uma dinâmica tóxica que existe em todo lugar”, a fim de aguçar a percepção do público para os menores sinais de alerta.
Embora O Royal Hotel capte a essência das mulheres que enfrentam abuso, assédio e misoginia em um bar remoto australiano, ele faz diversas alterações em relação à história real retratada no documentário Hotel Coolgardie.
1 – As circunstâncias financeiras das protagonistas, por exemplo, foram simplificadas na adaptação: no filme, Hanna e Liv buscam trabalho porque o cartão de crédito de uma delas para de funcionar misteriosamente, sem explicação. Na realidade, as mochileiras finlandesas Lina e Steph tiveram seus cartões de crédito roubados em Bali, esgotando suas economias de viagem e forçando-as a procurar emprego em Perth.
2 – A forma como as garotas chegam ao hotel também difere; o filme as leva diretamente à cidade mineradora, enquanto na história verdadeira, um agente de trabalho em Perth as conectou a um contrato de três meses em Coolgardie, e o zelador do hotel solicitava especificamente jovens funcionárias.
3 – A pessoa que as recepciona na estação de trem também muda: O Royal Hotel apresenta Carol, a cozinheira, para buscar as garotas, criando uma falsa sensação de segurança que se transforma em traição. No entanto, no documentário, Peter, o gerente do hotel, era quem pegava Steph e Lina na estação.
4 – A representação da própria cidade de Coolgardie é outra liberdade criativa do filme que está disponível na Netflix, que a descreve como um lugar deserto para intensificar a sensação de perigo e vulnerabilidade das personagens. Na realidade, Coolgardie não é tão isolada ou vazia quanto sugerido.
5 – Da mesma forma, a estética do bar no filme é mais datada e os mineiros frequentemente usam uniformes, buscando enfatizar o isolamento do local. O documentário, por outro lado, mostra um ambiente de bar mais contemporâneo e pessoas vestidas casualmente.
6 – O Royal Hotel também omite as experiências das garçonetes anteriores, dando a impressão de que elas estavam ansiosas para partir. A verdade é que as ex-funcionárias, Becky e Clio, desfrutavam da companhia dos mineiros e permaneceram em Coolgardie por um período mais longo do que o implicado no filme. Esta omissão serve para acentuar a vulnerabilidade de Hanna e Liv.
7 – Por fim, um dos elementos mais impactantes da adaptação é o destino do hotel: no filme, Liv e Hanna incendeiam o estabelecimento em um ato de retribuição simbólica contra a misoginia e o abuso. Essa escolha narrativa representa a necessidade de erradicar tais questões.
Contudo, na vida real, o Denver City Hotel ainda existe em Coolgardie, na Austrália, mas sob nova administração e sem explorar mais viajantes vulneráveis.
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