Divulgação/Assessoria Rodrigo Teixeira
Rodrigo Teixeira conversou com a Tangerina para falar sobre cinema, política e o seu mais novo filme, Armageddon Time
Brasileiro renomado no mercado norte-americano, Rodrigo Teixeira possui um currículo invejável. Nascido no Rio de Janeiro, o produtor de 49 anos trabalhou em títulos aclamados como Me Chame Pelo Seu Nome (2017), A Bruxa (2015) e Frances Ha (2012) e retornou ao seu país natal para divulgar o seu mais novo filme, Armageddon Time (2022), longa dirigido por James Gray e com fortes chances de aparecer entre os indicados ao Oscar 2023.
Amante da sétima arte, Teixeira também esteve envolvido em grandes sucessos lançados no Brasil. Através da RT Features, o produtor carioca atuou por trás de títulos como A Vida Invisível (2019), longa com Fernanda Montenegro que buscou uma chance no Oscar 2020, e O Animal Cordial (2017), estrelado por Murilo Benício e considerado um dos melhores suspenses nacionais dos últimos anos.
Com tanta experiência no mercado cinematográfico, Rodrigo Teixeira vê a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência como uma vitória para o cinema e a cultura brasileira. Crítico do governo capitaneado por Jair Bolsonaro, o produtor entende que a indústria nacional só tem a ganhar com a nova administração.
“No Brasil, nós conhecemos o que o governo [de Lula] faz a favor da cultura e apreciamos. Não porque tiramos qualquer tipo de vantagem, mas porque é um governo inteligente e que usa a cultura para educar. É a educação da verdade com base, não é a educação da mentira. Não é com fake news que você cria um povo. Isso apenas deseduca e cria maluco”, diz Teixeira em entrevista exclusiva à Tangerina.
Na visão do produtor, o retorno de Lula como presidente marca a volta da valorização de todas as culturas do povo brasileiro. Ele acredita que a nova administração será focada não apenas na educação, mas irá priorizar também o incentivo à leitura, à exposição e à produção de arte. Um investimento que visa tapar os buracos que surgiram com o sucateamento realizado pelo governo anterior.
Apesar da clara diferença entre as visões de Lula e Bolsonaro sobre valorização da cultura, Teixeira aponta a pandemia de Covid-19 como o principal fator das dificuldades enfrentadas pela classe artística nos últimos anos. Para ele, o estrago feito pela crise sanitária afetou diretamente a maneira como se faz cinema no país.
“Precisamos investir em cultura, e esse governo [Lula] investe. Então, assim, o estrago feito pelo governo anterior existe, só que esse estrago ficou maior por causa de uma pandemia. A crise sanitária não é responsabilidade de ninguém no mundo, apesar de este governo [Bolsonaro] não ter lutado para baixar o número de mortes. No entanto, eu acredito que o que está vindo por aí vai ser bom para nós e vamos entrar em uma fase bacana”, completa Teixeira, que classifica a nova fase da política brasileira como a “fase da verdade”.
“Nós precisamos da verdade e de um pouco de alegria. Hoje nós vemos trevas, mas não precisamos mais pensar se este governo vai voltar. Você não precisa mais entrar no carro e pensar em quem o motorista votou. Já passou, vamos viver a vida. Vamos aproveitar e ver você ser feliz.”
Banks Repeta e Anthony Hopkins em cena de Armageddon Time
Divulgação/Universal Pictures
Com exceção de nomes como Wagner Moura, Alice Braga e Bruna Marquezine, cujos talentos na frente das câmeras colocaram o Brasil no radar de Hollywood, Rodrigo Teixeira é o principal expoente do país nos bastidores da indústria. Há anos trabalhando como produtor nos Estados Unidos, ele vê o cinema independente como a mesma coisa em todas os mercados do mundo.
Segundo Teixeira, sua única participação em um filme considerado de Hollywood foi em Ad Astra: Rumo às Estrelas (2019), longa estrelado por Brad Pitt e que marcou a sua primeira parceira com James Gray antes de Armageddon Time. Por causa disso, ele se vê como um produtor cuja paixão permanece com o cinema independente –ou seja, títulos de baixo orçamento e sem as cifras estratosféricas dos grandes estúdios.
“Cinema independente é igual em todo lugar do mundo. Hollywood é que é diferente. Hollywood é quando você passa de US$ 20 milhões [R$ 106 milhões] de orçamento, aí você tem um outro tipo de cinema. Um cinema mais industrial. Quando você vai apresentar um trailer, você apresenta para 20 pessoas, há uma decisão profissional de trailer e o envolvimento de um profissional de marketing. Aí você entende o que é Hollywood”, explica.
“Hollywood é muito diferente de produzir para o cinema independente. Lá você tem uma indústria por trás, tem uma empresa por trás que está te financiando. Nesta empresa tem milhões de pessoas participando das decisões. Eu produzi para Hollywood uma única vez na vida. Todos os meus filmes foram produzidos de maneira independente, mas tiveram estúdios fazendo a distribuição e o marketing.”
No caso de Armageddon Time, Teixeira contou à reportagem que se encantou pela ideia de James Gray muito antes de ler um roteiro. Fã do trabalho do cineasta, ele pagou para que o diretor escrevesse o texto do longa ao ouvir apenas um pitaco da trama.
A aposta no roteiro de Armageddon Time veio com a ideia de Gray de fazer uma produção semibiográfica. A trama do longa é livremente inspirada em sua vida pessoal, retratando a sua juventude nos anos 1980, durante um período turbulento da política e da sociedade norte-americana.
“Ele me apresentou a ideia e eu paguei para ele [Gray] escrever o roteiro. O roteiro já é fruto do nosso trabalho em conjunto, nós já temos uma relação de confiança porque trabalhamos juntos em Ad Astra. Eu sou fã do trabalho dele, então eu consigo me despir um pouco da carne de produtor para ‘vestir’ a de espectador. Eu disse: ‘Cara, como espectador, eu quero assistir ao seu filme, então vou apostar no seu roteiro e pagar para você escrever essa história’. E foi assim durante dois anos até o roteiro chegar”, conta Teixeira.
O novo fruto da parceria entre produtor e diretor estreou nos cinemas na quinta (10). Armageddon Time conta com Anne Hathaway, Jeremy Strong e Anthony Hopkins em seu elenco.
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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