(Foto: Divulgação/Universal Pictures)
Mesmo duas décadas depois, o filme segue como um estudo de personagem raro no cinema americano
Lançado em 29 de outubro de 2004, Ray chegou aos cinemas com a proposta de recontar a vida de Ray Charles, uma das maiores lendas da música soul. A expectativa era alta, mas ninguém imaginava que o filme transformaria para sempre a carreira de Jamie Foxx. Além de assumir um papel biográfico extremamente complexo, o ator precisou mergulhar na linguagem corporal, no timbre e no temperamento do músico. Um desafio que poucos encarariam com tanta precisão.
A produção acompanha o cantor desde sua infância marcada por tragédias, incluindo a morte do irmão e a perda gradual da visão, até sua ascensão no jazz e no rhythm and blues. Foxx não apenas interpretou Ray Charles: ele recriou o artista em cena. Da postura no piano à maneira de rir e conversar, o trabalho foi tão meticuloso que emocionou até quem conviveu com o músico. Há relatos de pessoas da equipe que esqueceram que estavam diante de um ator.
O impacto da performance foi imediato. Jamie Foxx se tornou o terceiro ator negro da história a vencer o Oscar de Melhor Ator, feito confirmado na cerimônia de 2005, após Sidney Poitier e Denzel Washington. Mas o reconhecimento não parou aí. Ele varreu a temporada de premiações com vitórias no Globo de Ouro, BAFTA, Screen Actors Guild Awards e Critics’ Choice, algo raro mesmo entre grandes estrelas de Hollywood. No mesmo ano, ele ainda foi indicado por Colateral como ator coadjuvante, mostrando versatilidade em duas pontas completamente diferentes.
A curiosidade é que Ray estava prestes a ganhar um toque emocional a mais. O próprio Ray Charles pretendia assistir ao filme na estreia, mas morreu meses antes, em junho de 2004, vítima de complicações de doença hepática. A ausência do músico no lançamento deu outro peso à obra: ela se tornou, de certa forma, uma despedida e uma homenagem definitiva a seu legado.
A resposta da crítica e do público comprovou a força da biografia. Ray tem 79% de aprovação no Rotten Tomatoes entre críticos e 87% entre o público, números que permanecem estáveis ao longo do tempo, sinal de que a obra envelheceu bem. O filme também é lembrado por mostrar sem suavizar os conflitos pessoais do cantor, como o uso de drogas e as relações complicadas enquanto viajava em turnê.
Mesmo duas décadas depois, Ray segue como um estudo de personagem raro no cinema americano. A performance de Foxx não é apenas imitativa: ela transmite humanidade, contradições e fragilidade. Tanto que, até hoje, quando o nome do ator é citado, este é o papel que vem imediatamente à mente do público, mesmo com sua carreira marcada por sucessos posteriores no drama, na comédia e na ação.
Com 21 anos completados, Ray permanece como um dos melhores exemplos de cinebiografia e uma aula de atuação. É o tipo de filme que não apenas conta a história de um artista histórico, mas também redefine o rumo de quem o interpreta. E para Jamie Foxx, nada foi igual depois dali. O longa está disponível on demand. Assista abaixo ao trailer:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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