Divulgação/Focus Features
Com seis indicações ao Oscar 2023, inclusive melhor filme, direção, atriz e roteiro original, longa estreia nos cinemas nesta quinta-feira (26)
Cate Blanchett é uma das grandes atrizes da história do cinema. Vencedora de dois Oscars, a atriz de 53 anos tem um currículo cheio de grandes produções, de modo que fica difícil apontar qual é a melhor performance de sua carreira. Entretanto, essa dúvida pode finalmente ser colocada à prova com o seu trabalho em Tár.
Com seis indicações ao Oscar 2023, Tár marcou a sétima nomeação da carreira de Cate, incluindo as duas nas quais sagrou-se vencedora. Dirigido por Todd Field (Pecados Íntimos), o longa conta com uma exibição da atriz australiana que pode ser considerada uma aula de atuação para quem busca, um dia, também marcar o seu nome no maior prêmio de Hollywood.
Na trama, Cate interpreta Lydia Tár, a primeira mulher a liderar a icônica Orquestra de Berlim e uma das grandes compositoras-regentes vivas. Respeitada por muitos, ela tem em seu currículo trabalhos como maestrina nas principais orquestras do mundo e é professora de Cultura na Universidade de Julliard, em Nova York.
É possível dizer que Tár, dentro do universo cinematográfico, é um exemplo de construção de personagem. Do alto de seu pedestal, Lydia vê o mundo a seus pés da maneira que o conquistou. Independentemente do machismo que assola a sociedade, ela se enxerga como uma vitoriosa que superou a tudo e a todos na base de seu talento.
Ela é apaixonada, exigente, autocrática, com prestígio de um astro do rock e um estilo de vida itinerante internacional próximo ao dos grandes astros do cinema. Lydia também é casada com sua primeira violinista, Sharon (Nina Hoss), com quem compartilha uma filha.
Apesar da vida perfeita, há problemas no cotidiano da maestrina. Ela dirige um programa de bolsas de mentoria para mulheres, administrado pelo aspirante a maestro e parceiro de longa data –e um tanto invejoso– Eliot (Mark Strong). Há rumores de que a iniciativa se trata de uma fonte de jovens com quem Tár tem casos. Sua assistente, Francesca (Noémie Merlant), que também sonha em ser regente, parece ser outra ex-aprendiz com a qual Lydia mantém uma corda emocional, além de estar sendo perseguida por uma ex-aluna que, aparentemente, ficou obcecada por ela.
Cate Blanchett como Lydia Tár
Divulgação/Focus Features
Enquanto se prepara para fazer a apresentação de sua vida, a jornada da maestro vira um caos. Problemas em sua orquestra a levam a precisar demitir seu braço direito e optar por uma nova assistente, enquanto a ex-aluna obcecada traz problemas com os quais ela jamais imaginou ter que lidar. Soma-se a isso uma crise em seu casamento causada por sua atração por uma nova violoncelista, e Lydia vê seu paraíso começar a se transformar em um inferno.
Conduzido brilhantemente por Field, Tár é um filme sobre como um ego pode crescer demais e se transformar em manipulação quando um papel recebe muito crédito em um campo colaborativo. A protagonista vivida por Cate Blanchett comete todos os abusos e o conservadorismo dos quais mulheres do mundo todo tentam há anos se livrar, mas a maestrina aproveita de sua posição de poder para reger sua orquestra –e todos à sua volta– da maneira que bem entender.
É difícil imaginar alguém realizar um trabalho tão competente na pele da regente quanto a atriz. Favoritíssima ao Oscar, Cate entrega a Lydia a ambição e os desejos necessários para entregar uma das melhores performances dos últimos anos. A atriz domina todas as suas cenas, seja em uma simples entrevista na qual esbanja seu conhecimento musical ou em discussões acaloradas com alunos em uma sala de aula. Há ainda diálogos em alemão enquanto lidera a orquestra, nas quais é capaz de fazer o espectador sair de seu corpo e pensar que está assistindo de fato a um ensaio, e não a um filme.
Tár dialoga essencialmente sobre o momento atual da sociedade e com a luta de movimentos como o #MeToo e a famigerada cultura do cancelamento, mas raramente de uma forma que pareça uma polêmica ou um tapinha nas costas. Ele tenta responder à pergunta: “Devemos separar a arte do artista?”, mas nunca com a pretensão de entregar uma resposta definitiva.
Com mais de duas horas e meia de duração, o longa sofre com a falta de ritmo e a busca por conteúdo para completar lacunas que, no fim, não precisavam estar ali. Seja nas cenas nas quais Lydia apenas sofre com insônia ou tem problemas com vizinhos, há uma sensação constante de que, perto de seu último ato, o longa poderia ser mais objetivo na história que queria contar.
Tár pode não ser o filme a sair empilhando estatuetas no Oscar 2023, mas é definitivamente uma das grandes produções da temporada. No caso de Cate Blanchett, é possível cravar que será lembrado para sempre como um dos maiores –senão o maior– trabalhos de sua carreira.
Tár
Trailer legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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