Para’í: Filme é registro real e delicado da vida dos indígenas guarani

Dirigido e escrito por Vinicius Toro, Para’í é um drama que chegou aos cinemas brasileiros nesta semana com potencial para encantar o público. A história, que gira em torno de uma garota guarani, invoca com sensibilidade as percepções da infância de uma criança indígena e, de maneira sutil, abre o debate para questões importantes sobre os povos originários brasileiros.

O longa-metragem conta a história de Pará (Monique Ramos Ara Poty Mattos), uma menina guarani que, durante um passeio, acaba encontrando um tipo de milho que nunca havia visto na vida. Encantada com as sementes coloridas, a garota quer mostrar a beleza de sua descoberta para todos os seus amigos e decide começar a cultivar o alimento. 

Sua jornada, porém, é permeada por questões pessoais. Pará se pergunta sobre quem ela é, questiona o comportamento de sua família e tenta entender o mundo que está ao seu redor. Em busca de respostas, ela vai atrás de seu avô. 

Um dos pontos fortes do longa-metragem é registrar a vida dos guaranis do jeitinho que ela é. Após a passagem do povo branco, é possível ter uma percepção de como a tradição ainda sobrevive entre eles e como a cultura se mantém viva, pelo olhar dos próprios indígenas. 

Por meio de cenas cuidadosamente inseridas no roteiro, Pará se torna uma grande representante da busca pela cultura. A pequena garota está aprendendo português e inglês, mas quer falar a língua guarani também. Seus pais frequentam a igreja evangélica, e ela tem uma dualidade de nome branco e nome indígena, mas vê em seu avô um verdadeiro resgate cultural, já que ele preserva o idioma e sequer se arrisca no português.

Tudo isso é tão sutil que chega a ser tocante. Pela perspectiva da infância, Pará abre margem para dezenas de questionamentos, contradições, dores e alegrias que permeiam sua aldeia, seu povo e sua cultura. 

Um pequeno milho colorido se fez uma metáfora simples e óbvia, de um ponto de vista infantil, mas que abre espaço para um universo a ser explorado. O filme foge totalmente de uma perspectiva militante e tenta introduzir os temas de maneira tão delicada que pode ser uma maneira de atravessar quem tem aversão ao discurso mais radical, por mais necessário que ele seja na sociedade atual (e mesmo que essa não seja, nem de longe, a intenção do filme).

Para’í estreou na semana do Dia dos Povos Indígenas e está disponível nos cinemas nacionais.  Assista ao trailer:

Para'í

Trailer oficial