FILMES E SÉRIES

O diretor Ian SBF, do Porta dos Fundos

Reprodução/YouTube

IAN SBF

Criador do Porta dos Fundos nunca quis fazer comédia: ‘Não sou disso’

Diretor Ian SBF chega aos cinemas com a ficção científica Ciclo, que aproveita a pandemia para criar futuro distópico; confira entrevista exclusiva

Luciano Guaraldo

Dos criadores do Porta dos Fundos, o discreto Ian SBF sempre foi um ponto fora da curva. Enquanto Fabio Porchat, Gregorio Duvivier e Antonio Tabet já viviam do humor, e João Vicente de Castro marcava presença nas páginas de fofoca por causa de seu casamento com Cleo, o diretor e roteirista fugia dos holofotes. Ele, aliás, sequer pensava em trabalhar com o riso. “Nunca quis fazer comédia, não sou muito disso”, resume.

O fato de a comédia ter sido um “desvio de rota” fica claro quando se analisa o início da carreira de Ian SBF (que fez uma sigla com os sobrenomes Samarão Brandão Fernandes para criar seu nome artístico). Curtas como O Lobinho Nunca Mente (2007) e 15 Minutos de Tolerância (2008), apesar de contarem com Porchat na equipe, passam longe do riso. O poético Entre Abelhas (2015), descrito como comédia dramática, chega a arrancar lágrimas de quem o vê. “Eu gosto mesmo é do fantástico, de um lugar mais doido, da ficção científica”, conta ele em conversa exclusiva com a Tangerina.

Por isso, depois de investir no sci-fi com o curta Arzok (2019), o diretor dos esquetes do Porta dos Fundos vai chegar aos cinemas com Ciclo, que deve fazer sua estreia no circuito comercial ainda no primeiro semestre –depois de ser exibido com sucesso no ano passado no Festival do Rio, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e na CCXP22.

O longa se passa em um futuro distópico em que as pessoas vivem sozinhas em bunkers –o que era para ser uma solução de moradia improvisada durante a pandemia acabou se tornando permanente. A comunicação é restrita aos telefones ou a porta de vidros que separam cada “apartamento”. E o isolamento faz com que os personagens passem a duvidar da própria sanidade.

A sinopse é séria –e até incômoda diante da crise que o mundo enfrentou tão recentemente–, mas SBF entende que as pessoas possam associar Ciclo a risadas fáceis, dado o seu histórico particular. “É claro, faz todo o sentido. Eu, particularmente, fiquei conhecido pela comédia, mas nunca quis fazer comédia. Sempre quis fazer outras coisas. Acabei indo para a comédia e acho que, de alguma maneira, aprendi a fazer. Talvez já tivesse alguma coisa [do humor] em mim também, mas não me sinto comediante”, aponta.

Ele ressalta que, justamente por não se considerar engraçado nem uma celebridade, às vezes se vê como deslocado do resto da trupe do Porta dos Fundos. “É muito complicado, não sei, tem momentos em que eu não consigo me ver no grupo. Eu vejo o pessoal fazendo graça, tirando foto [com os fãs], e falo: ‘Ih, gente, isso não é para mim, não sou disso’. Apesar de viver disso também, né?”, provoca Ian SBF.

No elenco de Ciclo, liderado por Felipe Abib, chama a atenção a presença de outro nome comumente ligado ao humor, Daniel Furlan (do Choque de Cultura). Ele, por acaso, acabou trazendo mais leveza ao projeto. “É isso, eu nunca consigo deixar a comédia totalmente de lado. Acho que Ciclo era o meu filme que menos tinha isso, mas quando o Furlan entrou passou a ter muito mais (risos). E eu agradeço, porque funcionou muito! Mas sempre acaba vindo alguma coisinha, não tem como evitar”, reconhece o diretor.

O próprio Daniel Furlan conta à reportagem que se surpreendeu ao ver como o público encontrou a comédia em momentos que não havia imaginado. “Ciclo não é de forma alguma um filme cômico, o meu personagem também não é, mas ele tem uma graça ali. Quando a gente foi para o Festival do Rio, tinha uma cena em que eu estava dando tudo de mim, dramaticamente, e algumas pessoas começaram a rir na sala. A vontade que deu foi de levantar e falar: ‘Não, galera, é sério!’ (risos)”, lembra.

“Acho que, no fim, deu para encontrar um equilíbrio bom”, continua o ator. “Inclusive, era uma ideia que eu sempre trocava com o Ian. [Eu falava:] ‘Cuidado, porque às vezes a minha intuição é a de tentar fazer alguma palhaçada. Não sei até que ponto é bom deixar rolar e até que ponto você precisa me segurar um pouco’. Mas ficou no ponto certo, eu acho.”

Confira o trailer de Ciclo:

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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